Foto: Beowulf Sheehan/Divulgação - Arte: Crusoé

Yascha Mounk: “Sou um absolutista da liberdade de expressão”

Professor da Universidade Johns Hopkins e guru de Barack Obama denuncia o populismo e outras ideologias autoritárias, dentre elas a cultura woke
14.12.23

O cientista político Yascha Mounk, da Universidade Johns Hopkins, em Washington D.C., nos Estados Unidos, é uma das principais referências acadêmicas sobre a crise da democracia na atualidade.

Nesta edição de Crusoé Entrevistas, Mounk explica e atualiza as razões pelas quais a democracia se fragilizou e o populismo cresceu em muitos países no Ocidente, incluindo o Brasil. Entre elas, ele aponta o ceticismo com o qual a esquerda atual enxerga a liberdade de expressão. Mounk argumenta que o conceito de fake news, tão usado atualmente, é falho por não ser possível definir com precisão o que é verdadeiro do que é falso.

“Cada geração pensou sobre si mesma como sendo a verdadeira, pois cada geração achou que estava descobrindo o mundo. No entanto, olhando para trás, para a história do mundo, sabemos que as gerações anteriores estavam erradas sobre coisas fundamentalmente importantes. O que nos dá a arrogância de pensar que somos a primeira geração na história a acertar tudo?”, diz Mounk, que cita um exemplo da pandemia.

“Sou um absolutista da liberdade de expressão no sentido de que não creio que um Estado deva ter o direito de colocar um cidadão na prisão por expressar opiniões políticas. Não importa quão vis sejam elas” , acrescenta.

Ele também culpa a multiplicação de políticos populistas, que se consideram como os únicos representantes autênticos do povo e não aceitam limites ao próprio poder. “Parte da crise da democracia é local, doméstica. Está no tipo de políticos populistas que querem minar os elementos básicos do nosso sistema”, acrescenta.

Mounk ainda detalha os fatores que têm fortalecido o populismo em países como Brasil, Estados Unidos e, mesmo, Argentina, onde acaba de tomar posse o libertário Javier Milei.

“Milei é uma figura interessante e é um pouco difícil saber exatamente onde ele se encaixa agora”, diz o professor, que percebe traços populistas no libertário.

Conhecido como “o pensador favorito do ex-presidente americano Barack Obama”, Mounk também fala sobre o identitarismo.

Essa visão de mundo, também conhecida como cultura woke, tende a reduzir a análise de qualquer conflito a uma questão de grupos identitários, seja racial, de gênero, ou outro.

O identitarismo é o tema do mais recente livro de Mounk, The Identity Trap (A armadilha da identidade), lançado em 2023.

O cientista político identifica o impacto da cultura woke no apoio ou na relutância em denunciar de parte da esquerda em relação ao Hamas, no âmbito do conflito em Gaza, em especial nos ataques terroristas de 7 de outubro.

“Pensa-se em termos de colônias e de colonos como historicamente foram os Estados Unidos… É um conflito histórico muito complicado o da Palestina, comparado ao daqueles colonos distantes que apareceram em um outro continente e tomaram terras”, diz.

 

 

Assista à integra da entrevista:

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