ReproduçãoAlcolumbre, Bivar e Waldez Góes, da esquerda para a direita

O que quer o Desunião Brasil

Partido que surgiu na esteira do bolsonarismo tornou-se o fiel da balança do governo Lula, com capacidade de impor derrotas ao Palácio do Planalto
16.06.23

Quando, em outubro de 2021, Luciano Bivar e ACM Neto, então presidentes das legendas de direita PSL e DEM, resolveram unir forças para instituir uma megaestrutura partidária, com uma bancada inicial de 82 deputados e oito senadores, não fazia parte de nenhum roteiro a hipótese de que o partido que nasceu dessa fusão – o União Brasil – em menos de dois anos se tornaria o fiel da balança na busca do governo Lula por uma base no Congresso.

Mas esse é o enredo que se desenrola neste momento.

Os 59 deputados do União Brasil compõem a terceira maior bancada da Câmara, atrás de PL e PT. No Senado, são oito parlamentares. Os dois grupos podem ser decisivos na aprovação ou arquivamento de projetos importantes para o Planalto. O problema é que o partido se divide em facções, a ponto de ser chamado de Desunião Brasil.

Nesta semana, o partido fechou questão em torno da indicação do deputado federal Celso Sabino (PA) para substituir Daniela do Waguinho à frente do  Ministério do Turismo. A esposa do prefeito de Belford Roxo, o Waguinho, está de saída do União, rumo ao Republicanos.

Ao contrário do que esperava o governo, contudo, o consenso interno quanto ao nome de Sabino não deve se refletir no placar das votações. Nas palavras de um importante articulador político do Congresso, foi “autoengano petista” imaginar que a mudança no Ministério do Turismo garantiria a Lula ao menos 40 votos em momentos cruciais. A realidade permanece inalterada: nenhum líder dentro da sigla é capaz de aglutinar todos os interesses dos parlamentares do partido.

Segundo líderes partidários ouvidos por Crusoé, o União Brasil nasceu com um pecado original. “Quis servir a Deus e ao Diabo”, nas palavras de um importante líder da sigla.

O partido é presidido por Luciano Bivar (PE), deputado experiente e que nunca escondeu sua admiração por Lula. Por trás das principais negociações envolvendo Bivar, está a figura do vice-presidente da sigla, Antônio Rueda, outro lulista de carteirinha.

A liderança da sigla na Câmara é de Elmar Nascimento (BA) alinhado em seu estado com ACM Neto, que disputa poder com o PT baiano, mas também bate continência para o presidente da Câmara Arthur Lira.

Nessa esteira, ainda existem deputados alinhados ao presidente da CCJ do Senado, Davi Alcolumbre – que conseguiu emplacar no Ministério da Integração Nacional o seu correligionário Waldez Góes.

Outro grupo importante no União reúne bolsonaristas como Felipe Francischini (PR) e antipetistas como o ex-juiz Sergio Moro e o deputado Kim Kataguiri (SP).

Finalmente, há o grupo dos “nem, nem, nem”. Eles votam de acordo com suas convicções e interesses regionais, sem dar muita satisfação a Bivar ou a Elmar. O governador de Goiás Ronaldo Caiado é o principal expoente dessa falange, que tem nomes oriundos do DEM e ligados ao agronegócio.

Assim, nas contas dos principais líderes parlamentares, o União Brasil, na prática, é quatro: um partido comandando por Elmar Nascimento, capaz de  entregar entre 15 a 20 votos ao Planalto; o grupo de Bivar, que não necessariamente dialoga com o grupo de Elmar, e que poderia entregar entre10 e 15 votos ao governo federal; o grupo de Alcolumbre, estimado em outros 10 deputados; e a turma do “nem, nem, nem”, na qual cada um vota de um jeito.

Eu não vou obrigar ninguém a se suicidar“, admitiu na quarta-feira o líder Elmar sobre a possibilidade de coesão da bancada do União em prol dos interesses do Palácio do Planalto. “Quem tem legitimidade para escolher, nomear e demitir ministros é o presidente Lula. Quando e se ele achar que deve, ele vai nos chamar. Existe uma concordância entre nós e o governo de que a forma como as nomeações para ministérios aconteceram no início do mandato não foi adequada, pois não houve legitimação da bancada“, reforçou Elmar ao longo desta semana.

Eis o ponto de tensão entre deputados do União e o Palácio do Planalto. Quando Lula convidou integrantes do partido a fazer parte da Esplanada dos Ministérios, logo na transição, o presidente da República simplesmente cometeu o erro primário de apostar nos interlocutores errados em um partido que já é naturalmente dividido. E a imposição de Celso Sabino tem justamente este objetivo: mostrar ao Planalto que Lula simplesmente tem negociado com os nomes errados dentro do partido.

No momento em que destinou três pastas ao União (Integração Nacional, sob a titularidade de Waldez Góes; Comunicações, cujo titular é Juscelino Filho e Turismo, Daniela do Waguinho), Lula imaginou que iria satisfazer várias alas do partido: Alcolumbre com Integração; a ala da Câmara com Turismo e a presidência da sigla, via Bivar, com Juscelino. Deu tudo errado. Bivar não havia chancelado de fato o nome de Juscelino e Daniela do Waguinho nunca teve protagonismo junto aos colegas da Câmara.

Neste momento, Bivar e Elmar negociam fatias maiores de espaços na Esplanada dos Ministérios. Elmar quer tirar de Alcolumbre o comando da Integração Nacional e ainda luta para influir na Codevasf — Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba. 

Se isso não fosse suficiente, os deputados do União ainda querem a chamada “porteira fechada” no Ministério do Turismo – ou seja, autonomia para preencher todos os seus cargos importantes – e ainda tentam tirar da cadeira o presidente da Embratur, o neo-petista Marcelo Freixo.

O grupo de Bivar já deixou claro que gostaria também de indicar cargos de segundo e terceiros escalões em órgãos como o DNIT, na região Nordeste.

Diante de tantos interesses confusos e cobiças difusas, ninguém do União acredita que o partido irá para a base governista, qualquer que seja o acerto. Esse é o preço de se negociar com uma sigla que de unida tem apenas o nome.

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  1. Se aliar ao governo Lula é uma forma exdrúxula de se fazer oposição, visando a próxima eleição. Não dá para servir a dois senhores, ao mesmo tempo. A sociedade política está moralmente doente. Deturpam os verdadeiros valores humanos.Cheias de vícios demonstram que não conseguem sobreviver sem a corrupção, e oportunismo político.

  2. Lula é um tonto. Nosso país está perdido com essa gente miudinha, são anões em matéria de pensamento político em prol de nossa Nação. Lula é tão sem noção quanto Bolsonaro, não tem conhecimento do que precisa fazer e onde está Simone Tebet? Cadê o planejamento? Dá vontade de vomitar. Já transcorreu quase 1/2 ano e nada!

  3. É a maestria de Lula em jogo! Pelo que parece, nem cortando mais um dedo, por malandragem, não vai resolver. Em todo o caso, vamos aguardar.

  4. E o interesse do povo brasileiro que se exploda!!! Rebanho de gente cretina (ops aquela lei já está valendo?) !

  5. Um saco de gatos terrível. Ninguém se surpreende que dois partidos asquerosos tenham originado um novo partido desprezível. A CODEVASF é uma galinha de ovos de ouro: estatal ricamente irrigada, que não produz absolutamente nada e é sempre cobiçada por quem não presta. Obrigado, Bolsonaro, por mais essa estatal não encerrada tal como prometido na campanha!

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