A galhofa estúpida do amiguinho dos tiranões

Nem Cândido, de Voltaire, apostaria um centavo na permanência de um instrumento civilizatório como o de transportes de passageiros e encomendas nas cidades brasileiras neste subúrbio ocidental, em que se confunde Hamas com amor. Em seu terceiro mandato, o mais iletrado e menos armado dos líderes da patota que desgoverna a xepa de feira entregue aos baratões pôs fim aos vagidos de modernidade com mugidos da casta sindicalista, introduzida na cena republicana tupiniquim por Lindolfo Collor. O avô materno do playboy carioca-alagoano Fernandinho do Mundaú.

Lula Três, numa canetada, socorreu os cofres da viúva com impostos cobrados a empresas e empregados e sacados dos bolsos vazios da clientela. O ai-jesus de tiranos do Brics – Rússia, Índia, China e África do Sul – ora acrescidos de Egito e Etiópia – acha ser essa claque unida (e é?) capaz de guindá-lo ao Nobel da Paz e à secretaria-geral das Nações Unidas.

Por enquanto usa essa indevida licença da réplica atual do Eixo Roma-Berlim-Tóquio para gozar seus mantenedores com humor de bas-fond. Ele pontificou: “Quando vocês conversarem com alguém que faça crítica à carga tributária perguntem se o imposto aumentou. A verdade é que as pessoas estão pagando mais porque estão ganhando mais”. E parodiou o pagante: “A gente paga tanto imposto! Eu tenho um apartamentozinho. Por que é que eu pago tanto imposto?” E só então atingiu o cerne da questão: ele sabe onde buscar os fundos. “Eu quero dizer pros trabalhadores o seguinte: no Brasil a gente tem uma cultura, que não é culpa de ninguém. É uma coisa histórica. Toda vez que a gente paga imposto de uma propriedade nossa, a gente acha que o imposto é muito. A gente fala: Eu tenho uma casinha. Por que é que eu pago tanto imposto? Eu tenho um apartamentozinho. Por que é que eu pago tanto imposto? Na hora de pagar é tudo pequenininho, é uma casinha pobrezinha, sabe?”. E isso ele dirige diretamente a você, ou seja, a todos nós, que lhe pagamos o dízimo em bilhões: “Quando você quer vender, é um apartamentozão. É uma casona. Aí você aumenta tudo. Você quer ter uma participação maior na fatia do que você vende”. E ainda recorreu a uma coitada irmã que vive de um salário mínimo porque o marido caminhoneiro não quis pagar a Previdência, como ele sempre recomendava.

Esta piada recolherá R$ 300 milhões dos entregadores e clientes do iFood e muitos do Uber. Lula sabe que o iFood mudou o mundo. E os administradores do negócio argumentam em vão de que seus entregadores não se preocupam com o seguro da moto, de vida ou com invalidez. Cada vez mais têm de lutar pela sobrevivência diária e pela correção nas entregas.

“Eu estava falando com o Jaques Wagner (senador), que é da Bahia. O iFood é da Bahia e o iFood não quer negociar. Mas nós vamos encher tanto o saco que o iFood vai ter que negociar para fazer aquilo que vocês fizeram no (sic) transportes”, ameaçou.

João Sabino, diretor do iFood, gastou em vão seu português falando uma língua que Lula não respeita, mas respondeu: “O valor de uma entrega é menor do que o valor de uma corrida de carro, até porque os custos são menores. A consequência disso é que atingir o piso mínimo para estar na previdência é muito mais difícil para o entregador”. Só jogou saliva fora.

Na condição de classe média dependente de aplicativos e entregas domiciliares, o autor deste texto deixa ao léu uma perguntinha para o senhor mezzopresidente sobre um assunto da hora: o cabo PMRJ Roy Cavalcanti atirou pelas costas no entregador Nilton de Oliveira, agora em estado grave no hospital Salgado Filho. A polícia considerou legítima defesa e liberou o policial e sua arma. A família da vítima diz que foi intimidada pelos PMs. Alguém duvida? Sua Insolência do Brics certamente encontrará milhões de fanáticos para garantir que este não é um assunto do magnânimo petista. Mas é. No caso, trabalhador é vítima. E o PT dele, capacho conivente da casta soberana.

Para completar este texto inútil, que nenhum militante se importará se ele não responder, aviso que o  Brasil ocupa a segunda posição no ranking de cobrança de impostos de empresas neste instante em que comemora ascensão para décima maior economia. E talvez não tenha tempo para comemorar esse vice campeonato. O levantamento foi feito com 111 países, pela plataforma CupomValido, com dados da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). Considerando todos os impostos, as empresas brasileiras pagam uma alíquota média de 34%. Em comparação com a média mundial, esse valor é 70% maior do que nos demais países. Além disso, a média de cobranças de impostos é apenas 1% menor do que em Malta, país que lidera o ranking. Ou seja, com a fúria com que Lula Três, Jacques Wagner, Luís Marinho e Fernando Haddad trabalham, não será difícil superar a pequena Malta.

O valor dos impostos no Brasil também é maior do que em países desenvolvidos. Nos Estados Unidos, a alíquota média é de 25%. No Japão, de 30%; no Reino Unido, 19%. Considerando os 11 países avaliados pela CupomValido, o valor médio de todos eles é de 20%. E mais: estudo feito pelo Instituto Brasileiro de Planejamento Tributário (IBPT) mostra que, dentre 30 países pesquisados, o Brasil oferece o pior retorno em benefícios à população dos valores arrecadados por impostos. É isso que o filho de seu Aristides, que batia nos descendentes que ousassem frequentar escola, chamaria de cultura nacional de reclamar de impostos?
José Nêumanne Pinto é jornalista, poeta e escritor