Foto: Guilherme Mendes/O Antagonista

Desaparecidos, uma chaga brasileira

15.06.23

Entre 2019 e 2021, mais de 200 mil pessoas desapareceram no Brasil. O número representa cerca de 180 pessoas que somem, sem deixar muitos vestígios, por dia. É como se, a cada 24 horas, um avião comercial decolasse cheio de brasileiros — e nunca mais fosse visto.

A edição do Mapa dos Desaparecidos do Brasil, disponibilizada pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública, aponta que o perfil médio da pessoa desaparecida no Brasil é homem (62% dos casos registrados), negro (52%), que foi visto pela última vez no final de semana (um em cada três casos ocorrem entre sexta e domingo).

São Paulo, Minas Gerais e Rio Grande do Sul concentram o maior número absoluto de casos. Já o Distrito Federal tem a maior taxa proporcional: 69 para cada 100 mil habitantes.

O grupo mais afetado, no entanto, são crianças e adolescentes: no levantamento do Fórum, 32% dos desaparecidos tem menos de 18 anos. Na faixa entre 12 e 17 anos, são 54,7 mil pessoas — jovens que, se reunidos no mesmo lugar, poderiam encher os maiores estádios do Brasil.

Caso da Nicole, que despareceu no sábado (10) em Curitiba, no Paraná. Caso você tenha informações sobre ela, a Polícia Civil do estado tem canais próprios para isso.

Os dados apontam possibilidades promissoras: no mesmo período, 112,2 mil pessoas foram localizadas, e cada uma delas interrompeu um ciclo de sofrimento individual ou familiar. Tecnologias simples (como câmeras de vigilância) se aliam a desenvolvimentos sofisticados — como projeções de rostos envelhecidos sobre retratos antigos — para aumentar o sucesso dessa jornada eivada de sofrimento.

No entanto, ainda há pessoas desaparecidas, o que aumenta o sofrimento de quem viu parentes, amigos, entes queridos, idosos, adolescente e crianças sumirem.

A lei federal que institui uma política nacional sobre o tema completou quatro anos em março, período em que o número de desaparecidos até caiu — assim como o número de pessoas localizadas.

O Cadastro Nacional de Pessoas Desaparecidas (CNPD), definido pelo art. 5º da Lei nº 13.812/2019, está em construção e, quando em funcionamento, será composto tanto de informações públicas, destinadas a auxiliar a população em geral no fortalecimento das ações de busca de pessoas desaparecidas, quanto de informações sigilosas, direcionadas às instituições governamentais de segurança pública, com informações como impressões digitais e dados genéticos, igualmente importantes nas ações de localização de pessoas. O MJSP coordena um grupo de trabalho que atua na atualização, estruturação e integração de bases de dados para a consolidar o CNPD. A perspectiva é que o CNPD funcione de maneira integrada com outros sistemas já existentes, sejam eles do Executivo Federal ou não.

Pensando neste problema social, Crusoé passará a diariamente incluir rostos de desaparecidos na seção Diário do site. O esforço pioneiro espera ampliar a rede de atenção a pessoas desaparecidas e auxiliar para que elas possam voltar ao convívio de seus amigos e familiares.

Para comunicar o desaparecimento de alguém não é preciso esperar 24 horas. Há bases de dados organizadas, estaduais e federais, auxiliando a registrar e procurar desaparecidos. A orientação é procurar a delegacia de Polícia mais próxima o quanto antes. Informações sobre rotinas de horários, roupas e itinerários podem auxiliar na localização.

Uma única pessoa localizada tornará este projeto bem-sucedido.

Os comentários não representam a opinião do site. A responsabilidade é do autor da mensagem. Em respeito a todos os leitores, não são publicados comentários que contenham palavras ou conteúdos ofensivos.

500
  1. Parabéns Crusoé e Antagonista pela reportagem e ação/iniciativa! Nunca passei por isso, mas muitas vezes me pego imaginando o desespero de perder (por ex.) minha filha e filho menores.. não pode haver dor / sofrimento maior... Na Av. Paulista aos domingos em frente ao MASP ficam fotografias de centenas de crianças, homens e mulheres desaparecidas c/ pais ou parentes em silêncio esperando por uma notícia lá no fim do túnel da esperança...é muito cruel, não consegui conter as lágrimas vendo tudo aquilo... Tem alguma coisa muito errada, esse problema deveria ser prioridade das autoridades e sociedade, espero que este engajamento exemplar agora diário de vcs desperte reações sérias e permanentes p/ redução grande desta "chaga brasileira" como dito. Minha sugestão é que esta reportagem fique aínda mais *DESTACADA* junto c/ a chamada *Você pode ajudar a encontrar...* todos os dias repetidamente como reportagem nova fosse, assim será disseminada como precisa ser (fui ver só hj depois de 6 meses da publicação e praticamente não tem comentários, só 5 sérios, deveria ter centenas..).

    1. Isso mesmo Kedma. A informação de que milhares foram localizados poderia( em um próximo artigo) investigar as razões dos chamados "desaparecimentos voluntários".

  2. Uma história do Rio de Janeiro (de uma criança de 11 anos): A Mãe (que deixava a criança sair sozinha na rua sem saber para onde) pergunta "Filha aonde você estava". E a criança responde "Eu estava na casa de fulano fazendo sexo" (fulano era o colega de 14 anos do colégio). Seria interessante utilizar estas estatísticas todas para identificar em que situação estas crianças/adolescentes desaparecem. Talvez ajude a educar os pais em como cuidar melhor dos filhos.

Mais notícias
Assine agora
TOPO