Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil

Não encham o saco, encham meu tanque!

03.03.23

O Carnaval acabou, a Lava-Jato acabou e finalmente o ano de 2023 vai começar no Brasil. Podemos voltar para a pasmaceira de sempre, sem dinheiro e sem assunto, mesmo porque até o BBB 437 perdeu a graça que nunca teve. Não tem jeito, vamos ter que trabalhar.

Nem só o crime é organizado no Brasil. O país funciona como um relógio suíço no Carnaval: os blocos desfilam no dia e na hora certa seguindo o trajeto combinado, as escolas de samba são exemplos de organização e logística e nos camarotes nababescos não existe crise, o dinheiro jorra pra todos os lados e os convidados nem precisam ouvir os gigantescos e incompreensíveis sambas enredo que rolam na pista. Tudo funciona com precisão cirúrgica, como se aqui fosse uma Dinamarca tropical onde ninguém se suicida de tédio. Acabada a festa momesca, voltamos à nossa velha e boa esculhambação generalizada (e coronelizada).

E no dia seguinte, de ressaca, descobrimos que as delações premiadas, as operações da Polícia Federal, o desvio de verbas, o superfaturamento de obras públicas, o mensalão e o petrolão — foi tudo um imenso delírio coletivo. Uma alucinação muito doida, uma viagem lisérgica amarrada num Brasil que tomou um ácido e pirou. Tudo foi apenas um bode preto que só existiu nas nossas cabeças e no Jornal Nacional. Coisa de Carnaval.

Felizmente, nós temos o Poder Judiciário para colocar ordem na nação e tirar todo mundo da cadeia, inclusive os “patriotas” que tentaram dar um golpe, foram em cana e acabaram perdendo a aula de pilates. Até o Sérgio Cabral Filho (da *#!*#*) foi solto, ainda a tempo de participar de vários blocos de sujo. E já vai começar o ano numa nova profissão, a de marqueteiro, ensinando aos candidatos como roubar e depois sair da cadeia.

E como já tá tudo resolvido, não tem mais problema nenhum, o presidente Luis Inácio Janjo da Silva vai se dedicar a negociar a paz entre a Rússia e a Ucrânia. Lula agora virou estadista de fama internacional e, para impor os seus pontos de vista, joga pesado contra as grandes potências. Ameaçou a China de mandar a Dilma pra Xangai e deixar o Bolsonaro em Orlando trabalhando na Disney com o Pateta, quer dizer, como pateta. Para acabar com a guerra, Lula tem uma saída genial: oferecer para cada um, Putin e Zelensky, uma diretoria na Petrobras.

Para mostrar que já está fazendo alguma coisa, o governo resolveu ressuscitar o projeto do Trem Bala Perdida. Movido por imensas verbas federais, o Trem Bala vai partir de Brasília, da Estação Centrão do Brasil, em velocidade estonteante , sem paradas e com destino a vários paraísos fiscais.

Enquanto isso, eu, o grande Agamenon Mendes Pedreira, que não tenho dinheiro nem para andar a pé, sempre lutei pela preservação do meio ambiente. Há mais de 50 anos não abasteço o meu Dodge Dart 73, enferrujado, minha autorresidência que fica estacionada na Rua da Amargura, fundos. Com isso contribuo para a redução no uso de combustível fóssil, mesmo porque sou um fóssil também. Lembro com saudades do tempo em que meu carro andava disparado pelas ruas do Rio de Janeiro. Bons tempos aqueles em que não existiam pardais e um guarda de trânsito era comprado por uma lata de cervejinha.

Saía do Globo, onde trabalhava como copidesque e pegava a Isaura na Vila Mimosa, depois do seu expediente naquele antro de baixo meretrício. De lá, subíamos o Alto da Boa Vista na direção do Oswaldo na Barra, famoso pelas suas batidas de coco, caju e automóvel. Depois de enchermos a cara, íamos para a praia ver “corrida de submarino”, eufemismo para um sexo selvagem à milanesa, é claro, porque a gente ficava cheio de areia nos orifícios mais remotos de nossa anatomia.

 

Agamenon Mendes Pedreira é jornalista movido a álcool

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  1. Muito bom seu artigo, apesar de me fazer rir, ao término me causaram depressão em saber que esse é o meu país e jamais será diferente disso! Ao povo só resta a miséria.

  2. Obrigada por me esclarecer o Plano de Janjo para acabar com a Guerra na Ucrânia. Ainda não tinha pensado nisso. Aliás, acho que nem o digníssimo presidente também não pensou. Agamenos, eu queria rir do seu texto, mas terminei em lágrimas (de crocodilo, pois não me vacinei)

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