Ricardo Stuckert / PR via Flickré bem possível que Lula e Fernando Haddad, durante reuniões sobre o debate da meta fiscal, tenham se sentido estimulados a parodiar Keynes

Descuido com o fiscal indica que Lula não pensa na reeleição?

É bem possível que a decisão de gastar não sustente uma situação de bem-estar e o projeto de legado faça água na segunda metade do governo
26.04.24

“No longo prazo, todos estaremos mortos.” A frase, do economista britânico John Maynard Keynes, foi escrita em 1923, com a Europa saindo da Primeira Guerra, e defendia uma ação urgente do Estado para ajudar a organizar a vida de pessoas que se encontravam em situação muito precária.

Um século depois, é bem possível que Lula e Fernando Haddad, durante reuniões sobre o debate da meta fiscal, tenham se sentido estimulados a parodiar Keynes e dizerem, diante da decisão de não mais obter o equilíbrio fiscal até 2026, que, no “longo prazo, todos estaremos sem mandato”. Muda-se do “gasto é vida”, outra frase eternizada, mas dessa vez pela ex-presidente Dilma Rousseff, para o “gasta-se enquanto há vida”, citação que ainda espera um pai.

Lula tem sido muito transparente sobre suas intenções em relação à administração do país. Quer construir um legado de crescimento e bem-estar e, movido por uma enorme intuição, quer chegar lá por um caminho autoral, ignorando limites e lições que sequer vêm de livros de Economia, mas da dura experiência de fracassos recentes da história brasileira.

Como, a esta altura do campeonato, é impossível não saber onde esse caminho vai dar, pode-se imaginar que, muito mais do que cálculos econômicos, Lula faz uma conta de tempo político, coisa das mais comuns na política brasileira. Gastar e crescer para chegar em boas condições na próxima eleição, como inúmeros governadores e prefeitos fazem em todos os lugares, e deixar a conta para ser paga em um segundo mandato ou na gestão do sucessor.

A questão, no entanto, é que há muito tempo até 2026 e o país já vive um sério déficit de confiança na autoridade econômica, em razão exatamente de os agentes econômicos, empresários e consumidores, terem a memória fresca do que aconteceu na crise de 2015/2016, quando a economia do país caiu quase a mesma proporção do que despencou no primeiro ano da pandemia da Covid. Ou seja, é bem possível que a decisão de gastar não sustente uma situação de bem-estar e o projeto de legado faça água na segunda metade do governo.

Um indicador nesse sentido é a reação quase em tempo real do mercado – queda da Bolsa e valorização do dólar – às declarações de Lula e o problema de credibilidade da autoridade econômica quando o assunto é desempenho fiscal. Pesquisa recente do instituto Quaest com operadores mostrou que quase 100% não acredita que o governo cumprirá o que promete nesse campo.

Para complicar, ainda há outras três variáveis importantes. Primeiro, os juros nos EUA estão demorando a cair, Lula pode indicar uma pessoa da sua influência para suceder Campos Neto no Banco Central – que tem servido como âncora de expectativas do mercado – no final do ano e a força do novo arcabouço fiscal foi muito minada após o Congresso aprovar uma gambiarra para poder aumentar gastos por meio de uma emenda em um projeto que previa o retorno da cobrança do DPVAT, praticamente sem discussão. Difícil imaginar uma conjuntura mais ameaçadora.

Na prática, a leitura dos relatórios de projeção do PIB para 2024 afirma que o crescimento deste ano viria do aumento do consumo e do investimento que, por sua vez, seriam estimulados pela queda da taxa de juros. No entanto, isso não vai acontecer. Nos últimos dias, os bancos têm aumentado a projeção dos juros de 9%, em média, para patamares em torno de 10,5%.

O aumento da renda dos trabalhadores e a perspectiva de investimento público, além de crédito direcionado para públicos específicos, é a aposta do governo para sustentar crescimento, além de engenharias regulatórias no campo do crédito. Juros abaixados na marra só em 2025. Essa situação será suficiente para garantir o “espetáculo do crescimento”, sem que o cenário mais amplo melhore?

A pressão fiscal que, vindo originalmente do governo, inspira também Congresso e Judiciário a fazerem o mesmo, cria uma situação ameaçadora que pode estourar antes mesmo das eleições. Por exemplo, há gente no mercado achando que é impossível o governo não fazer um forte ajuste depois das eleições municipais. Mas e se não fizer?

O fato é que não se sabe quanto “curto prazo” o governo tem antes da coisa se decidir. Talvez o cenário mais provável seja o país continuar andando de lado (e essa pode ser a boa notícia). A aposta de Lula é arriscada e tem ares de “tudo ou nada”, algo típico de quem não liga realmente para o os eventos futuros, o que leva à especulação de que talvez ele não pense mesmo em 2026 e já tenha decidido usar tudo o que puder agora e deixar a agenda negativa de ajustes para outros. Será?

 

Leonardo Barreto é cientista político e diretor da VectorRelgov.com.br

 

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  1. É, pois é, eles cômicamente se auto intitulam de """"progressistas"""".... ou seja, roubam o erário, roubando o POVO BRASILEIRO, achacam empresas (q tb s/ vergonhas entram no jogo de acordo c/ conveniências do momento), implantam ambientes de verdadeira orgia nas universidades, fazem gambiarras na Economia, vivem de maracutaias políticas visando eleições p/ projeto de poder, mentem, falsificam, fraudam, fazem acordos espúrios c/ grupos terroristas como as FARC, insuflam invasões de terras....

    1. Por hora sem enumerar a lista sobre a horda do bandido antecessor. VÊ SE TOMA TENTO, ELEITOR BRASILEIRO!!!!!!

    2. Isso sem contar os "apoios incondicionais" aos crápulas internacionais de todo naipe, que passaram a se chamar """"mediação"""" e, aos malditos ditadores que """precisam ser vistos """com carinho""" """",como grunhe o chefe deles!!!! Mas é só o resumo dos grunhidos dele e da sua quadrilha de pares subespécie!!!! Senão levaria meses pra enumerar. Observaram só no que se transformou a inscrição em NOSSA BANDEIRA, a antiga ☆☆☆☆☆ ORDEM E PROGRESSO ☆☆☆☆☆????

    3. Ah, e claro, baderna e invasôes de TERRAS DA UNIÃO, DAS PROPRIEDADES PRIVADAS E ATÉ DE LABORATÓRIOS E ÁREAS DE PESQUISAS CIENTÍFICAS passaram a se chamar """"ordem"""".

    4. ....mandam matar """cumpanhêros""" q ameaçam denunciá-los, infestam a máquina pública de parasitas, cometem mais inumeráveis eteceteras de todo gênero e chamam esse festival de crimes, contravenções e ilicitudes generalizadas de """"progressismo"""" (!!!!!!!!), palavra q antigamente significava 'evolução' e da qual se apropriaram para subverter e reverter o sentido!!!! Aliás, """"apropriação"""" é a vocação e o forte deles!!!! O crime agora se chama """"progresso""""!!!!!! É mole ou quer mais?!!

  2. Por um lado é uma alegria imaginar o fim do reinado LULE. O PT terá muita dificuldade de encontrar um substituto, pelo menos não vemos nenhum nome, ainda que Janja já esteja fazendo sua pré-campanha.

  3. Ditadores não precisam de eleições ou simplesmente as controlam como bem querem diante da ignorância do canbelau e da omissão dos demais pôdres poderes submissos de quatro à ditadura a troco de emendas enfiadas "ventrem supra" da manezada que deve até o fundo das calçolas.

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