ReproduçãoBolsonaro com Tarcísio na Academia de Polícia Militar do Barro Branco: "orgulhoso"

O plano Tarcísio

O governador de São Paulo desponta como o nome que pode substituir Jair Bolsonaro em caso de inelegibilidade do ex-presidente
15.06.23

O governador de São Paulo Tarcísio de Freitas ainda não completou seis meses no cargo, mas já se posiciona como o substituto de Jair Bolsonaro para disputar a eleição presidencial de 2026 caso o ex-presidente seja declarado inelegível pelo Tribunal Superior Eleitoral, o TSE. Sua ascensão se dá por uma combinação de fatores externos a ele, como a manutenção da polarização política no Brasil, o comportamento do eleitorado de direita e a confiança que a população deposita em seus governadores. Um plano de ação mirando o Palácio do Planalto até já começou a ser colocado em prática.

Tarcísio foi destaque em duas pesquisas de opinião recentes. No final de maio, o Instituto Paraná perguntou aos brasileiros quem seria o principal sucessor de Bolsonaro. Tarcísio foi apontado por 25,8%, seguido da ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro, com 14,3%. Romeu Zema, governador de Minas, aparece em terceiro com 9,3%. Esta semana, o Instituto Locomotiva publicou o estudo “Para onde vai a direita”, encomendado pela Zeitgeist Public Affairs. Para os eleitores de Jair Bolsonaro, Tarcísio de Freitas foi considerado o que seria “um bom presidente” pela maior parte dos entrevistados. “Existe pouca demanda para uma candidatura que não venha da política tradicional. Além disso, a associação com ser ou não um bom presidente está ligada, antes de tudo, às referências políticas que hoje exercem algum mandato, como os governadores”, diz o cientista político Renato Meirelles, fundador do Instituto Locomotiva (assista à entrevista abaixo).

Além de atrair a atenção dos eleitores de Jair Bolsonaro, Tarcísio também tem recebido loas e afagos do ex-presidente. No início de junho, Bolsonaro viajou a São Paulo para realizar exames clínicos e ficou hospedado no Palácio dos Bandeirantes, a sede do Executivo paulista. A estadia se deu a convite de Tarcísio, que definiu o encontro como uma “visita de amigos”. No feriado de Corpus Christi, Bolsonaro gravou um vídeo na estrada Rio-Santos, que depois foi compartilhado pelo governador. “Eu me sinto orgulhoso de ter colaborado com a indicação do Tarcísio para o governo do estado de São Paulo”, disse o ex-presidente, que vestia uma camisa do Athletico Paranaense, com o patrocínio de uma empresa bolsonarista na manga. “Meus parabéns a todos de São Paulo que votaram em Tarcísio e aqueles que não votaram e estão conhecendo agora, com toda certeza, no futuro, serão lembrados desse grande governador que nós temos.”

O choque de realidade de Jair Bolsonaro ocorreu na última semana de março, quando ele retornou ao Brasil após várias semanas em Orlando, na Flórida. O ex-presidente então conversou com caciques dos dois partidos, Valdemar Costa Neto, do PL, e Ciro Nogueira, do PP. Os dois deixaram claro que o cenário para 2026 era extremamente difícil por causa das ações no Judiciário e que é necessário já viabilizar um nome alternativo para o próximo pleito: Tarcísio era visto como primeira opção, seguido do mineiro Romeu Zema.

O próprio Bolsonaro tem demonstrado cansaço a seus principais aliados. A interlocutores, ele se ressente de decisões contrárias a ele durante as eleições de 2022. Sentindo-se perseguido, o ex-presidente da República chegou a cogitar abandonar a luta partidária. Mas, depois de conversas com seus principais aliados, percebeu que será um ator importante na reorganização da direita nas próximas eleições. Sendo assim, passou a se mobilizar para fazer um sucessor.

Entre os integrantes do Republicanos, o partido de Tarcísio, há certa euforia. “Há essa possibilidade, e ela é real”, admite um deputado estadual do partido em São Paulo. “As ações do governo de Tarcísio e sua aliança com o bolsonarismo o credenciam como possível candidato à presidência em 2026.”

Internamente, garante esse parlamentar, o partido, vinculado à Igreja Universal do Reino de Deus, já considera inevitável que o TSE torne Bolsonaro inelegível neste ano. Até mesmo a data escolhida para o julgamento, 22 de junho, número de Bolsonaro nas urnas, é considerada um indício do ânimo da corte. Se a sentença for confirmada, isso tornaria a relação umbilical entre Bolsonaro e Tarcísio ainda mais benéfica para o governador paulista. “Sem o Bolsonaro, Tarcísio não se elegeria nem deputado federal. Ele não era um nome conhecido em São Paulo”, reconheceu. “Mas agora, com seis meses de governo, o Tarcísio já começou a dar seus voos solo.” O Republicanos vê a ocasião como uma oportunidade para lançar, pela primeira vez, um nome à Presidência, e se arma para impedir que outros partidos, como o PL, roubem a sua melhor carta. Nesta semana, ao falar sobre o tema para a GloboNews, o presidente nacional do Republicanos, Marcos Pereira, foi enfático: “A chance de Tarcísio ir para o PL é zero”.

A estratégia de Tarcísio tem sido a de falar com os eleitores mais moderados e, ao mesmo tempo, estender a mão para os bolsonaristas que seguem uma cartilha mais ideológica. Em janeiro, o governador visitou o presidente Lula em Brasília e aprovou uma lei para o fornecimento de medicamentos à base de canabidiol, um dos componentes da maconha, pelo Sistema Único de Saúde. Mais tarde, liberou 750 mil reais para a Secretaria Estadual de Cultura, para financiar paradas ou ações para o público LGBTQIA+. O governador não esteve na Parada LGBTQIA+ que aconteceu no último feriado de Corpus Christi e está longe de defender a descriminalização das drogas, mas faz incursões cuidadosas nessas searas, para não melindrar os bolsonaristas.

Os acenos de Tarcísio à direita bolsonarista ocorreram principalmente neste mês de junho. No dia 2, o governador participou, ao lado de Jair Bolsonaro, da formatura dos alunos do curso de ciências policiais de segurança e ordem pública da Academia de Polícia Militar do Barro Branco, em São Paulo. Tarcísio foi o paraninfo da turma. Na quinta, 8, o governador ajoelhou, orou e discursou no palco da Marcha para Jesus, que reúne milhares de evangélicos todos os anos na capital paulista. “Isso aí, gente, é um caminho. Um caminho para a benção para a nossa terra. Isso vale para o nosso estado, vale para o nosso país. O caminho é se afastar do pecado. É buscar a palavra de Deus. É ser obediente aos seus ensinamentos”, disse o governador vestindo uma camiseta com as palavras “Jesus vencedor invicto”.

A jogada de manter um pé no bolsonarismo e outro no centro político é intencional. “Falar com os militares e com os evangélicos é fundamental para ele, pois essa é sua base. Mas Tarcísio também precisa ampliá-la. Quando ele mostra que é um governador que conversa com o presidente da República, independente de ser um possível adversário, e traz para a sua órbita política pessoas que são da política tradicional, como Gilberto Kassab, seu secretário de governo, ele amplia essa base”, diz o cientista político Bruno Soller.

Tanto o aceno aos evangélicos como o discurso pela segurança funcionam muito bem em uma estratégia nacional. Isso porque Tarcísio precisará, em uma eventual candidatura, tornar-se mais conhecido e ganhar o eleitorado entre as classes mais baixas, principalmente no Nordeste. Uma maneira de obter isso pode ser se aproximar dos evangélicos e das pessoas que estão mais expostas à criminalidade. “O voto no Brasil não é regional, mas de classe social. Quanto mais classe social D e C2, mais voto no lulismo. Quanto mais classe A, B1 e B2, menos voto no lulismo. Essa é uma máxima desde 2006. O problema é que, enquanto no Sudeste nós temos 18% de classe D, no Nordeste esse índice é de 46%”, diz Bruno Soller.

A plataforma de onde Tarcísio ensaia seus voos está mais consolidada que  no ano passado. Quando Jair Bolsonaro escolheu o seu ministro da Infraestrutura para a eleição estadual, ele era pouco conhecido no estado e no resto do Brasil. Por ser carioca e não saber dizer onde era o local em que votava em São José dos Campos, sofreu muitas críticas de seus rivais e da imprensa. Mas, com a polarização nacional se refletindo na briga estadual, Tarcísio abriu dez pontos de vantagem para Fernando Haddad, atual ministro da Fazenda, no segundo turno.

O teste de fogo no cargo veio com as inundações no litoral norte paulista, em fevereiro deste ano. Após um índice recorde de chuvas, Tarcísio visitou a região e participou de uma coletiva de imprensa com colete laranja e azul marinho ao lado do presidente Lula e do prefeito de São Sebastião, a cidade mais afetada pelas inundações e deslizamentos de terra. O governador liberou verba para os municípios em situação de emergência e para a construção de casas populares. Ele ainda transferiu o gabinete para São Sebastião para dar mais celeridade às ações de emergência e permaneceu na cidade despachando por uma semana. Ao longo do tempo, Tarcísio conseguiu ganhar confiança e tornou-se alvo de tietagem em suas visitas ao interior de São Paulo. Num passeio por Águas de Lindoia para um evento de automóveis antigos, na última semana, foi recebido cercado por pessoas que gritavam “nosso governador”.

Mas diversos desafios podem atrapalhar sua gestão e suas chances. O primeiro são as grandes obras inacabadas, herdadas de governos anteriores. A linha 17 do metrô, que corta a zona sul da capital, deveria ter ficado pronta antes da Copa do Mundo de 2014 — mas apenas esqueletos estão prontos. O Rodoanel Norte, trecho final de um anel viário ao redor da capital, também era para estar pronto, mas deve ser entregue apenas no fim deste mandato. Ao buscar alavancar as privatizações, o governador também terá de lidar com os seus ônus. Ao pedir estudos para privatizar o serviço de trens metropolitanos, Tarcísio foi confrontado pelo fraco desempenho da ViaMobilidade. As duas linhas sob a gestão dessa concessionária estão com funcionamento tão precário que o Ministério Público pediu o fim da concessão o quanto antes. Resistência parecida pode atrapalhar os planos de privatizar a Sabesp, o mais ambicioso plano de desestatização do atual governo. No centro da capital, o destino da Cracolândia também ajudará a selar o destino de Tarcísio. Se conseguir dar fim ao problema da criminalidade e revitalizar o local, Tarcísio terá um legado a defender. Se falhar, pode ter uma derrota dupla. Não apenas sua abordagem sobre a segurança será questionada, como ele também pode ver Ricardo Nunes (MDB), prefeito que tem atuado próximo ao bolsonarismo, ser derrotado por Guilherme Boulos (PSOL) nas eleições do ano que vem. Indagado por Crusoé sobre vários temas deste parágrafo, o Palácio dos Bandeirantes não se pronunciou.

Outro obstáculo a ser encarado está na história. Governadores de São Paulo não têm tido sucesso ao tentar a presidência desde a redemocratização. Mário Covas, Geraldo Alckmin, José Serra e João Doria falharam ao tentar o Palácio do Planalto. “Isso se dá por uma certa arrogância que São Paulo tem. Os outros estados reclamam de que São Paulo já é um estado rico, e ainda quer a Presidência”, diz Renato Meirelles, do Locomotiva. A última vez que um governador de São Paulo se tornou presidente da República foi em 1926, com Washington Luís. A boa notícia para Tarcísio é que Washington era carioca, assim como ele. Agora é esperar para ver qual será a decisão do STF sobre a inelegibilidade de Bolsonaro.

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  1. Essa peleja ainda vai longe. Faltam muitos arranjos no tabuleiro político. Zema já foi testado e aprovado, mas pertence a um partido fraco. Tarcísio é um neófito abrigado em um partido médio mas apoiado por um grupo sem musculatura consolidada. Portanto, esses dois nomes fortes da direita, se bobearem podem ser engolidos pela pseudodireita, hoje abençoada pelos maiores quinhões do fundo eleitoral. Ambos enfrentarão "cachorros grandes", muito grandes!

  2. Excelente nome. Não me parece com personalidade populista. Quem sabe se não nasce um estadista, após décadas de populismo? Basta de petismo e bolsonarismo.Lula e Bolsonaro são tecnocratas que só pensam no poder.Não foi e não é a solução para o país. Alckmin e Simone Tebet deram um tiro no pé em suas pretensões políticas, ao se aliar ao governo Lula. Se apequenaram com essa estratégia.Entretanto, a falta da moral dos inquilinos do congresso, é o maior obstáculo, para o sucesso.

  3. Tarcísio e Zema podem ser ser bons nomes e devem evitar uma excessiva proximidade com a família bolsonaro. Bolsonaro é desagregador e invejoso.

  4. A falácia da arrogância paulista é alimentada pelos que enriquecem sobre a miséria e não querem o bem social das regiões menos desenvolvidas caldo de cultura muito apreciado pelos ptralhas.

  5. Podem ficar tranquilos que o BOLSONARO será inelegível. Agora creio que o BOLSONARO voltaria caso o PT não consiga ficar próximo do TARCISIO, ou seja, caso a percentagem entre os candidatos fiquem distantes e o PT não consiga ficar próximo , voltam com o BOLSONARO para empatar devido a rejeição impinchada no mais atual EX PRESIDENTE, JAIR MESSIAS BOLSONARO. Vale tudo para o PT estar sempre no PODER. E além disso eles não curtem pessoas que abrem a boca e contam os podres da república.

  6. Zema já testado com governante e Tarciso que inicia muito bem dão esperanças ao país em se livrar do bando PeTralha mas ainda faltam longos 42 meses que serão duros e à medida que forem rejeitados pelo povo a vingança e a roubalheira se acentuará ... quem sabe depois de tanto sofrimento a ignorância se toque.

  7. Governador na base da segurança pública está queimado, devido ao seu péssimo Secretário de Segurança Pública Ferrite, ops, Derrite que fez um reajuste salarial para policias Civil e Militar, mas o reajuste chamado de "Sangue Azul" só beneficiou os Oficiais da PM (ficam sentados e no ar condicionado) ou seja, só ajudou seus pares, e não os Praças que fazem o patrulhamento nas ruas e são a maioria do efetivo. Com isso já tem a Campanha em rede sociais "Praça só vota em Praça".

    1. Corporativismo não é política. Menos ainda se for por motivo financeiro.

    2. Obrigado pela informação. Pena que deformada, pois apócrifa. Medo é talvez a pior doença da humanidade e, neste pais, “democrático” para os supremacistas bolsoluloptitas e stefianos monocratas, é epidêmica. Vacina contra o medo, coragem, ética e ter a liberdade como dogma de vida.

  8. Vocês da midia são tarados pelo menos pior- no caso a revanche indecente bolsoluloptista. Falar em Tarcisio, como reserva de Bolsonaro, e não estimular o fortalecimento desta tênue esperança (revelada pela postura na campanha, q mantem, no governo SP), estimulando veladamente a candidatura do pior presidente de nossa história, pelos “predicados” (na nossa politica é!) da traição, da covardia, da desonestidade explicita, da psicopatia escancarada e’ aliar-se aa bandidagem poderosa deste país.

    1. Concordo contigo! Tá na hora de sair dessa polarização que só nos prejudica!

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