DivulgaçãoJogador do Vitória comemora subida para a Série A do Campeonato Brasileiro: patrocínio explícito

Perdoa-me por me patrocinares

Há uma expectativa de purificação nos anúncios do site de acompanhantes Fatal Model no futebol brasileiro
14.12.23

O Esporte Clube Vitória se sagrou campeão da Série B do Campeonato Brasileiro nesta temporada. Com a ajuda de um patrocinador controverso, o site de acompanhantes Fatal Model. Acompanhante, no caso, é um eufemismo para prostituição — a plataforma reúne perfis e contatos para encontros sexuais.

A parceria deu tão certo que a torcida do clube baiano autorizou a diretoria a negociar os naming rights do estádio Manuel Barradas, mais conhecido como Barradão, diante de uma proposta de 100 milhões de reais por 10 anos. Caso a parceria seja confirmada, o dinheiro será usado para iniciar uma reforma. A proposta de mudar o nome do time para “Fatal Model Vitória” por 200 milhões de reais foi rejeitada.

O Fatal Model patrocina outros seis clubes na segunda divisão nacional, entre eles Ponte Preta, Sampaio Corrêa e ABC, e já expôs a marca em campeonatos estaduais, como o carioca, o catarinense e o goiano. A ideia original das propagandas era explicar aos potenciais clientes como a plataforma funciona.

O site se compara aos antigos anúncios de classificados de jornal. Não agencia os encontros, apenas expõe as informações de acompanhantes para a escolha dos clientes. Mas a ambição propagandística da empresa é bem maior.

Nós queremos visibilidade para as duas questões da marca: educação e respeito. A gente quer incomodar um pouquinho, discutir os nossos pontos para que as pessoas reflitam. Nenhum assunto vai ser resolvido sem ter essa provocação”, diz Nina Sag, porta-voz e rosto da Fatal Model, em uma das várias entrevistas que concedeu nos últimos meses. Em outra conversa, ela fala em “conscientizar e educar a sociedade sobre a profissão de acompanhante, rompendo paradigmas e tabus”, “em prol do desenvolvimento não apenas do esporte, mas da sociedade como um todo”.

Há uma expectativa de purificação nos anúncios da Fatal Model. É o “orgulho de anjo decaído mesclado de sensualidade brutal” de que fala José de Alencar em Lucíola (Martin Claret). “O dinheiro ganho com a minha vergonha salvou a vida de meu pai e trouxe-nos um raio de esperança”, diz a cortesã Lúcia a Paulo ao desvelar seu passado. “Elas não sabem, como tu, que eu tenho outra virgindade, a virgindade do coração!”, consola-se a protagonista em outro momento.

O Fatal Model compete hoje com planos de saúde e uma série de sites de aposta esportiva pelo posto de maior patrocinador do futebol brasileiro. É o patrocinador mais explícito — o trocadilho é intencional — e, portanto, mais controverso. Mas o maior patrocinador individual de um clube no Brasil, a Crefisa, do Palmeiras, é frequentemente acusado de agiotagem pelos críticos, enquanto o segundo, o BRB, do Flamengo, é um belo de um constrangimento — a parceria não atingiu as metas desejadas e, além disso, por que um banco público regional deveria tentar nacionalizar sua marca?

O site de acompanhantes ainda sofre resistência para conseguir anunciar na camisa de um time da primeira divisão — o contrato com o Vitória se encerra neste ano. A conferir se será renovado. Apesar da sexualização excessiva do mundo Ocidental, é de se levar em conta que crianças acompanham as partidas de futebol e que quebrar tabus sobre prostituição não é exatamente aconselhável para todos os públicos.

No fim das contas, a responsabilidade última é dos próprios clubes. “Judite não é culpada de nada!”, diz Gilberto em Perdoa-me por Me Traíres (Nova Fronteira) após descobrir que tinha sido traído, completando: “E, se traiu, o culpado sou eu, culpado de ser traído! Eu o canalha!”. A personagem de Nelson Rodrigues diz ainda que “a adúltera é mais pura porque está salva do desejo que apodrecia nela”. É um tipo de consolo.

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  1. Na camisa é melhor mesmo não... Comprar o nome do clube seria loucura. Naming rights de estádio e placas publicitárias não vejo problema nenhum. Sim, o patrocínio do BRB não faz qualquer sentido. É o velho patrocínio político de sempre no clube suspeito de sempre.

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