Chocolate no Planalto
Parceiro de Flávio Bolsonaro em uma franquia da rede Kopenhagen no Rio de Janeiro que, sustenta o Ministério Público, era usada para lavar dinheiro do “rachid” operado no antigo gabinete do senador na Assembleia Legislativa local, Alexandre Ferreira Dias Santini se transferiu para Brasília. Hoje, ele ocupa um apartamento de um hotel vizinho ao Palácio da Alvorada, a residência oficial do presidente da República, e tem participado de encontros com lobistas e políticos nos quais, com frequência, se apresenta como representante dos “interesses” de Flávio. Segundo relatos obtidos por Crusoé junto a fontes a par da atuação de Santini, ele também usa o nome do senador para “prospectar negócios”. O amigo do peito do filho 01 de Jair Bolsonaro chegou sem prezar muito pela discrição. Seu número de telefone é compartilhado sem reservas por gente interessada em se aproximar, por algum motivo, do senador.
As ligações de Alexandre Santini com Flávio Bolsonaro são estreitas e antigas, embora ele tenha ganhado notoriedade apenas na esteira das investigações sobre o rachid, que alcançaram as movimentações financeiras da loja de chocolates da Barra da Tijuca na qual ambos foram sócios por seis anos. A chegada do amigo de Flávio a Brasília foi marcada pelo surgimento de um negócio um tanto obscuro. Ainda no ano passado, ele fundou uma empresa de tecnologia de informação na cidade. Com capital social de 105 mil reais, a Santitech Suporte em Tecnologia da Informação se propunha, no papel, a oferecer “suporte técnico, construção de estações e redes de telecomunicações, instalação e manutenção elétrica e desenvolvimento e licenciamento de programas de computador customizáveis”. A empresa, porém, não durou muito. Misteriosamente, ela foi fechada meses depois de ser registrada na Junta Comercial. No endereço onde a Santitech deveria ter aberto as portas, há apenas um terreno que parece servir de estacionamento. Na vizinhança, ninguém nunca ouviu falar nem da empresa nem do próprio Santini.
Pela sua relevância nas investigações que envolvem Flávio Bolsonaro, Alexandre Santini é daqueles personagens que, assim como Fabrício Queiroz, detêm segredos preciosos. De acordo com o MP fluminense, o nome dele foi usado apenas para que Flávio não ficasse sozinho na sociedade da loja de chocolates e para simular a divisão do investimento feito na franquia, cuja origem Flávio não teria como explicar. “Como Flávio e Fernanda (a mulher do senador) não possuíam fontes de receitas lícitas para custear sequer a metade do investimento para aquisição e operação da loja Kopenhagen, a informação de que o administrador Alexandre Santini teria dividido os custos do empreendimento pode ter sido falsamente inserida nos contratos com a finalidade de acobertar a inserção de recursos decorrentes do esquema”, escreveram os promotores.
Em janeiro deste ano, já depois da eclosão do escândalo, Flávio Bolsonaro e Alexandre Santini abriram mão da franquia. Hoje, a loja é administrada pela empresa que controla a marca Kopenhagen. Quando a dupla se desligou do empreendimento, Santini aceitou assumir futuras dívidas que viessem a surgir. A trama envolvendo a chocolateria ganhou novos capítulos recentemente. Após a revelação, pelo Antagonista, da compra de uma mansão de 6 milhões de reais em Brasília, Flávio afirmou ter usado o dinheiro do encerramento das atividades da loja para pagar uma parte do imóvel. Em outro episódio, investigadores encontraram indícios de que Santini seria um elo entre Flávio e Fabrício Queiroz. Em anotações apreendidas com a mulher de Queiroz, o nome de Santini aparecia entre as pessoas que poderiam ser acionadas caso o ex-assessor de Flávio e operador do esquema “rachid” fosse preso.
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