Augusto Melo via InstagramAugusto Melo, o presidente do Corinthians

O homem que foi segundona: um pesadelo corintiano

O bando de loucos parece ter encontrado seu líder perfeito no presidente Augusto Melo
09.02.24

Rubens Gomes, o famoso Rubão, anunciou em 20 de dezembro de 2023: “Acabou a farra de Palmeiras, Flamengo, nós vamos brigar com eles de igual para igual”. Desde então, o diretor de futebol do Corinthians tem de ouvir o que todas as torcidas do Brasil — menos a corintiana — repetem às gargalhadas: a farra estava apenas começando.

Augusto Melo assumiu a presidência do Corinthians em 2 de janeiro e, passado um mês, protagonizou o mais desastroso início de gestão da história do futebol brasileiro. Carrega uma herança maldita robusta, de várias administrações desastradas de um mesmo grupo — todos os analistas reconhecem isso. E, mesmo assim, suas trapalhadas já se tornaram históricas.

O presidente anunciou a contratação do lateral-direito Matheuzinho, mas não se entendeu com o Flamengo e teve de desistir do jogador — parece que agora vai fechar contrato de novo. O meia Rodrigo Garro, anunciado na posse de Melo, treina sem poder jogar no Corinthians, porque o clube ainda não se entendeu financeiramente com o Talleres. Gabigol foi outra de suas promessas que circulou em vão.

Melo também anunciou o maior patrocínio máster do futebol nacional, do site de apostas VaideBet. Mas ninguém confiou muito nos valores inflados e as contas do clube acabaram bloqueadas na Justiça por falta de pagamento da multa de 40 milhões de reais à antiga patrocinadora, PixBet — uma condição para consumar a troca da marca estampada na camisa do time.

Enquanto isso, o Corinthians, cujo elenco foi desmontado — boa parte foi parar no rebaixado Santos — acumula derrotas no Campeonato Paulista, no qual figura na zona de rebaixamento. Para tentar reverter a situação, a diretoria demitiu o técnico Mano Menezes, a quem terá de pagar outra multa milionária, e escolheu contratar Márcio Zanardi, treinador do São Bernardo.

Os cartolas alvinegros foram avisados, contudo, de que o regulamento do Campeonato Paulista não permite que um mesmo treinador comande mais de um time numa mesma edição do torneio — desde 2016 é assim. Depois de surgir o nome de Cuca, defenestrado pelo próprio Corinthians há poucos meses, caberá, enfim, ao português António Oliveira tentar dar algum rumo para esse bando de loucos, para citar o canto da torcida.

Em meio à bagunça, “vazou”, entre muitas aspas, um vídeo em que Augusto Melo é gravado de frente prometendo a chegada de um meia de 1,90m. Durante a campanha para presidente do Corinthians, o cartola disse que foi procurado por dois governadores corintianos, que lhe prometeram ajuda. Atualmente não há governador com mandato que torça para o Corinthians e os ex-governadores de São Paulo que torciam já morreram.

“Um artista é idêntico a um anarquista”, diz o poeta Lucian Gregory em O Homem que foi Quinta-feira: Um Pesadelo, de Chesterton. “Você pode transpor as palavras para qualquer lugar. Um anarquista é um artista. O homem que joga uma bomba é um artista, porque prefere um grande momento a tudo”, completa. E eu acrescento: um cartola também pode ser um artista.

No livro de Chesterton, um detetive tenta desbaratar o Conselho Anarquista Central, composto por sete membros, cada um nomeado a partir de um dia da semana. Enquanto avança rumo a seu objetivo, Gabriel Syme vai descobrindo que todos os componentes do grupo são policiais disfarçados, assim como ele, e que mesmo o temido líder Domingo está do lado da ordem.

Esse plot twist é, hoje, a única esperança no horizonte do corintiano, cujo time parece destinado a voltar a frequentar a Série B do Campeonato Brasileiro — aguardemos o fim angustiante do Paulistão. O bando de loucos parece ter encontrado seu líder perfeito no presidente Augusto Melo. Da perspectiva de são-paulinos, palmeirenses e santistas, pelo menos, está tudo certo de tão errado.

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  1. Apenas discordo da última frase: sou vascaíno e também acho que está tudo certo. Ah a democracia, que beleza!

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