ReproduçãoKhamenei: ele já disse que não usaria armas nucleares, mas pode falar o contrário agora

Pavio aceso

Com medo de uma resposta militar israelense, Irã fala em rever sua "doutrina nuclear"
19.04.24

Se o Oriente Médio é um barril de pólvora, então o pavio foi aceso no sábado, 13. Pela primeira vez em sua história, a teocracia iraniana realizou um ataque direto contra Israel. Drones e mísseis de cruzeiro foram enviados com antecedência para confundir os sistemas de defesa aérea e abrir o caminho para mísseis balísticos com 400 quilos de explosivos e capacidade para arrasar tudo em um raio de dois quarteirões. Em seguida, Israel prometeu uma resposta. Na quinta, 18, um comandante da Guarda Revolucionária do Irã disse que o seu país poderia rever a sua “doutrina nuclear“, indicando que a bomba atômica poderia sair do forno em breve. O barril de pólvora, se detonado, poderia ter consequências para o mundo todo.

Quando os iranianos falam em “doutrina nuclear“, eles estão se referindo a uma fátua promulgada pelo líder supremo aiatolá Ali Khamenei, em 2003. As fátuas (fatwas, em inglês) são respostas que os líderes religiosos dão a perguntas diversas. Uma vez ditas ou escritas, elas passam a ter a validade de uma lei. “A República Islâmica do Irã, com base nas suas crenças religiosas e jurídicas fundamentais, nunca recorrerá ao uso de armas de destruição em massa”, disse Khamenei, há mais de vinte anos.

Apesar dessa frase, o Irã sempre seguiu investindo na produção de material para as ogivas nucleares e também em mísseis capazes de carregá-las. Fabricar uma bomba nuclear, afinal, não significa usá-la, como disse Khamenei. Sendo assim, as centrífugas de enriquecimento de urânio seguiram operando. O Irã afirmava que o propósito era a produção de energia, mas para tanto bastaria que o urânio fosse enriquecido a 5%. O país, contudo, passou muito desse limite e já enriquece o urânio a 60%.

A especulação é que a fátua banindo armas nucleares foi dita principalmente para enganar os estrangeiros. Além disso, essa pode ter sido uma maneira de acalmar a população iraniana que quer a bomba, mas que está triste porque ela ainda não ficou pronta. O programa nuclear iraniano, afinal, é usado internamente para ativar o orgulho nacional.

Mudar a “doutrina nuclear” não seria problema algum. Uma fátua pode muito bem ser alterada por uma nova fátua. Além disso, qualquer coisa que o líder supremo diga está acima de qualquer outra coisa, sejam leis ou decisões do Legislativo ou do Judiciário. Por fim, o programa nuclear é de incumbência exclusiva do líder supremo, que faz o que bem entender com ele.

Com a confirmação que haverá retaliação por parte de Israel, em algum momento, Khamenei pode ter ficado preocupado com as consequências de um ataque, o que por sua vez poderia animar a oposição interna ao regime. A bomba nuclear, assim, poderia atuar como um fator de dissuasão. Desde que os Estados Unidos lançaram duas bombas no Japão em 1945 para conseguir a rendição do imperador, esses artefatos têm sido usado eficientemente por países para demover seus inimigos de lançarem ataques.

Caso o Irã tome a decisão de ter a sua bomba, a linha de produção da bomba não irá demorar muito tempo para terminá-la. De acordo com a Federação de Cientistas Americanos, que monitora o trabalho iraniano, caso o Irã use o urânio já enriquecido a 20% e 60%, poderia ter material suficiente para seis bombas (para tanto, o urânio precisa ser enriquecido a 90%). “Teerã poderia produzir o material para a primeira bomba em cerca de uma semana — um período de tempo que tem se mantido constante por meses — e para outras cinco bombas em um mês“, escreveu a Federação em um relatório de setembro do ano passado.

Mas o Irã também poderia simplesmente ter como objetivo o de destruir Israel. Nesse caso, o mais recomendável seria que a Força Aérea Israelense não demorasse muito para bombardear as instalações nucleares iranianas. O problema, nesse caso, é que as instalações estão espalhadas pelo território do país e estão muito bem protegidas debaixo da terra. Não apenas elas não seriam facilmente destruídas, como o conhecimento técnico para produzi-las já foi adquirido e não poderia ser eliminado.

O pavio, enfim, já foi aceso, e dificilmente será apagado.

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  1. Xiitas do inferno. Não fosse preço do barril de petróleo Israel já teria explodido o programa nuclear deles ,baseaereas e fábricas de armas

  2. Sinceramente não faz diferença. Já temos armas nucleares nas mãos de Rússia, China, Coreia do norte, Índia e Paquistão. O acesso do Iran ao armamento nuclear não agravará a situação periclitante em que nos encontramos.

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