REUTERS/Agustin Marcarian e Matias BagliettoMontagem dos pré-candidatos presidenciais: no sentido horário, Bullrich, Massa, Milei e Rodriguez Larreta

Na Argentina só há incertezas

Primárias das eleições gerais ocorrem no domingo (13); acirrada, disputa à Presidência está entre quatro candidatos, dois deles da mesma coalizão
11.08.23

No domingo, 13 de agosto, a Argentina terá primárias para as eleições gerais deste ano. Esse tipo de pleito, inexistente no Brasil, é uma realidade na Argentina desde 2011. As chamadas Primárias Abertas, Simultâneas e Obrigatórias (PASO) servem de prelúdio para o primeiro turno geral, marcado para 22 de outubro. O voto é obrigatório para todos os eleitores argentinos. Os candidatos mais bem votados de cada legenda avançam para o primeiro turno.

A disputa pela Presidência está concentrada em três forças, segundo a média das pesquisas eleitorais agregadas pelo site La Política Online. A coalizão de centro-direita do ex-presidente Mauricio Macri, Juntos por El Cambio, lidera a corrida, mas pulveriza os seus pouco mais de 30% de intenções de voto em dois candidatos. A situação kirchnerista, apesar do caos econômico, tem como principal nome o ministro da Economia, Sergio Massa, e ele concentra sozinho 25% das intenções. O populista de direita radical Javier Milei completa o pódio, com quase 20%.

As primárias deveriam diminuir as incertezas sobre as eleições, mas esse pode não ser o caso neste ano. “Acredito que não sairemos deste processo com mais clareza do que quando entramos”, diz o cientista político argentino Julio Burdman. O motivo é a ampla oferta de candidatos e os perfis que transpõem as barreiras partidárias, em especial os dois candidatos do Juntos por El Cambio. Na coalizão de Macri, Horacio Rodríguez Larreta, chefe de governo da cidade de Buenos Aires, é moderado e defende o diálogo com a atual base governista. Já Patricia Bullrich, ex-ministra da Segurança Pública, tende ao enfrentamento e alimenta a polarização ideológica. Ela é a preferida de Macri.

Ambos, Larreta e Bullrich, estão na casa dos 15% das intenções de voto. Para Burdman, quem se sagrar vitorioso nessa coalizão terá dificuldades para herdar os votos do outro: “Pode haver voto cruzado. Se Bullrich ganhar, parte do eleitorado de Larreta pode ir para a situação”. Outra possível fonte de voto cruzado são os mais de 5% de intenções de candidatos radicais do peronismo, que devem perder para Massa nas primárias da situação.

Com a aceleração do declínio da economia nos últimos meses, a Argentina não pode se dar ao luxo de incertezas na política. Além dos problemas crônicos de má gestão do Estado, com alto déficit público e baixo estímulo à produtividade da economia formal, uma seca na safra de 2022/23 custou 20 bilhões de dólares em exportações perdidas. Segundo a agência internacional de qualificação de risco Moody’s, a seca impulsionou uma perspectiva de contração de 1,5% do PIB argentino em 2023. O Estado não possui quase nenhuma reserva internacional de moedas fortes, como o dólar. Assim, a inflação acumulada dos últimos 12 meses chegou a 115,6% em junho, recorde em três décadas.

Na semana passada, a Argentina esteve a um dia de dar calote em uma dívida de 700 milhões de dólares com o FMI. O governo argentino foi salvo por um empréstimo de última hora do Catar. Se o conselho do Fundo não aprovar um recém-firmado acordo preliminar para adiar os vencimentos para depois das eleições, a Argentina deverá pagar mais 920 milhões de dólares até meados de setembro, em plena campanha do primeiro turno.

O momento de crise econômica deveria levar a uma vitória tranquila da oposição. Entretanto, a situação venceu em oito das 14 eleições provinciais que já foram realizadas neste ano. A coalizão de Macri levou apenas quatro unidades federativas, e o partido de Milei, nenhuma. Uma razão para a fraqueza da oposição é a falta de diálogo, representada nas primárias pela beligerância de Bullrich, endossada por Macri. “A incapacidade da oposição de dialogar dificulta a formação de coalizões efetivas”, diz Eduardo Galvão, cientista político do Ibmec. A oposição se pulveriza ainda mais com a presença do populismo barato de Milei, que vende a abolição do Banco Central como resposta para a crise.

No caso das eleições presidenciais, a sobriedade do ministro da Economia também ajuda a situação a se manter competitiva. Embora Massa tenha feito carreira na política — foi presidente da Câmara de 2019 até o ano passado —, ele é visto como uma figura técnica. E, assim como Larreta no Juntos Por El Cambio, o ministro está mais ao centro e defende o diálogo com a oposição. Massa chegou a romper com o kirchnerismo em 2008, mas voltou no atual governo. Alguns resultados pontuais na contenção da inflação em 2022 e na criação de postos de trabalho formal ajudam a sua campanha e embaralham a disputa presidencial.

A única certeza na Argentina é que o país não sairá da crise. Pelo menos a
curto ou médio prazo.

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  1. Bicho… depois que eu abri a matéria e dei de cara com as fotos dos 4, nem li a reportagem. O que começa bem muitas vezes acaba mal, imagina o que começa de forma medonha? Pé de pato mangalô treis veis‼️😨

  2. Não há incertezas na América LaTINDo e nada mais certo que a comuno-bolivarização da região sob governos ladrões incompetentes, corruptos ou assassinos e já no caos moral e financeiro a Argentina agoniza e qualquer que elejam presidente não pode impedir o debacle do país fermentado pelo peronismo ladrão e pela direita assassina MAS o Brasil terá desfecho diferente pois haverá luta fratricida com o esfacelamento e secessão em 4 países e o Nordeste ânus do país único comunista inevitável e fatal.

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