Negacionismo está na moda, o mundo aplaudiu
11.08.23Vocês se lembram de como a gente se sentia moralmente superior no governo anterior? Víamos o presidente oferecer cloroquina até para as emas do Palácio da Alvorada e dizíamos “mas que imbecil total, ainda bem que nenhum de nós votou nesse traste”. Nos revoltávamos com o descaso diante da oferta de vacinas da Pfizer num dos períodos em que a pandemia matava mais. Ríamos dos conspiracionistas e oligofrênicos de chapéu de alumínio na cabeça — real ou metafórico — insistindo que a vacina não só era ineficaz contra a Covid como matava, apesar das abundantes evidências em contrário (alguns, aliás, insistem até hoje). E, sobretudo, enchíamos o peito para gritar “viva a ciência!”, um grito cheio de autossatisfação por não sermos como todos esses cretinos aí.
Pois é: mudam-se os tempos, mudam-se as vontades. Pouco mais de sete meses de governo Lula já demonstraram que há um negacionismo do bem, um negacionismo fofinho, até zen: algo na linha “amigo, para com essa coisa de querer ‘comprovação científica’ para tudo, só relaxa e deixa a vida te levar (vida, leva eu)”. Quem acompanha a economia brasileira já sabia que os governos do PT costumam ter altos teores de negacionismo econômico: agora mesmo, Lula 3 está cheio de unicampers que acreditam que a tal “nova matriz econômica” — aquela que na gestão Dilma Rousseff afundou o Brasil na sua maior recessão em décadas — foi injustiçada e tem de ser repetida, porque agora, sim, vai dar certo.
O chato é que a tendência (em português moderno, trend) não se restringe à economia: aquele grito de guerra do primeiro parágrafo se transformou em “viva a ciência, mas veja bem, nem sempre, às vezes é preciso partir para uma abordagem mais holística, respeitando os saberes ancestrais” etc. O exemplo mais recente, é claro, foi Sua Lulidade sancionando a lei que autoriza a ozonioterapia, outro “tratamento” que nos rendeu muitas risadas durante os anos bolsonaristas, apesar da oposição de especialistas e entidades médicas. E aqui não resisto ao contrafactual: acredito que, se tivéssemos tido um governo petista durante a pandemia, ele faria coisas como rejeitar a oferta da Pfizer — Big Pharma, multinacional, capitalistona e tal — porque “precisamos valorizar a produção nacional de vacinas” (e a vacina 100% brazuca sairia seis anos depois).
“E não é só isso!”, como diria aquela propaganda da Polishop: agora temos no cardápio negacionismo ambiental também. Presente à recente Cúpula da Amazônia, Alexandre Silveira, o ministro de Minas e Energia de Lula, contestou os estudos do IPCC (o painel climático da ONU) que dizem que, para o mundo ficar dentro da meta de aquecimento global do Acordo de Paris — no máximo, 1,5°C até o ano 2100 —, é preciso não haver nenhum novo projeto de exploração de petróleo. Muito atualizado sobre o tema, Silveira citou um “estudo da Agência Internacional de Energia”, órgão que na verdade concorda com as conclusões do IPCC. Sabem como é: quando o pessoal está louquinho para explorar petróleo na foz do Amazonas, esse negócio de ciência só serve mesmo para encher o saco.
Só sei que, nos últimos dias, não me sai da cabeça aquela marchinha do finado Chacrinha que seria canceladaça hoje, “Maria Sapatão”: quando penso no verso “o sapatão está na moda, o mundo aplaudiu”, substituo mentalmente o sapatão por “negacionismo”. Não consigo evitar, é mais forte do que eu. Talvez porque Lula, no fundo, seja um presidente chacriniano que não veio para explicar, e sim para confundir; talvez porque o Bananão continue merecendo o Troféu Abacaxi.
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A GOIABICE DA SEMANA
Eu achava que, nesta semana, nada conseguiria bater o jornalista brasileiro que, na Copa do Mundo feminina, perguntou à goleira sueca Zecira Musovic, craque do jogo em que sua seleção eliminou os EUA, se ela “conhecia o Ibrahimovic”, o que está no mesmo (e altíssimo) nível de idiotice de perguntar à Marta se ela conhece o Neymar. Mas a genialidade bolsonarista chegou atropelando: descobriu-se que assessores do ex-presidente deixaram na lixeira, sem apagar definitivamente, 17 mil e-mails que a CPMI do 8 de Janeiro resgatou. Foi numa dessas mensagens que se descobriu a tentativa de Mauro Cid (foto) de vender por US$ 60 mil o Rolex recebido por Jair Bolsonaro numa viagem à Arábia Saudita. O bolsonarismo é isso aí — uma espécie de Michael Phelps da burrice.
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Excelente artigo. É pra guardar, emoldurar e esfregar na cara dos passa panos lulistas. Tudo fica mais limpo quando passamos pano para o ídolo de preferência, né?
Pena que não podemos copiar para emoldurar...
O importante é mudar pra continuar td como está. Já tomei uma decisão, não voto mais, é pura perda de tempo. Já fui crítico ferrenho da anulação do voto tmb, mas entendi finalmente, não tem quem se salve, nem minimamente. O resultado é sempre o mesmo, tubo de ozônio ou cloroquina no nosso r4b0 enquanto as nossas carteiras são tungadas. A saída pra nós, no fim, é Franco Montoro, o aeroporto no caso.
Você escreveu há menos de 24 horas, mas já tem atualização: parece que (primeiro) venderam as joias e (depois) recompraram para entregar ao TCU.
Nenhuma novidade voltaremos a ser ridículas amebas e no Brasil isto é a praxe e não por acaso uma quadrilha sem cérebro domina o puteiro Brazylis.
Nós somos onde as moscas pousam...
Com toda certeza… podem mudar as moscas mas elas continuam sendo moscas.
Adorei essa nova definição para os inteligentinhos “unicampers”. No mais fiquei em dúvida se o texto era para rir ou chorar. Pobre brasileira que sou ☹️☹️
Boa análise, mas não me inclua , pelo anor de Deus, nesta sua primeira pessoa do plural dos primeiros parágrafos. Ou em outras palavras, não me inclua na sua bolha Folha/Vila Madalena/esquerda “limpinha”. Estou fora; estou muito fora!
Para um presidente que odeia ler, tem azia, e ainda por cima, egocêntrico, como será o seu ministério? Um desastre!!!
Gostaria que tratassem o Descondenado com ozonioterapia aplicada com um tubo de 2 polegadas diretamente no rabo dele.
👏🏼👏🏼👏🏼👏🏼👏🏼 dispensando as tais letras…