RuyGoiaba

Medalha, medalha, medalha

03.08.18

Se tem uma coisa em que brasileiro é bom, campeão mesmo, é passar vergonha em casa quando promove grandes eventos. O 7 a 1 foi apenas o exemplo mais gritante. Alguém dirá que a Copa e as Olimpíadas transcorreram sem grandes vexames fora esse, esportivo, do jogo contra a Alemanha. Não é bem verdade –vide o caso da piscina verde –, mas até nisso já fomos melhores.

Seja como for, o furto da medalha Fields me encheu de esperança de voltarmos a aparecer no topo do ranking mundial de vexames. Resumo: nesta quarta, 1º, o curdo-iraniano Caucher Birkar recebeu a honraria, que é considerada o Prêmio Nobel da Matemática, em uma cerimônia no Rio. Birkar deixou a medalha – que vale cerca de R$ 15 mil –, dentro de uma pasta, sobre uma mesa do pavilhão do evento. Quando voltou, encontrou duas medalhas. (Mentira: não achou nada.)

Isso foi MEIA HORA depois de o matemático ter sido premiado, em um lugar cheio de autoridades, incluindo o ministro da Educação. Se o ladrão for ambicioso e quiser bater o próprio recorde — como um Michael Phelps da mão leve –, vai furtar a próxima ainda antes da premiação; eu acredito no espírito empreendedor da bandidagem do meu Brasil.

Um amigo disse que o furto deveria ter sido noticiado assim: “Mais uma vez, um brasileiro é dono da medalha Fields”. Lembrei que Artur Ávila, que aliás nasceu no Rio, foi o primeiro brasileiro (e primeiro latino-americano) a receber o “Nobel da Matemática”. Pobre Ávila, que deve ter passado a vida inteira se matando para estudar um assunto complicadíssimo em vez de fazer as coisas the Brazilian way.

A frase do Bandido da Luz Vermelha no filme de Rogério Sganzerla (“quando a gente não pode fazer nada, a gente avacalha. Avacalha e se esculhamba”) continua sendo uma excelente síntese do Bananão. Pena que seja grande demais para pôr na bandeira, no lugar do “ordem e progresso”. Mas sempre podemos substituí-la pelo meme CRIME OCORRE NADA ACONTECE FEIJOADA.

***

A GOIABICE DA SEMANA

Já foi exaustivamente comentada, mas não dá para escapar: tem que ser o comercial da Gillette com Neymar. Além de ser historinha de redenção sem redenção, assina embaixo do recibo de menino mimado (“ainda não aprendi a me frustrar”) e, de quebra, plagia — ao que tudo indica — um vídeo de 2014 da Adidas, com Lionel Messi. Um consultor que não fosse Neymar Sênior deveria dizer ao garoto para focar no core business: jogar bola. Ele anda precisando.

(Menção honrosa para a patetice dos jornalistas no Roda Viva com Jair Bolsonaro, que na prática levantou várias vezes a bola para que o candidato cortasse. Em especial para aquele rapaz que perguntou “o senhor sabia que Jesus Cristo foi refugiado?” fazendo cara de AGORA LACREI — ou, como diria o narrador Milton Leite, “agora eu SE consagro!”.)

ReproduçãoReproduçãoO “menino Neymar” só fez a barba e já acha que é um “novo homem”

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