Agência Brasil/Fábio Rodrigues-PozzebomTorres, ainda como ministro da Justiça e Segurança Pública, em 2022: ele quer distância do clã familiar

Fio desencapado

Deprimido e em prisão preventiva, Anderson Torres é o homem que pode causar um curto-circuito no bolsonarismo
06.04.23

Preso há 83 dias, após os atos antidemocráticos de 8 de janeiro, Anderson Torres sente o peso da solidão, das saudades da família e do abandono por Jair Bolsonaro. Na cela improvisada no Batalhão de Aviação Operacional (Bavope) da Polícia Militar do Distrito Federal, o ex-ministro da Justiça procura ocupar a mente com o trabalho administrativo e as aulas de um curso técnico online, autorizados no dia 29 de março pela juíza da Vara de Execuções Penais, Leila Cury.

No recinto que lhe serve como cárcere, mobiliado com um sofá rasgado, uma mesa com quatro cadeiras e um banheiro de 3,75 metros quadrados, Torres desabafa com pessoas próximas. Ele se diz decepcionado com o ex-presidente por ele não ter lhe dirigido, desde a sua prisão, uma palavra de consolo e apoio. Deprimido, o ex-secretário confidenciou a interlocutores que a postura de Bolsonaro não condiz com o papel de um líder. “Ele ficou muito decepcionado desde o primeiro momento. Bolsonaro não fez nada para defendê-lo”, confidenciou um amigo próximo de Torres, sob condição de anonimato.

Isso explica, em parte, a decisão de Anderson Torres de trocar a sua defesa, antes patrocinada por Rodrigo Roca, ex-advogado de Flávio Bolsonaro e ligado ao clã, por Eumar Novacki, ex-secretário-executivo do Ministério da Agricultura no governo de Michel Temer e ex-chefe da Casa Civil do governador do DF Ibaneis Rocha. Torres quer distância da família Bolsonaro.

Ele se sente desconfortável com a minha proximidade com Flávio Bolsonaro. É natural”, comentou a Crusoé o advogado Rodrigo Roca um pouco antes de deixar a defesa de Torres. Roca sempre se declarou frontalmente contra a delação premiada por parte dos seus clientes: “Se um cliente meu optar pela delação eu deixo o caso.”

O ex-ministro da Justiça se sentia muito mais que desconfortável. “Ele se sentia controlado e temia interferência na sua estratégia jurídica por parte do ex-presidente e de seus filhos”, explica o amigo de Torres. Essa mesma pessoa disse que o ex-ministro buscava um advogado com bom trânsito tanto nos Tribunais quanto no Congresso.

Novacki, o novo advogado do ex-ministro, circula com desenvoltura no meio político desde quando atuou como secretário no Ministério da Agricultura sob Blairo Maggi. Ele afirmou em nota à imprensa que antes de se pronunciar sobre a linha de defesa, precisa se debruçar sobre a investigação. “Os autos do inquérito são extensos e, por este motivo, não vamos nos precipitar com comentários de qualquer natureza ou emitir posicionamento sobre quaisquer fatos, sejam eles novos ou não”, diz a nota.

A nova defesa pretende adotar uma atitude mais cooperativa com o Judiciário. A ordem é não entrar em confronto com o Supremo Tribunal Federal e concordar que os eventos de 8 de janeiro demandaram uma reação enérgica.

A mudança na defesa provocou especulações e acendeu a luz vermelha sobre uma possível delação premiada de Anderson Torres. Oficialmente, Eumar Novacki nega que seu cliente tenha algo a delatar ou interesse em fazê-lo. Na verdade, a medida está descartada “no momento”. Uma delação premiada de Anderson Torres que aproximasse Jair Bolsonaro dos atos antidemocráticos de 8 de janeiro teria um impacto atômico. O choque político seria imediato, ainda que efeitos jurídicos dependam da existência de provas contundentes.

A colaboração premiada é um meio probatório e já está pacificado que a palavra, por si só, de um colaborador da Justiça, não tem idoneidade para condenar uma pessoa. É preciso trazer dados de corroboração de que aquele fato realmente existiu”, diz Alexandre Wunderlich, advogado criminal e professor do mestrado profissional em direito do IDP-Brasília.

Wunderlich chama a atenção para a influência do estado emocional de Anderson Torres na decisão de uma possível delação premiada e diz, ainda, que as penas altas dos crimes contra o Estado de Direito podem incentivar o ex-ministro a seguir adiante num acordo de colaboração com a Polícia Federal.

Esses crimes têm penas altíssimas. As mínimas são de quatro anos. Ele está preso, numa situação de vulnerabilidade e com possibilidade de ficar bastante tempo na cadeia. Não é daqueles casos em que o réu paga uma cesta básica e voltar para casa”, diz o advogado criminal. “Isso certamente pesa na balança. Pode levar inclusive a uma delação imprópria, não amparada em material probatório robusto. Seria uma forma leviana de tentar escapar da prisão.

Enquanto a hipótese da delação segue em suspenso, Anderson Torres dedica-se a uma prosaica rotina nas dependências da Bavope. Diariamente, o ex-ministro se exercita, caminha e dedica-se à leitura durante uma hora por dia. Após a autorização da Vara de Execuções Penais, Torres passou a trabalhar internamente no quartel, realizando atividades administrativas, e se matriculou em um curso técnico online. O ex-ministro da Justiça pediu para cursar mecânica. Mas erraram a matrícula e Torres é hoje aluno de um curso de eletricista.

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  1. Crusoé vai de mal a pior.. uma pretensa jornalista que já começa seu “textículo” emitindo sua opinião própria.. descredencia suas informações.. dona menina..

  2. Alguém tem alguma dúvida, fora os otários, que esse plano terrorista foi arquitetado desde o primeiro turno? Compraram votos em todos os segmentos, impediram pessoas de votar, às vezes até matando mesmo. Cadeia para os Bozo e seus filhicianos.

    1. Essa comentarista é maluca..kkkkkk

  3. Esse ou teve excesso de ambição que o cegou ou é um delegado ingênuo. Nos dois casos, foi imbecil, pouco inteligente. Como passa em concurso?

  4. Porque é que ele está preso mesmo? Será que vai ter a mesma sina do goleiro Bruno, pois tanto assassino a sangue frio matam e ficam pouquíssimo tempo presso.

  5. Quem não entende o poder não pode dele participar o ministro foi um tolo e fez o jogo da quadrilha empoderada nas urnas por imbecís que o usa como boi de piranha como fez ao governador do DF para mascarar seus crimes já bem óbvios tanto que compram canalhas a peso de ouro para impedir a CPMI para apurar o 8 de janeiro e jamais deveria ter aceito o cargo de secretário antes de viajar aos EUA ... só ele ignora que o real alvo é outro.

    1. 👏👏👏👏👏👏👏👏👏👏👏👏👏👏👏👏👏👏

  6. Jura que Torres acreditou que Bolsonaro iria lhe direcionar alguma palavra de conforto ou solidariedade? Nunca se deu ao trabalho de observar a postura do chefe, que sempre abandonou apoiadores pelo caminho quando não mais eram necessários. Os casos são muitos. Para um delegado, Torres é bem primário.

    1. 👏👏👏👏👏👏👏👏👏👏👏👏👏👏👏

  7. Prisão em segunda instância Já. Homologação das delações premiadas... Tá na hora de tirar os ladrões de galinha da cadeia e substituir por esta corja de políticos safados...

  8. Impressionante a fidelidade de tanta gente a uma pessoa que demonstra interesse apenas pelos filhos e por si mesmo (veja o exemplo da própria esposa). Se havia uma trama articulada, precisa abrir o bico. Senão, que pague pela omissão e escolha errada de quem seguir cegamente. A ambição às vezes cobra um preço alto.

    1. Não se esqueçam que esse clã é miliciano, ir contra eles, pode ser uma sentença de morte.

  9. Ora Bola! O comportamento de Bolsonaro em relação ao relacionamento com Sergio Mora, quando seu Ministra da Justiça, era o suficiente para se prever o que está acontecendo com ANDERSON TORRES. O indivíduo pode ter suas paixões políticas, mas não ao ponto de dar murro em faca de ponta.

  10. Esse texto deveria contribuir para convencer todos aqueles que foram abandonados pelo mito sem nenhuma desculpa. Foi direto sim! Bozo fechou a porta do avião e foi passar férias na Disney. Aproveitou claro para avaliar, junto aos advogados, as estratégias para voltar ao Brasil sem ser preso. Aproveitou-se de um momento sensível do Lula (as pataquadas em cima de Moro) e está aí. Com gente estendo novamente as bandeiras do Bozo (bandeiras do Brasil). precisamos torcer para que se torne inelegível

  11. Não me espanta em nada mais um ex bolsonarista abandonado...que o diga Bebiano...lembram dele. BOZO como todo bom político só lembra do apoiador enquanto ele está sendo útil aos seus propósitos. Seria bem interessante uma delação desse Sr...muito mesmo, mas como as demais feitas contra o "descondenado" estão sendo questionadas...no nosso "País de M..." acaba tendo pouca ou nenhuma serventia. Quanto ao abandono, isso não acontece com o filhos....porque afinal filhos são filhos

    1. Ele não abandonou os filhos por enquanto, se for preciso ele abandona!

  12. Uma esquerdinha ( aquele que distorce ) no anta… que lamentável. Ela consulta o IDP veja só. Logo vence minha assinatura.

    1. É quem se esconde por detrás de um “epíteto” ou apelido pra disfarçar seu nome real.. não é nem mais nem menos que um medroso.. rs

    2. Acho uma graça nos "ainda bem que a minha assinatura está acabando". Então se comprar alguma coisa e ela se estragar na geladeira você vai comer tudinho (e ainda dirá "ainda bem que está acabando")? Se não vê qualidade no que lê, por que não para de acessar? Sua assinatura lhe dá o *direito* de acessar por um ano a revista, não a OBRIGAÇÃO. E não é aeroporto, nem precisa anunciar a partida...

    3. Sem querer entrar no mérito, mas apenas especulando, agora, mediante a recente decisão do STF acabando com a prisão especial, como fica a situação do ex-ministro? Vai ser levado para a cela comum?

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