Palácio do PlanaltoMohammed bin Salman: produção quase toda para exportação e preço de extração baixíssimo

A última palavra é quase sempre dos sauditas

No frigir dos ovos, é o príncipe herdeiro Mohammed bin Salman quem dá as cartas no mundo do petróleo
06.04.23

No último domingo, 2 de abril, o mercado foi surpreendido com a notícia de que a OPEP+ decidiu cortar a produção dos países membros em um milhão de barris diários. A medida entrará em vigor a partir do início de maio.

Normalmente, quando um país ou cartel decide limitar a produção de determinado produto, isso é sinal de fraqueza do mercado daquele bem ou commodity.

Só que a grande vantagem da Arábia Saudita sobre os demais países produtores de petróleo é o seu custo de produção: US$ 5,40 por barril. Os sauditas nem têm as maiores reservas mundiais provadas de óleo cru, liderança essa que cabe à Venezuela. Nossos vizinhos do noroeste têm 304 bilhões de barris, a maior parte sob as águas do lago de Maracaibo, contra 259 bilhões sob o deserto e as águas costeiras da península Arábica.

No quesito produção, a Arábia Saudita está em terceiro lugar com 12.1% do total mundial, contra 13,1% da Rússia e 14,6% dos Estados Unidos. Acontece que os árabes têm dois trunfos: sua produção é quase que integralmente exportada e o preço de extração, tal como escrito acima, é baixíssimo.

Às vezes, os líderes ocidentais, num ataque de raiva, comentam entre si: “Sabe duma coisa, vamos partir para energias alternativas: petróleo de xisto, energia solar, eólica, renovável (como o etanol e o biodiesel).” Mas esbarram no preço. Então têm mesmo de comer na mão da OPEP+, cujo líder inconteste é o príncipe herdeiro saudita, Mohammed bin Salman. No frigir dos ovos, é ele quem manda, quem dá as cartas no mundo do petróleo.

A relação do Reino das Arábias com os Estados Unidos começou no início dos anos 1930. Eis como narro o fato na página 163 de meu livro Os mercadores da noite, edição da Inversa:

A primeira concessão para exploração do petróleo na península Arábica fora assinada, em 1933, entre o rei Ibn Saud e a Standard Oil da Califórnia. Mais tarde, essa concessão fora cedida à Aramco. Depois da Segunda Guerra, o engenheiro Jean Paul Getty, proprietário da Aminoil, conseguiu outra concessão e encontrou as maiores reservas da Terra, também na Arábia.”

Enquanto isso, diversas outras jazidas de petróleo eram descobertas no Oriente Médio. Desde essa época, até 1973, os países produtores trabalhavam em sociedades com empresas petrolíferas ocidentais, conhecidas como Sete Irmãs. O acordo entre eles era de fifty-fifty. Só que havia dois fatores extremamente lesivos aos árabes:

– o preço era mantido baixo, para manter a produção ocidental competitiva.

– no cálculo dos 50% para cada lado, as despesas eram infladas e debitadas dos produtores do Golfo Pérsico.

Embora tenha sido criada em 1960, tendo como membros fundadores Irã, Iraque, Kuwait, Arábia Saudita e Venezuela, a OPEC não tinha a menor importância. As Sete Irmãs não davam pelota para a organização, cuja sede ficava em Viena. Tudo isso mudou em 1973, após Israel ter derrotado o Egito e a Síria na guerra do Yom Kippur. A partir daí, a Arábia Saudita acertou, com os demais membros da OPEP, agora acrescida de diversos outros países produtores, um embargo ao Ocidente.

No primeiro mês, o output de petróleo foi cortado em 10%, com cortes de 5% nos meses subsequentes. Em apenas três meses, outubro, novembro e dezembro de 1973, o preço do barril, no mercado spot de Roterdam, subiu de três para 22 dólares (que foi quanto uma trading company japonesa pagou por uma remessa nigeriana), uma alta de mais de 600%, dando início ao primeiro choque de petróleo, que puniria o Ocidente com inflação e recessão.

Desde então, a palavra final no mercado de petróleo sempre coube aos sauditas. Isso tanto valia para punir consumidores ocidentais (grupo no qual curiosamente se inclui o Japão) como também para integrantes da própria OPEP, quando faziam trapaças e descumpriam acordos firmados no plenário de Viena.

Em 1990, por exemplo, havia um rígido acordo de cotas para defender os preços, uma vez que havia petróleo em abundância. Só que o Iraque, o Kuwait e os Emirados Árabes Unidos trapaceavam nas contas. Em represália, a Arábia Saudita saiu vendendo a torto e a direito, derrubando o preço do barril para oito dólares, o que tirava toda a competitividade dos produtores americanos. Foi preciso que George W. Bush, então vice-presidente de Ronald Reagan, viajasse a Riad para convencer os sauditas a diminuir a produção. Bush foi bem-sucedido em sua missão, embora não se saiba o que os Estados Unidos possam ter dado em troca. Armamentos? Talvez…

Quem estiver prestando atenção ao noticiário do mundo do petróleo, poderá observar que o atual dirigente máximo saudita está se aproximando cada vez mais da Rússia e até mesmo trocando sinais amistosos de fumaça com o grande inimigo, Irã. Mohammed bin Salman ainda tem dois problemas complicados para resolver. O primeiro é que a maior parte dos armamentos (inclusive, e principalmente, aviões militares) da Arábia Saudita é americana. O segundo é que os EUA mantêm cinco bases aéreas em território saudita.

Será que o belicoso Joe Biden sairá de lá numa boa?

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  1. Arábia pisca o olho para a China, mas está umbilicalmente ligada aos EUA. Ela deve ter prestado com muita atenção a facilidade como os EUA derrubaram o Khadafi e deixaram a síria se destruir.

  2. Gostei de ver um assunto de Economia aqui na Crusoé, principalmente tendo o Ivan no comando. Conhece tudo de Bolsa e de Aviação tb … sds

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