Douglas Farah: o pacto nefasto entre Bukele e as maras

Especialista em segurança nacional afirma que acordo entre o presidente de El Salvador e grupos criminosos pode se romper a qualquer momento
09.02.24

O pesquisador e jornalista Douglas Farah, fundador e diretor da consultoria IBI Consultants, nos Estados Unidos, afirma que o presidente reeleito de El Salvador, Nayib Bukele, negociou com as organizações criminosas, as maras, para obter uma redução da taxa de criminalidade em seu país. Ao deixar a população contente, Bukele foi reeleito com mais de 85% dos votos.

Desde o começo, Bukele, mesmo antes de ser presidente, já tinha feito vários pactos, especialmente com a Mara Salvatrucha e com a MS-13, para chegar ao poder como prefeito de San Salvador. O pacto pedia uma redução dos níveis de violência. Em troca, as gangues entraram diretamente nos temas da política. Então, elas começaram a receber dinheiro do Estado para várias coisas”, disse Farah ao Crusoé Entrevistas. “É um pacto nefasto, uma paz sem sustentação que pode arrebentar a qualquer momento. Mas, sem dúvida, a maioria das pessoas, ao ver reduzir os níveis de violência, agora está contente.”

Douglas afirma que diversas pessoas do governo de Bukele são próximas das maras. Entre elas estão vice-ministros e suplentes de deputados no Congresso. No governo anterior, há dez anos, as maras passaram a mandar seus melhores integrantes para trabalhar na polícia e ao Exército. “Eles também estão incrustados nos municípios, onde têm as suas sedes. É através dos municípios que eles recebem a maior parte dos benefícios do governo”, diz Farah.

Um exemplo desse pacto é que quando os Estados Unidos pediram a extradição de um dos líderes de uma organização criminosa. “O vice-ministro de Segurança escoltou o principal membro da facção para fora do país e deu garantias de Estado para que ele chegasse em segurança ao México. Há muitos elementos claros que indicam a participação muito direta do governo com as maras”, diz Farah.

Farah alerta para o risco que o país pode correr caso esse pacto entre o governo e as maras seja quebrado. “Eles não entregaram nenhuma arma. O MS-13 mantém o seu arsenal e esse acordo será rompido quando o grupo quiser. Esta é uma paz muito frágil. Quando deixar de receber os seus benefícios, a Mara Salvatrucha continuará com suas metralhadoras .50 e rifles Ak-47, M16, lançadores de foguetes. Nada disso foi entregue. Quando as maras quiserem romper o pacto, o país estará em uma situação terrível”, diz Farah.

O pesquisador, que é autor do livro Mercadores da Morte, também comentou sobre as relações entre o ditador nicaraguense Daniel Ortega e grupos criminosos, que exportam ou venezuelano, cocaína e que cobram para enviar migrantes venezuelanos, indianos e paquistaneses para os Estados Unidos.

Entre os temas da conversa estão ainda a parcela de culpa do ex-presidente equatoriano Rafael Correa na crise de segurança no Equador e o envolvimento de Irã, China e Rússia na América Latina.

 

Assista à entrevista:

 

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  1. Infelizmente a América Latina é terreno fértil pra políticos populistas. Vamos ver até quando essa situação permanece em El Salvador e também no Equador

  2. As tragédias da América Latina têm a participação das esquerdas, do Irã, Russia, China, Coréia do Norte, Venezuela e Lula/PT. Fazem parte da atual guerra geopolítica mundial confrontando os EUA, Japão, Europa Ocidental, Ucrânia, Israel, India, Coréia do Sul...

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