Roque de Sá/Agência SenadoA "reação vitoriosa" , no ato pela democracia de 8 de Janeiro de 2024

Dois lados do mesmo saco da farinha fascistoide

Nem golpistas de 8 de janeiro eram dignos de representar a direita clássica nem esquerda petista comanda sozinha a tal democracia do amor
12.01.24

O vandalismo desenfreado, desabusado e destrutivo praticado em 8 de janeiro de 2023 em nada representa os integralistas comandados por Plínio Salgado, que protagonizaram o golpe frustrado contra Getúlio em 1937. Nem sequer foi digno de repetir a ignorância total do líder boçal da bandalheira, o mau militar (apud general Geisel) Jair Bolsonaro. Ou sequer as pacíficas marchas pela família e propriedade que compuseram o lado civil e religioso dos ditadores que tomaram o poder por elas inspirados teoricamente para provocarem a deposição do fraco e indefeso estancieiro gaúcho sem tropas João Goulart. Tratou-se de um golpinho mixuruca sem tanques (como, de resto, seria o bem-sucedido pronunciamento do Estado Novo, que resultou dos aventureiros de camisa verde nos anos 30, longe de seguirem os passos de Benito Mussolini, seu inspirador bem-sucedido pelo menos até a vitória aliada contra a desventura nazista e imperialista nipônica, em 1945). Um bando de analfabetos abastados ou de classe média alta destruiu patrimônio púbico em palácio como se, com isso, vandalizassem as instituições republicanas, que nada tinham a ver.

Tão farsesca quanto os fatos que a inspiraram, a manifestação de 8 de janeiro de 2024 significou apenas a reação vitoriosa, como sempre, em golpes ou eleições de 8 de janeiro deste corrente 2024, malogro cômico em geral do Oiapoque ao Chuí, como se dizia quando havia um mínimo sentimento de unidade nacional neste país despedaçado. Este pronunciou-se nas urnas pondo fim à lorota bolsonarista do falso populismo nazifascista adaptado aos trópicos. E a esquerda populista à Nicarágua, Cuba, Rússia, China, Coréia do Norte e Hamas tomou posse dos cargos disponíveis ou criados, mas não totalmente do mando sobre a republiqueta de sempre, não instaurada pelo golpinho de 1889 por um marechal dodói e outro com ganas de vice legal de uma tirania militar clássica como tantas outras na América Latina. Lula ganhou apertado, mas com votos suficientes para nomear nulidades como Marina Silva no Meio Ambiente e Flávio Dino primeiro na Justiça e Segurança Pública e posteriormente no Supremo Tribunal Federal. Não faltam sôfregos demolidores trêfegos do patrimônio geral tratando cidadãos como equinos de seu haras, como o absurdo Juscelino Filho, que desonra a inspiração, o pai e o espírito santo, amém.

O ex-sindicalista sentiu-se autorizado a tentar fazer do tal do Brics de aprendizes de tiranos em ONU de invasores de territórios alheios, com a ironia suprema de nomear a inoperante Dilma Rousseff, que quebrou o país e só foi punida nas urnas no pleito para o Senado em seu estado natal, Minas, gerente de banco, com direito de ser malcriada com uma pagadora de seu salário milionário. Imposto cobrindo impostora.

Na base desse vértice deita-se o ex-carregador de pasta do protagonista do impeachment da citada senhora, Artur Lira, sub-Eduardo Caranguejo Cunha, coronelzinho de eito, desmandando no país no topo de uma castocracia representada por líderes de minúsculas bancadas ilegais, que violam descaradamente a emenda constitucional de barreira de partidos nanicos. Cada bancada que não representa a diversidade nacional tem um líder que, num regime de governo inexistente, chamado emenda de relator, opera o absurdo semântico e institucional do bilionário orçamento secreto. Esse sistema foi gerado no ventre do ignoto imprevisto na ordem constitucional ainda vigente do poder tripartite, que deveria coexistir não na harmonia de quartéis e tribunais, mas sim de partidos legítimos, que nada teriam a ver com marajás do desserviço público no vigente sistema de cata-bilhões no lixo dos fundões, definição de inspiração anatômica, como é o caso, e não da tradição da grega pólis de Péricles e Platão.

Submetido ao teorema que o velho Pitágoras sequer imaginou do absolutismo dos mandatários e da escravidão dos oprimidos, cujo direito ao voto nada vale, esta republiqueta se refestela no assalto constitucional e legal do erário sob o domínio das elites escravagistas compostas por governantes, políticos, empresários, sindicalistas e marajás do “a” serviço do povo, determinado pela neojustiça eleitoral exercida pelos institutos de pesquisa. O governo dos iguais administrado pelos votos majoritários dos cidadãos torna-se a gestão por poucos graudões do trabalho da miuçalha majoritária que sua e produz a despesa e a dívida públicas sem controle, sob o domínio das máquinas partidárias, militares, judiciárias e sindicalistas. Aí é fundamental a dilapidação dos bens públicos pelos políticos, que começam a desonrar pela própria definição da função, política, do grego polis, cidade, nunca mono, de poucos insaciáveis.

O povo sofrido, que paga contas e penas, manifesta-se confirmando na pesquisa a supremacia da polarização Lula-Bolsonaro, não esquerda-direita, mas sem quebra nem protesto contra. Daí o fracasso da democracia dita do amor em 8 de janeiro de 2024. Ou seja, na farsa, os dois lados são farinha do mesmo saco fascistoide, poderosa, mas impopular. Vade retro!

 

José Nêumanne Pinto é jornalista, poeta e escritor

Os comentários não representam a opinião do site. A responsabilidade é do autor da mensagem. Em respeito a todos os leitores, não são publicados comentários que contenham palavras ou conteúdos ofensivos.

500
  1. Pois é Nêumanne. Meu voto foi para o lixo. Votei em Deltan, e essa corja conseguiu encontrar futuros possíveis erros que o Deputado poderia cometer bastou um minuto para que ele fosse cassado. E aqui estamos, para mais um mandato onde vence o amor e a traição.

  2. A palavra de José Neumanne Pinto, é como o fio de uma navalha, corta a falsidade dos poderosos e mostra a crua realidade em vivemos neste sofrido Brasil.

  3. Ideias oportunas e muito bem colocadas. Já passou da hora de entendermos que continuar insistindo em apoio a Bolsonaro, só contribui para a permanência de Lula no desgoverno de nosso país. Ambos não passam de populistas do mesmo saco …

  4. Nêumanne foi ao ponto. Petismo, Stalinismo, Nazismo, Fascismo, etc. são rigorosamente manifestações da mesma coisa. Todos esses movimentos adoram as ditaduras, o autoritarismo, a censura, o pensamento unificado (bem ao contrário da tão badalada diversidade). As diferenças entre eles são praticamente irrelevantes. E, incrivelmente, são iguais até no ódio aos judeus.

Mais notícias
Assine agora
TOPO