Caindo na realeza

Todos os dias eu acordo, faço as minhas abluções matinais, excreto meus efluentes corporais e, em seguida, tomo o meu café descafeinado, como meu pão desmanteigado, engulo uma batelada de remédios genéricos tarja preta e faço a minha dancinha pro TikTok. Não necessariamente nessa ordem.

Só depois de realizadas essas tarefas obrigatórias, começo a me informar sobre as principais notícias do Globo. Da Folha, do Estadão e do Antagonista também.  Assim, posso afirmar que, na maioria dos dias, não acontece nada. Nos outros, também. Como nada me interessa, dedico toda a minha atenção a me informar sobre nada, em todos os seus detalhes.

Quando já sei tudo sobre nada, às vezes, acontece algo que chama a minha atenção. É o caso da princesa Kate Middleton que recentemente desapareceu. Imediatamente a imprensa sensacionalista mundial começou a produzir uma série de teorias da conspiração sobre o sumiço da futura rainha da Inglaterra, porque o Ray Charles, quer dizer, o rei Charles, coitado, está pela Bola 7 na beirola da caçapa.

Uns disseram que a princesa fez uma cirurgia no estômago mas eu não acredito nisso porque a Kate não tem barriga, é magra que nem um esquálido faquir  desempregado e só deve se alimentar de bolachas que o príncipe William lhe dá. Outros afirmaram que a nobre criatura estava preparando um golpe com o ex-presidente Jair Bolsonazi que não aceita o resultado da morte da rainha Elizabeth II que, na vida real , protagonizou a séria The Créu, quer dizer, The Crown.

Já o Leo Dias tem certeza que Kate Middleton estava sofrendo de depressão profunda ao descobrir que seu esposo, o príncipe William, estava lhe traindo com outra. Para mim isso não é surpresa. Em primeiro lugar, porque o adultério é a única diversão permitida aos membros da família real inglesa, desde que não espante os cavalos, é claro. E, em segundo lugar, porque William é filho da inesquecível Lady Di, também conhecida como Avadia de Westminster.

Aqui mudo o rumo dessa prosa para recordar, comovido, as minhas aventuras com a finada Lady Di. Todos sabem que a princesa foi uma chupada de ar fresco, quer dizer, uma lufada de ar fresco na encarquilhada monarquia britânica. Humilde, Lady Di não gostava que seus súditos se ajoelhassem na frente dela, ao contrário, fazia questão de se ajoelhar ela mesma diante dos seus súditos. Indignada com as traições do príncipe Charles, Lady Di resolveu botar a boca no trombone e em todos os outros instrumentos de sopro revelando tudo no meu microfone cabeludo durante uma entrevista coletiva grupal.

A Casa de Windsor quase caiu quando Di revelou que também pulava a cerca do Palácio de Buckingham. Dado a altura dos muros do castelo, o escândalo transformou o palácio num enorme barraco. Lady Di teve como amantes o Rei do Bacalhau, o Príncipe das Peixadas, o Conde da Leiteria e até mesmo o Barão das Ferragens. Diante daquela chocante revelação, os ingleses se perguntaram: como poderia Charles colocar na cabeça a cobiçada coroa britânica se ela, a sua cabeça, estava ocupada por um frondoso par de chifres?

Injuriado com a revelação pública de sua cornitude, Charles exilou-se na remota Cornualha com sua amante Camila Parker Bowles, o Monstro de Loch Ness. Por sua vez, Lady Di começou a namorar o milionário Dodi Alfayate, dono da Harrod´s e do Habib´s. Um dia, em Paris, os dois saíram pra comprar cigarro, faleceram tragicamente num acidente automobilístico e foram felizes para sempre.

Agamenon Mendes Pedreira é o Coroa brasileiro

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