ReproduçãoThiago Martins, o Chiclete: dinheiro de Vermelho foi para realizar "investimentos"

Vermelho e Chiclete S/A

O hacker de Araraquara entregou 100 mil reais ao programador de Brasília preso sob suspeita de participar da invasão ao Telegram de autoridades
04.10.19

Na semana passada, Crusoé revelou que os hackers que invadiram contas de Telegram de centenas de autoridades brasileiras tentaram vender o conteúdo das conversas roubadas para o americano Glenn Greenwald. A tentativa de venda para o editor do site The Intercept Brasil não teria sido bem-sucedida, mas a Polícia Federal segue apurando se, antes de Greenwald receber o material, algum interessado em que as mensagens viessem a público bancou a ação criminosa.

Crusoé teve acesso a novos desdobramentos da investigação que mostram que a PF agora tenta esquadrinhar uma transação de 100 mil reais entre os dois principais suspeitos de envolvimento nos ataques até agora: Walter Delgatti Neto, o Vermelho, e o programador de computadores Thiago Eliezer Santos, o Chiclete.

Entre todos os investigados, Chiclete é o mais experiente em informática. Ouvido pelo delegado Luiz Flávio Zampronha após ser detido na segunda fase da Operação Spoofing, ele se esquivou de várias perguntas e negou qualquer relação com os ataques a celulares de autoridades, mas admitiu que apagou os arquivos de seus computadores após seu nome vir à tona em reportagem publicada por Crusoé.

Se as respostas de Chiclete não ajudam a clarear o caso, as perguntas do delegado indicam o caminho do dinheiro que a polícia está seguindo a partir da quebra do sigilo dos envolvidos. Chiclete foi indagado sobre sua relação com Vermelho, sobre a venda de uma Land Rover para ele e sobre seu suposto papel de “mentor” do hacker.

Foi justamente nessa parte do depoimento que o programador admitiu ter recebido 100 mil reais de Delgatti. O valor, disse, foi entregue para que ele fizesse “investimentos” em nome de Vermelho. Chiclete disse ao delegado que desenvolveu um aplicativo cuja funcionalidade seria fazer investimentos no mercado financeiro. Segundo ele, os 100 mil entregues por Vermelho seriam investidos por meio dessa ferramenta, que nunca chegou a funcionar.

ReproduçãoReproduçãoDelgatti, o Vermelho: carros de luxo negociados com amigo de Brasília
Desde que foi preso, Delgatti prestou ao menos três depoimentos nos quais nunca mencionou aplicativo nem o repasse desse dinheiro para Chiclete. Os investigadores já haviam identificado também um escritório de assessoria financeira onde o programador atuava em Taguatinga, um dos endereços das buscas realizadas na segunda fase da Spoofing.

Além da transação inédita com Vermelho, durante o depoimento o delegado trouxe um nome que até então não havia aparecido nas investigações. Ele perguntou a Chiclete sobre pagamentos feitos a ele por um certo Daniel Raw Sanches. O programador disse não se lembrar de ter recebido valores de Raw, que, disse, é “primo de um conhecido de Goiânia”.

Chiclete negou ter participado dos ataques e afirmou que soube da ação de Vermelho uma semana antes da divulgação das primeiras mensagens pelo site The Intercept, em 9 de junho. Ele disse nunca ter ouvido nada sobre o interesse de Vermelho em vender o material. Como já mostrou Crusoé, as perícias da PF nos computadores apreendidos mostram que os dois mantinham contatos frequentes, por meio de aplicativos de mensagens e de ligações pela internet.

O programador disse ao delegado ter negociado dois veículos Land Rover com Chiclete. Em um primeiro momento, teria vendido uma SUV da marca para o hacker por 130 mil reais. A transação, porém, não teria sido concluída. O carro tinha sido comprado de um ex-jogador de futebol, Túlio Guerreiro, que fez carreira em grandes clubes como Botafogo e Corinthians. A segunda Land Rover teria sido repassada por Chiclete a Vermelho por 40 mil reais. Ainda há muito o que esclarecer na relação mantida pelos dois. Entre tantas transações obscuras, a chave para os investigadores é a de sempre: seguir os rastros do dinheiro.

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