José Cruz/Agência BrasilJuscelino Filho, o ministro das Comunicações de Lula; seu "50 anos em 5" parece um pouco diferente daquele do xará JK

O eterno retorno de Sucupira

03.03.23

Esta coluna se chamava “Sucupira über alles” até eu me lembrar de que já tinha escrito uma com esse exato título, pouco antes das eleições de 2014, no breve período em que Ruy Goiaba foi colunista de política da Folha. Decidi mudar a alusão ao nazismo para uma coisa mais nietzschiana, com notas de rodapé providas pelo Leo Jaime (“uou, uou, uou, uou, nada mudou”). Mas o assunto é o mesmo; meu colega Rodrigo Oliveira, que apresenta o “Morning Call” no YouTube de O Antagonista, também cita sempre nos seus comentários a cidade criada para a novela (e depois a série) “O Bem-Amado”, obra imortal de Dias Gomes (1922-1999). Não é a gente que se repete, claro: é o Brasil.

Vejam, por exemplo, o caso de Juscelino Filho, o deputado maranhense indicado pelo União Brasil para ser ministro das Comunicações do governo Lula. Logo no primeiro mês da gestão que veio para salvar o Bananão e seus habitantes, ele foi acusado de direcionar R$ 5 milhões do orçamento secreto para pavimentar uma estrada que passava na frente da sua fazenda. Depois, outro colega meu, o intrépido repórter Wilson Lima, descobriu que o Ministério Público Eleitoral atribuía a Juscelino o uso irregular de R$ 565 mil do fundão eleitoral. Mais recentemente, uma reportagem do Estadão informou que o ministro ocultara do TSE um patrimônio de pelo menos R$ 2,2 milhões em cavalos de raça.

“E não é só isso!”, como diria uma propaganda da Polishop. O ápice — estou banindo dos meus textos a expressão “cereja do bolo” porque andei abusando do clichê e, além do mais, cereja não combina muito com esse tipo de bolo fecal — talvez tenha sido a incrível e comovente história do cavalo Roxão.

Juscelino, o homem dos 50 rolos em 5 (meses), veio a São Paulo em avião da FAB (poupando os R$ 140 mil que gastaria se viesse num jatinho privado), teve quatro diárias pagas pelo governo (para 2h30 de compromissos oficiais), negociou cavalos de raça e ainda deu um pulo em Boituva (SP) para reinaugurar a praça do saudoso Roxão, cavalo reprodutor que deixou 1.500 filhos e morreu aos 27 anos (roxo de exaustão, imagino). Juscelino prometeu internet grátis na praça e disse: “Se a gente está vivendo esse momento, muito foi fruto do cavalo Roxão, que tem proporcionado bons momentos na vida de muitos aqui”. Só faltou meter um Roberto Carlos (“quando eu estou aqui, eu vivo esse momento lindo…”).

É ou não é Sucupira da boa, da legítima, da escocesa? E olhe que ninguém está mais falando muito de Daniela do Waguinho, aquela ministra do Turismo cercada de amigos milicianos — essa turma que só parecia incomodar quando estava associada a Jair Bolsonaro. Só não digo que o espírito de Odorico Paraguaçu voltou a se mover sobre a face das águas porque ele jamais desapareceu.

Nesses momentos, sempre me lembro do meu personagem secundário favorito de “O Bem-Amado”, o Nezinho do Jegue. Sóbrio, Nezinho estava sempre com o modo puxa-saco ligado (“viva Odorico, o melhor prefeito que Sucupira já teve!”); mas, bêbado, virava completamente o disco (“morra Odorico! Safado, sem-vergonha! Ladrão de merenda!”). Meu compromisso com vocês, queridos três ou quatro leitores, é escrever esta coluna como se eu fosse um Nezinho do Jegue em permanente estado de estupor alcoólico. Convenham que é impossível que um brasileiro se mantenha sóbrio cercado de Sucupira por todos os lados.

***

A GOIABICE DA SEMANA

Talvez “canalhice da semana” fosse uma rubrica melhor, mas não consigo deixar de destacar a nota do glorioso Centro de Indústria, Comércio e Serviços de Bento Gonçalves (RS) após mais de 200 trabalhadores de uma terceirizada que fornecia mão de obra a vinícolas gaúchas serem resgatados de condições de escravidão: “Há uma larga parcela da população com plenas condições produtivas e que, mesmo assim, encontra-se inativa, sobrevivendo através de um sistema assistencialista que nada tem de salutar para a sociedade”. Traduzindo: esses governos safados dão Bolsa Família, Auxílio Brasil, seja lá o que for e esse povinho ainda acha que receber o benefício é melhor que trabalhar como escravo na colheita da uva? Desse jeito, como podemos manter nossas tradições do século 19 (chicote no lombo e zero tostão de pagamento)? Assim não dá.

Zen Chung/PexelsZen Chung/PexelsEmpresários do RS têm saudade da colheita da uva (foto) feita por “amor à arte”

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  1. Valeu, Ruy! Na verdade, Sucupira é mais uma cortina de fumaça da vênus platinada para tornar o roubo público uma grande diversão popular e extraordinário muro de lamentações de grande parte de brasileiros (e bota candidatos a corruptos nisso) hipócritas, pois ansiosos por uma boquinha no potim brasil. Sem dúvida, a ficção no campo do comportamento do nosso povo, é uma terceirização diversionista para omitir-se da nossa realidade dolorosa. E nada melhor que a Globo para manipular isto.

  2. Valeu Ruy. Quanto as tais vinícolas defendidas pela cretinice da nota, já iniciamos o boicote os seus produtos.

  3. O que se vê na vida real deixa Sucupira no chinelo! Este Juscelino não devia nem ter sido nomeado, é um safado de marca maior. Lula vai pedir explicações. Não tem explicação, vale um pé na bunda...

  4. O único jeito de não ficar triste é ficar puto. O cabeção da foto parece ter vindo ao mundo para duas coisas: comprometer os órgãos reprodutores da própria mãe e r0ubar, r0ubar muito. Noves fora (do alcance do Cabeção) os Lençóis, alguém poderia me explicar a existência do tal Maranhão? Parece se prestar apenas para produzir ordinários, pusilânimes e analfabetos em série. Que o apocalipse comece por ali… e nem vou apelar para o #fasueli porque o Bozo é outro imbecil safado.

    1. Só não te devolverei o adjetivo que vc merece ouvir porque seu nome já diz o que você é, figuraça boêmia: você IRRITA, sua existência IRRITA.

    2. Alessandro, tu és um grandessíssimo idiota

  5. Só queria ter a oportunidade de ver um daqueles artistas amantes de Cuba lendo sobre a festa do Juscelino e suas propriedades - incluindo os cavalos de raça. Como está a cara do Chico Buarque? do Caetano Veloso? e os famosos intelectuais de esquerda? Porque o povão que votou no Lulapai não sabe ler ou interpretar. No máximo assistir novelas. Mas, provavelmente não entendeu metade da história que acontecia no O Bem Amado.

  6. "Só não digo que o espírito de Odorico Paraguaçu voltou a se mover sobre a face das águas porque ele jamais desapareceu." => absolutamente verdadeiro e contemporâneo!

  7. O maranhense Juscelino vem a ser a cereja do bolo fecal desse governo. Lula é mestre na escolha desse tipo de ingrediente. Haddad é outra prova disso. Sucupira do Dias Gomes perde feio para o Brasil atual.

  8. Qual o nome do "empresário" aliciador, explorador, "capitão do mato"? Para completar a reportagem é necessário seu nome, estados em que atua (ou atuou) e sua naturalidade.

    1. De tédio, não… mas de raiva é bem provável!

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