O presidente Lula e o ministro da Fazenda Fernando HaddadLula e Haddad: o "favorito" do presidente foi desmoralizado - Foto: Reprodução

O miniministro

Tutelado pelo presidente da República e atacado pelo fogo amigo petista, Fernando Haddad segue sendo visto com desconfiança, apesar de uma vitória parcial com os combustíveis
03.03.23

Foi por critérios pessoais que Lula escolheu o advogado e ex-prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, para comandar o Ministério da Fazenda, a pasta mais determinante para o sucesso de um governo no Brasil. Mesmo sem ser um grande especialista em economia, como ele já confidenciou, Haddad assumiu o posto com a missão de aumentar a arrecadação federal, depois que o PT, com o aval do Congresso, elevou o rombo das contas públicas com a PEC do Lula (também conhecida como PEC da Gastança), no final do ano passado. Com pouco mais de dois meses de mandato, há sérias dúvidas se Haddad estará à altura do seu desafio. Seus primeiros anúncios soaram como improvisados e mal planejados, com o ministro sendo alvo constante de ataques de petistas e sem poder ostentar a autoridade necessária para o cargo. Quem dá a última palavra, afinal, é sempre o presidente Lula.

Uma das principais ferramentas que Haddad contava para subir a arrecadação era a reoneração dos combustíveis. No governo anterior, de Jair Bolsonaro, o presidente zerou os impostos federais de PIS/Cofins para evitar um aumento dos preços nas bombas com a Guerra na Ucrânia. O ex-presidente também imaginava que, evitando um pico inflacionário, ele conseguiria a reeleição. Por causa disso, petistas atacaram a medida, que consideraram demagógica e eleitoreira. A desoneração tinha o dia 31 de dezembro para acabar, mas foi estendida por dois meses, por decisão do PT. Haddad queria retomar os impostos para abastecer os cofres públicos, mas o novo governo do PT entendeu que uma subida da gasolina e do álcool poderiam arranhar a popularidade do governo estreante. Foi uma derrota amarga para o novo ministro da Fazenda.

Quando estava para vencer a extensão de dois meses da desoneração, desta vez dada pelos petistas, Haddad subiu ao palco para anunciar o próximo passo. Na segunda (27), ele disse, no início do dia, que a reoneração seria anunciada em horas. Quando o anúncio foi adiado para o dia seguinte, a coletiva de imprensa foi marcada e remarcada, enquanto se esperava pela definição das alíquotas.

Como a divulgação das alíquotas demorou, as distribuidoras assumiram que a gasolina e o álcool seriam reonerados em 100% da alíquota antiga. Tudo o que foi tirado seria devolvido. Essas empresas, que são intermediárias entre os produtores e os postos de gasolina, elevaram os preços, que foram repassados para o consumidor. Como houve reclamação, as distribuidoras deram créditos para o dono do posto que pagou a mais. No entanto, para o motorista afoito que abasteceu na quarta, 1º, não há possibilidade de reaver o dinheiro que se perdeu enquanto Haddad tentava costurar a reoneração.

Mas não foi só isso. A estratégia de Haddad foi aguardar para que a Petrobras, mais cedo, anunciasse uma redução no preço dos combustíveis. O preço do litro de gasolina caiu de 3,31 reais para 3,18 reais, uma diferença de 13 centavos — o número do PT. Coincidência ou não, o valor soou como prova do amadorismo do novo governo. Quando os números oficiais sobre a volta dos impostos foram finalmente divulgados, confirmou-se que a retomada dos tributos não seria total.

Essa foi, portanto, uma vitória parcial de Haddad, que tinha prometido, em janeiro, elevar em 28 bilhões de reais a arrecadação com a reoneração dos combustíveis. Como a subida foi parcial, o cálculo é que será possível passar um pouco de 20 bilhões de reais. A diferença que falta será preenchida com outra fonte de receitas. Ao lado do ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, Haddad anunciou a taxação de óleo cru para exportação. Com isso, o governo pretende arrecadar os cerca de R$ 6,7 bilhões que ficariam faltando. Mas esse remendo também tem o seu limite, porque terá duração de quatro meses, que é o tempo de vigência da medida provisória que foi editada. Ao final de junho, a decisão de prolongar ou não essa fórmula ficará para o Congresso Nacional. São os parlamentares que decidirão sobre reestabelecer totalmente os tributos sobre gasolina e etanol ou manter a taxa de exportação do óleo cru.

Ao jogar para o Congresso a decisão, o governo pode estar querendo afastar uma decisão impopular, que pode repercutir mal no posto. Outra consequência é que isso adia uma solução definitiva, gerando mais insegurança entre os consumidores e investidores brasileiros. Segundo interlocutores de parlamentares, a medida paliativa — reoneração parcial e imposto à exportação — também não era a preferida de Haddad, que preferia um remédio mais seguro e sabe que o Brasil não taxa exportação “desde a República Velha”.

O poder de Haddad, portanto, é uma fração daquele que gozava seu antecessor, Paulo Guedes, no governo de Jair Bolsonaro. Em 2019, Guedes foi apelidado de superministro pelo seu grau de desenvoltura e liberdade para falar de temas econômicos, ainda que amargasse várias derrotas para o presidente e falasse grandes asneiras. Guedes deixou pérolas ao falar de empregadas domésticas na Disneylândia e de pobres que faziam o preço do arroz subir ao comê-lo. Haddad, por outro lado, divide as decisões econômicas com as ministras Simone Tebet, no Planejamento, e Esther Dweck, na Gestão. Ele também precisa pedir benção ao presidente da República antes de iniciar qualquer movimento e sofre com constante fogo amigo. “Diferentemente do modelo da gestão Bolsonaro, em que o governo delegava a Paulo Guedes o debate econômico, a atual gestão tem um modelo mais amplo”, diz o cientista político Rafael Favetti. “Haddad tem a penúltima palavra. É assim desde o dia 1º e nada mudou. A última é sempre do Lula, e continuará sendo assim.”

Com a chancela do presidente Lula, a presidente do PT, Gleisi Hoffmann, e o presidente do BNDES, Aloízio Mercadante, avançam sobre o território de Haddad e palpitam sobre o seu trabalho. Gleisi publicou nas redes sociais que o “presidente Lula teve sensibilidade para diminuir o impacto da reoneração de combustíveis no bolso do consumidor, com redução de alíquotas dos impostos e do preço na refinaria. Importante também a taxação na exportação do óleo cru”. Haddad, assim, passou a ser o insensível que queria fazer o contrário. Mercadante, por sua vez, anunciou um seminário para discutir um novo arcabouço fiscal — atribuição do Ministério da Fazenda.

É certo que, ao aceitar a nomeação para o Ministério da Fazenda, Haddad sabia que não teria total poder em seu novo posto. Sua deferência a Lula é antiga e notória e não há como o poste fazer sombra ao chefe. Mas sua situação intermediária, espremido entre o fogo amigo dos colegas petistas e as ordens do presidente, já impacta nos resultados de seu trabalho e a vida dos brasileiros.

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  1. Isto é Admnistração compartilhada ,que somente em regimes democráticos é possível . Vamos aguardar os resultados para emitir valores de méritos .

  2. Enquanto a preocupação dos governantes for não arranhar a própria popularidade não teremos soluções para os problemas reais do país.

  3. E assim, aos trancos e barrancos, entre as incompetências ministeriais, a vaidade e a ambição do novo governo, segue o Brasil, eterna vítima dessa política malsã...

  4. O luloptismo foi emprenhado pela reunião de seitas enquistadas nos sindicatos, na igreja, na universidades públicas, nos centros acadêmicos ,na bandidagem em geral (presos e tranqueiras) e na mídia entreguista e fissurada na elite poderosa. O que esperar??

  5. Haddad que se cuide, vai continuar ministro se continuar se rebaixando à última palavra do Lula que só entende de marketing e mais nada . Além domais tem o Mercadante minando a gestão Haddad visto que seu caráter é lastimável!!!

  6. Quando tivemos um lacrador e dito expert em economia, caímos de oitava para décima segunda economia do mundo. Vamos esperar um pouco para dar uma opinião mais fidedigna…

    1. .. comparar estes dois bostéus a Guedes chega ser surreal.

  7. ESPELHO meu haverá na BrazILHA algum ministro mais fraco ou mais capacho do que eu? ... existe sim a Sra. Tebet e caldo de bila ... e tem um poderosão aculá que "no si puede dicir el nombre" ... fui !!!

  8. Nada se poderia esperar de diferente da parte de um capacho sem qualificação técnica para ocupar o cargo que possui. O resultado pagamos nós

  9. É notório que o "fazer o que é certo" não é levado em conta se isso for impactar a pseudo popularidade do "descondenado". Fora isso nada de novo pois o "poste do Cachorrão" tá ali pra isso, servir de "bucha de canhão", levar um "mijada" quando preciso, etc, etc.... Muito me espanta é a falta de respeito consigo próprio desse Sr, pois se submeter a todo tipo de achaque e humilhação....meu DEUS com gente desse naipe no poder estamos é ferrados.

  10. Tudo bem, se poste pigmeu sair quer vai querer ser palhaço de ladrão, demagogo, populista. Estamos ferrados. Brasil do PT, do Lula, da Dilma, do taaso genro do boulos. Isso nunca vai presta. Andando prá pras, uma maldição.

  11. Nada de novo no governo petistas. Assim foi, assim sempre será. A decisão de Lula tem sempre o peso de sua popularidade, como todo populista sonha em se perpetuar no poder. O país tem o governo que merece, assim tem sido há décadas. Bolsonaro e Lula são semelhantes. A diferença se conta nos dedos.A essência é a mesma. O que muda é a roupagem.

    1. Não está no contexto , mas gostaria de falar sobre as joias Alguém comentou que ninguém da joias de 16000000,00acontece quem presenteou foi Arábia Saudita , está quantia e trocado pra sheik

    2. Verdade, a diferença se conta nos dedos. Um tem nove e o outro tem dez.

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