ReproduçãoCaiado, Netanyahu e Tarcísio: paradiplomacia em ação

Contraponto diplomático

Viagem dos governadores Ronaldo Caiado e Tarcísio de Freitas a Israel traz alívio após declarações de Lula e atenua a tensão entre os dois países
21.03.24

Ao conduzir uma política externa ideológica e partidária, o presidente Lula afastou o Brasil de Israel. Quando comparou a ofensiva contra o Hamas na Faixa de Gaza ao Holocausto de judeus na Segunda Guerra Mundial, o petista tornou-se persona non grata em Jerusalém. Em seguida, autoridades israelenses passaram a criticar o governo brasileiro em publicações na internet. Lula dobrou a aposta e seguiu acusando o país de genocídio e outros crimes bárbaros em toda oportunidade. Esta semana, a crise bilateral foi atenuada com a visita dos governadores Tarcísio de Freitas, de São Paulo, e Ronaldo Caiado, de Goiás, a Israel. Ainda que a viagem não tenha melhorado a relação entre os dois governos, os encontros foram um alívio para brasileiros, israelenses e judeus do mundo todo, que estavam fartos das frases de Lula.

A iniciativa de convidar os dois governadores partiu de brasileiros que vivem em Raanana, a 20 quilômetros de Tel Aviv. Foram eles que arcaram com os custos. O ex-presidente Jair Bolsonaro também foi sondado, mas está impedido de viajar porque seu passaporte foi retido pelo Supremo Tribunal Federal. Com a viagem já acertada, o governo de Israel tomou conhecimento e aproveitou para promover reuniões oficiais com os visitantes. No encontro com o presidente Isaac Herzog, Caiado deu a declaração mais forte: “Peço desculpas em nome do meu povo, de nós brasileiros, pelas declarações feitas pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva que, ao desconhecer totalmente a história, fez uma comparação a mais desastrosa possível agredindo o povo judeu”. Em seguida, os dois estiveram com o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu. Na quarta, 20, eles participaram de um evento e discursaram. “Não ao Hamas, não ao Hezbollah, não ao terrorismo. A posição do povo brasileiro nada tem a ver com a de seu presidente“, disse Tarcísio.

As frases foram muito bem recebidas e aplaudidas, pois alteraram em parte a má imagem do Brasil no exterior. “Para a comunidade brasileira, é a certeza de que temos políticos que apoiam Israel. Para o Brasil, é a expectativa futura de uma relação mais leve e producente do que temos hoje”, disse o rabino Alberto Rabinovitsch, um dos organizadores da visita, ao jornal Israel de Fato.

O que se colocou em movimento nos últimos dias em Israel é uma prática corriqueira, conhecida como paradiplomacia, ou diplomacia paralela. Ela acontece quando governantes ou diplomatas de um país interagem com entidades “subnacionais”: representantes eleitos de níveis inferiores, como governadores e prefeitos (não estamos falando, claro, de partidos políticos, pois isso seria interferência indevida).

A paradiplomacia é utilizada, primeiramente, para promover interesses dos dois lados. O estado de São Paulo, por exemplo, tem um escritório comercial em Xangai, na China. Outro uso que tem sido mais frequente nos últimos anos é quando se quer contornar uma crise nas relações formais entre dois países.

Curiosamente, a paradiplomacia foi muito empregada no governo de Jair Bolsonaro, quando outros países e organizações internacionais se aproximaram de governadores da Amazônia Legal e membros da sociedade civil para falar sobre meio ambiente e desmatamento. Na Conferência da ONU para Mudanças Climáticas, a COP 27, que aconteceu no Egito, chegou-se ao absurdo de o Brasil ter três estandes simultâneos: um do governo federal, outro dos governos estaduais e outro da sociedade civil organizada. Dessa forma, a falta de tino do governo federal para a questão ambiental foi compensada pela ação das entidades subnacionais, em um processo muito semelhante ao que ocorre agora com Israel.

Outro exemplo de paradiplomacia se deu quando Jair Bolsonaro, com declarações vergonhosas sobre a primeira-dama francesa, esfriou as relações com a França e o presidente Emmanuel Macron, que andava incomodando o presidente brasileiro com críticas ao desmatamento na Amazônia. Em 2019, Bolsonaro cancelou um encontro com o ministro francês Jean-Yves Le Drian. No horário marcado, o então presidente publicou uma foto sua cortando cabelo. Em seguida, o ministro Drian encontrou-se com o governador de São Paulo João Doria.

Em todos esses casos, a paradiplomacia contornou obstáculos às relações entre os países e avançou em pautas de interesse das sociedades. Mas é claro também que todos os atores políticos se movem por seus próprios cálculos e interesses. “O presidente israelense Isaac Herzog tem aceitado todos os convites que aparecem, como uma maneira de tentar romper o isolamento de Israel em boa parte do mundo“, diz Anita Efraim, coordenadora de comunicação do Instituto Brasil-Israel. Netanyahu, por sua vez, teve uma queda em sua aprovação desde o ataque do 7 de outubro, e busca recuperar seu capital político atacando inimigos, ainda que pouca gente em Israel esteja prestando atenção na sua rixa com Lula.

Ronaldo Caiado e Tarcísio Freitas têm interesse em se mostrar como representantes da oposição a Lula e se colocar como possíveis candidatos nas eleições presidenciais de 2026. “Essa viagem para Israel deu uma sinalização clara de que existem pessoas capazes de ocupar o espaço deixado pela inelegibilidade de Bolsonaro“, diz o cientista político Bruno Soller. “Acredito até mesmo que isso tenha sido combinado com Bolsonaro. Os dois governadores parecem ter viajado para cumprir uma missão, a de mostrar que há uma frente ligada ao ex-presidente e disposta a enfrentar Lula;”

Os comentários não representam a opinião do site. A responsabilidade é do autor da mensagem. Em respeito a todos os leitores, não são publicados comentários que contenham palavras ou conteúdos ofensivos.

500
  1. Parabéns a Ronaldo Caiado e a Tarcísio de Freitas! Ainda existem homens honestos e bons no Brasil, ainda temos esperança! Parabéns Duda Teixeira.

  2. Foi boa a visita dos governadores Caiado e Tarcísio, mostrou ao povo e governo israelense que nem todos no Brasil são contra Israel e que Lula não representa o povo brasileiro. Com suas declarações ridículas e irresponsáveis perde cada vez mais pontos na aprovação dos eleitores.

    1. Vocês tem que entender que que Lula é semianalfabeto e que fala é faz o que Celso Amorim manda

  3. 2 presidenciáveis fincando o pé junto de uma enorme fatia do eleitorado que despreza a atitude do governo Lula ante a Guerra em Gaza e o Estado de Israel. É politiquice inofensiva.

Mais notícias
Assine agora
TOPO