Viva o tarô! Viva o horóscopo!
Eu disse aqui, na minha coluna anterior, que 2023 se repetirá neste 2024, em 2025 e 2026. Aliás, dependendo do que acontecer em 2026, é bem possível que a gente veja 2023 se estender até 2030. E olhe que nem estou levando em consideração o fato de que 2023 é, na verdade, a repetição de 2006. Seja como for, qualquer profecia este ano que entra que dê certo será a mera repetição, em outros termos, de alguma coisa que aconteceu no ano passado.
Por falar em profecias: sempre que o amigo ler “Viva a ciência!”, não esqueça de que está lendo “Viva o tarô!”, “Viva os búzios!”, “Viva o horóscopo!”, “Viva os saberes ancestrais e a defumação!”, porque tudo isso, afinal, são ciências também. E ciências proféticas. Pelo menos, é o que dizem os que vivem delas, conforme veremos a seguir.
Por exemplo: a cartomante tira lá suas cartas e vê que em 2024 os impostos vão subir. Vão mesmo. Vão subir em 2024 porque subiram em 2023, e subiram em 2023 porque são um dos pedágios que o amor exige para continuar a nos cobrir de bênçãos. Ou o amigo é dos que acham que o amor é de graça? Se a própria Marcela do Brás Cubas o amou por onze contos de réis, você acha que o governo, esse governo, vai te amar por menos?
Aí vem o astrólogo e nos diz que viu lá com os planetas que, tal qual aconteceu em 2023, em 2024 serão anuladas as provas que a Lava Jato levantou contra Fulano e Beltrano, amigos ou ex-funcionários da turma que está espalhando a luz lá em Brasília. A mesma coisa acontecerá em 2025 e em 2026, caso tenha sobrado algum condenado ou alguma prova em algum lugar qualquer.
Aí vem o numerólogo e nos informa que, segundo vozeiam os números, o homem mais puro, mais maravilhoso e cheio de graças do mundo repetirá 2023 e fará várias viagens internacionais em 2024, 2025 e 2026, sempre escoltado, aconselhado e às vezes até dublado pela preparadíssima consorte. Os números ainda dizem que a nanodiplomacia continuará de vento em popa, e trará os resultados de sempre.
Aí vem o tirador, ou jogador, sei lá eu, de i-ching, a quem os hexagramas confidenciaram que, se neste 2024 o fundão vai ser de 5 bilhões de reais, em 2026 ele vai bater na casa dos 7 bilhões ou 8 bilhões de reais. De reais ou do que houver no lugar deles. Porque o nome da moeda é mais imprevisível do que o valor de que o amor precisa para se reeleger.
Aí vem o homem, ou a mulher, dos búzios, que lhe sopraram à intuição (grande ouvinte, a intuição) que, como em 2023, em 2024 a suprema corte continuará alerta, solerte, diligente, indômita, aguda, prestes, vigilante, atenta, ágil, aplicada, zelosa, valente, arguta, perspicaz, sutil, enérgica, mordaz, grave, impávida – ah, amigo, se o rol de encômios estiver cansativo, é só falar, eu paro. Mas não sem antes dizer que, segundo os mesmos búzios, os mesmos intuitivos, prudentes e ancestrais búzios, o órgão em questão – e que órgãozão! – continuará imprescindível na “questão da governabilidade”.
Aí vem o cara que lê as runas e rumina que a relação do governo com o Congresso continuará em 2024 como foi em 2023: o governo continuará abrindo a burra do amor e as casas legiferantes se locupletando de afeto com essa paixão que só ela tem pela, oh, pela locupletação afetiva.
Quer dizer: tá fácil brincar de Nostradamus no Brasil. Tão fácil, na verdade, que é quase perda de tempo. O melhor mesmo é deixar os vaticínios para lá e seguir os dois conselhos que o poeta romano Horácio deu à sua amada Leucônoe. O primeiro: nec babylonios temptaris numeros, nem consultes os números babilônios, ó leitor. Porque número babilônio é charlatanismo, e porque a turma babilônica que está aí faz com os números coisas de que até Júpiter duvida. E o segundo: carpe diem, quam minimum credula postero – aproveite o dia sem acreditar demais no que virá amanhã.
Da minha parte, leitor caríssimo, desejo, com atraso mas com sinceridade, que seu 2024 fure todos os vaticínios desta coluna e seja, a despeito de tudo, feliz, excelente e muito próspero. Se deixarem.
Orlando Tosetto Júnior é escritor
Os comentários não representam a opinião do site. A responsabilidade é do autor da mensagem. Em respeito a todos os leitores, não são publicados comentários que contenham palavras ou conteúdos ofensivos.
Eles não mentem, nunca!
"O Brasil tem um enorme passado pela frente." Sem mais.
Adoro sua coluna Tosetto! Além de fazer rir faz refletir. Feliz 2024, 25, 26 etc. etc. etc.
Finalmente, uma coluna inteligente contra as crendices e supersticiosidades a que bem se aplica à sabedoria Zen: “O dedo aponta a lua. O sábio olha a lua. O tolo olha o dedo.” Ou ainda, como num bordão, muito utilizado por uma trupe de comediantes muito popular, de grande êxito que perdurou de 1974 a 1995, que sempre repetiam: “Me engana que eu gosto”, não é mesmo?
Além de tudo isso, um artista importante irá morrer, haverá secas e enchentes, ciclones, erupções e terremotos, e polêmicas nas eleições municipais.
Ótimo 2024 para você Tosetto!
Excelente retorno, Tosetto!