CBF OficialApresentação do técnico da seleção brasileira Dorival Júnior

Os cartolas ocos

O futebol brasileiro não deve acabar com uma explosão, mas com uma canetada de Gilmar Mendes
12.01.24

T. S. Eliot termina desta forma um de seus poemas mais célebres: “Assim expira o mundo / Não com uma explosão, mas um gemido”. A julgar pelos últimos acontecimentos envolvendo a CBF, o futebol brasileiro também não deve acabar com uma explosão, mas com uma canetada de Gilmar Mendes.

Os capítulos mais recentes da crise da Confederação Brasileira de Futebol foram escritos com sadismo. Ednaldo Rodrigues, que chegou à presidência da instituição por acaso, foi retirado do posto também por acaso — mais precisamente pelo Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro (TJ-RJ), que considerou sua eleição ilegal, por ter sido mediada pelo Ministério Público do Rio, a pedido de Ednaldo.

Ednaldo assumiu o cargo máximo interinamente, em agosto de 2021, porque era um dos vice-presidentes da CBF quando caiu Rogério Caboclo, acusado de assédio moral e sexual, e posteriormente inocentado em todos os processos. Outro vice-presidente à época questionou na Justiça a eleição que confirmou Ednaldo no posto. O resultado no TJ-RJ só saiu agora, em dezembro de 2023.

Já seria trágico o bastante, mas os antecessores de Ednaldo e Caboclo no comando da CBF, entre eles Ricardo Teixeira, Marco Polo Del Nero e José Maria Marin, tiveram destinos ainda piores: ou foram presos ou banidos para sempre do futebol.

Enquanto estava fora do cargo, Ednaldo disse que não pretendia mais disputar o poder na CBF. Prometeu não concorrer nem na eleição que o interventor José Perdiz promoveria em fevereiro, nem no próximo pleito oficial, de 2025. Então o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Gilmar Mendes pediu a bola na entrada da área e resolveu o jogo.

Mendes expediu liminar para devolver Ednaldo ao cargo, apesar de estar em posição duvidosa. A CBF fechou em agosto uma parceria com o IDP (Instituto Brasileiro de Ensino, Desenvolvimento e Pesquisa), fundado por Mendes. O IDP tem entre os sócios Francisco Mendes, filho do ministro, que comprou sua parte de Paulo Gonet, procurador-geral da República — Gonet, aliás, deu parecer favorável ao retorno de Ednaldo ao cargo.

Tanto Gonet quanto Mendes basearam suas posições no risco de o time de futebol do Brasil ficar de fora das Olimpíadas de Paris. A Fifa e a Conmebol, que comandam o futebol no mundo e na América do Sul, respectivamente, enviaram missão ao Brasil para acompanhar o caso, alertando que não aceitam interferência externa nas confederações.

A volta de Ednaldo ao cargo tranquilizou as duas entidades, mas o caso ainda não acabou. O árbitro de vídeo (VAR)3 — ou o plenário do STF — ainda precisa analisar o caso, pois a decisão de Mendes é provisória. Mesmo assim — ou exatamente por causa disso —, Ednaldo voltou ao cargo cheio de atitude.

O presidente da CBF humilhou o treinador campeão da América, Fernando Diniz, e anunciou sua demissão antecipada. Ednaldo chamou para o cargo alguém que sabia que não conseguiria dizer “não” e interrompeu, assim, o bom trabalho de Dorival Júnior no São Paulo.

Dorival era a opção de segurança. É o atual bicampeão da Copa do Brasil e ganhou a Libertadores com o Flamengo em 2022. Mas convocá-lo nessa condição de incerteza é covardia, pode queimar a chance por que ele esperava há anos. A gestão de Ednaldo ficará marcada, contudo, pela ausência de Carlo Ancelotti.

Prometido pelo presidente da CBF há meses, o treinador italiano renovou seu contrato com o Real Madrid até 2026 na virada do ano. A seleção brasileira de futebol ficou pendurada nessa promessa desde a saída de Tite do cargo, em 2022, e vem sendo comandada por treinadores interinos desde então — além de Diniz, que dividiu suas atenções entre seleção e Fluminense, Ramon Menezes também não convenceu no cargo.

Nós somos os homens ocos / Nós somos os homens empalhados / Inclinando-nos juntos / O elmo cheio de palha. Ai de nós! / Nossas vozes secas, quando / Sussurramos juntos / São silenciosas e sem sentido / Como o vento na grama seca / Ou pés de rato sobre cacos de vidro / Em nossa adega seca”, dizem Os Homens Ocos de Eliot. Eles também não sabem nada de bola.

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  1. A CBF e o Brasil, comandados por cartolas e particionadores, ultima coisa que se preocupam e com seleção brasileira. E o Brasil governado pelo centrão, que está mais preocupado com emendas impositivas. E o PR, preocupado em ser líder mundial.

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