Fuerzas Armadas de EcuadorMilitares equatorianos: em guerra contra o narcotráfico

Como as democracias morrem

Organizações criminosas ligadas ao narcotráfico compram briga com o frágil Estado equatoriano
12.01.24

Com o tamanho do estado do Rio Grande do Sul, o Equador já tinha o costume de virar notícia quando as coisas davam errado. O país foi um dos que pior enfrentaram a pandemia de Covid, não tem dinheiro para pagar a dívida com o Fundo Monetário Internacional, FMI, tem sido palco de protestos políticos e teve um presidente deposto em um processo de impeachment no ano passado. Mas nada disso colocou tanto em xeque a democracia do Equador quanto a crise de segurança que tomou conta do país nesta semana, após organizações criminosas ligadas ao narcotráfico fazerem o país inteiro de refém.

O caos começou quando José Adolfo Macías, o Fito, líder da facção Los Choneros, fugiu da cadeia na noite de domingo, 7 de janeiro. Com rebeliões se espalhando por várias cadeias e criminosos tomando as ruas, o presidente Daniel Noboa, que cumpre um mandato tampão, decretou um estado de exceção com toque de recolher das 23h às 5h. A situação se agravou e chegou ao ponto, na terça, 9, de 13 homens encapuzados invadirem o estúdio de um canal de televisão pública em Guayaquil durante transmissão ao vivo. Noboa, então, convocou um estado de “conflito armado interno”, autorizando as Forças Armadas a entrar em combate direto com 22 organizações criminosas. Até a quinta, 11, a violência resultou em 15 mortes e 40 sequestros, incluindo o de um brasileiro, libertado na quarta, 10. Cerca de 330 suspeitos foram detidos. Quase duzentos agentes penitenciários foram feitos de reféns.

Brasileiro radicado no Equador há 10 anos, o escritor Julio Almada relatou a Crusoé que conhecidos presenciaram assaltos a supermercados e a ônibus em Quito, onde mora. “Isso não era comum no Equador e tudo aconteceu na terça, 9. As pessoas se assustaram muito”, disse Almada. Para o brasileiro, a invasão ao estúdio de televisão em Guayaquil teve impacto nacional: “Isso foi televisionado ao vivo. O país inteiro viu, o que provocou comoção e caos imediato”.

A proliferação de organizações criminosas no Equador se explica porque o país fica geograficamente espremido entre a Colômbia e o Peru, os dois maiores produtores mundiais de cocaína. À medida que a Colômbia intensificou o  combate aos narcotraficantes, ainda nos anos 1990, esses grupos passaram a usar o Equador e a Venezuela como rota de tráfico. No caso venezuelano, o regime chavista acolheu o narcotráfico por interesses econômicos, como meio de contornar as sanções americanas, e por afinidade ideológica às guerrilhas, em especial as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia, Farc, intimamente ligada à rota da droga.

O que tornou o Equador atrativo para a rota do tráfico, além da posição geográfica e da economia dolarizada, é a fragilidade do Estado. “Pouco a pouco, o crime organizado penetrou nas instituições do Estado“, diz o cientista político equatoriano Cesar Ulloa. Com muito dinheiro nas mãos, os narcotraficantes corromperam promotores, juízes, policiais e carcereiros. É isso o que explica a fuga de Fito da cadeia, no domingo. Eles também entraram na política financiando campanhas eleitorais. Documentos encontrados em um acampamento das Farc já mostraram doações dos guerrilheiros colombianos à campanha do bolivariano Rafael Correa, em 2006. Atualmente, o ex-presidente vive exilado na Bélgica, para escapar de uma acusação de corrupção em seu país.

Noboa foi eleito no ano passado com um discurso de combate ao crime organizado. Ele não era o único candidato nas eleições de 2023 com essa plataforma. Outro era Fernando Villavicencio, que, apesar de figurar como quinto colocado nas pesquisas, foi assassinado ao sair de um comício em Quito a dias do primeiro turno, em agosto. De dentro da cadeia, Fito, o hoje foragido líder dos Choneros, o havia ameaçado de morte antes do atentado. O crime organizado só se coordena de dentro das penitenciárias porque controla parte do Estado.

Quem mais sofre com o avanço dessas organizações é a sociedade equatoriana. Enquanto as taxas de homicídio na maior parte da América do Sul diminuíram nos últimos dez anos, entre 2012 e 2022, o país andino viu as suas explodirem. Nesse período, os homicídios caíram na Colômbia (de 35.9 para 25.3 para cada 100 mil habitantes) e no Brasil (de 28.2 para 23.3, após um pico), dois dos países mais violentos do continente. No Equador, a taxa foi de 12.4 mortes para 27 a cada 100 mil habitantes. O país agora é o quarto com maior taxa de homicídios, atrás de Venezuela, Honduras e Colômbia.

No século 20, o Estado colombiano quase se desintegrou sob o ataque contínuo dos grupos terroristas e de narcotraficantes. O país conseguiu resistir à investida com políticos determinados e muita ajuda americana. Neste século, foi a vez de a Venezuela, fragilizada pela gestão socialista de Hugo Chávez, tornar-se um Estado falido, em que essas organizações criminosas prosperaram e hoje dominam a política. O Equador, se não se cuidar, poderá acabar como a Venezuela. Se conseguir resistir como a Colômbia, será um feito e tanto.

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  1. Eu não creio que haja uma correlação entre índice de assassinatos e atividades criminosas. Índices baixos podem significar apenas consolidação das facções. Por exemplo, quanto mais o PCC dominar de maneira hegemônica, em detrimento de outras facções, mais os índices de homicídios por 100 habitantes irá cair. Mas o narcotráfico, entre outras ilegalidades, nem por isso irá diminuir. Paz nos presídios e baixos índices de homicídios, pode até significar que o crime está agindo sem freios.

  2. O combate ao crime tem muitas vias que devem atuar juntas, mas o primordial,, sem negociação, é declarar guerra a ele. O crime subirá o tom do terror para tentar fazer o estado desistir. A ver se o Equador terá estômago e força para fazer o que deve ser feito.

  3. Quando o Brasil tiver um presidente competente, sem ideologia comprometida com grupos, poderá liderar o progresso entre todas as nações da América, estimulando as suas economias, sem interesses particulares, partidários e ideológicos. Com Lula é essa incopetência que temos no Ministério das Relações Exteriores, tolerância com narcoditadores, narcotraficantes, estímulos às ditaduras d esquerda críricas às nações alinhadas c as democracias ocidentais e aos EUA. Como dizem, é a vanguarda do atraso!

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