Babe Ruth se desfaz no Japão

Prestes a completar 100 anos, o Jingu Baseball Stadium será demolido para dar lugar a um complexo esportivo de lazer em Tóquio. O projeto prevê que “um novo estádio de beisebol será construído no local do Prince Chichibu Memorial Rugby Stadium” e que “um hotel será construído atrás do home plate [de onde os rebatedores tentam acertar a bola], transformando o Jingu Stadium em um novo local que oferecerá atividades além do beisebol”. O problema é que os fãs de beisebol acham que a memória de Babe Ruth será demolida junto com o estádio.

O maior astro da história do beisebol jogou no Jingu Stadium durante uma turnê de jogadores americanos pelo Japão, em 1934. “É um dos únicos estádios de beisebol restantes onde Babe Ruth jogou, tornando-se um lugar notável na história do beisebol mundial”, diz um abaixo-assinado contra a destruição da estrutura. Restarão apenas o Fenway Park, em Boston, e o Wrigley Field, em Chicago, entre os estádios que receberam Ruth no Estados Unidos, e o Koshien Stadium, em Kobe, Japão.

Os responsáveis pelo projeto de revitalização do distrito de Jingu Gaien dizem que o estádio não pode ser reformado ou reconstruído porque sua área precisa ser ampliada, por questões de segurança. Isso não seria possível no local onde ele foi erguido, porque a região está cercada por rodovias.

O poeta e samurai Matsuo Bashô escreveu 300 anos antes da construção do Jingu Stadium o seguinte haicai:

“A cerejeira velha
em flor —
memórias do passado”

Uma outra tradução o apresenta assim em português:

“Quantas memórias
me trazem à mente
Cerejeiras em flor”

É esse o sentimento que os fás de Ruth pretendem preservar. É bonito. Entrei no clima e escrevi um para os saudosistas do Jingu Baseball Stadium:

“Babe Ruth
a história do beisebol
morre no Japão”

Esse dilema se impôs recentemente no Brasil, é inevitável. O tobogã do Pacaembu deveria ser extinto? E a geral do Maracanã, por que se foi? O Palestra Itália deu lugar ao Allianz Parque, e assim por diante. Os padrões de segurança e conforto mudam. É importante preservar o que for possível, mas as lembranças permanecem e podem ser preservadas de outra forma, por museus e registros escritos e visuais.

“A fotografia adquire um pouco da dignidade que lhe falta quando deixa de ser uma reprodução do real e nos mostra coisas que não existem mais”, diz Proust em À Sombra das Raparigas em Flor (Editora Globo), o segundo volume de Em Busca do Tempo Perdido. Fica o consolo para os fãs de Babe Ruth.