RuyGoiaba

A histeria como expectativa

26.10.18

Esta coluna envelhecerá rápido e não vai servir nem para embrulhar peixe, a não ser que você se dê o trabalho de imprimir. Depois deste domingo, dependendo de em que torcida organizada você se senta, teremos “a aurora de um porvir radioso” ou “a descida sombria aos novos anos de chumbo” –expressões cafonas e pouco adequadas a descrever sua vida pós-28 de outubro, que provavelmente continuará sendo medíocre.

É justamente sobre o exagero –melhor, a histeria– como expectativa que quero falar. Se confirmadas as pesquisas, o milico vencerá o poste do presidiário e será o novo manda-chuva do Bananão. As comparações de Jair Bolsonaro com o nazismo vêm de longe e foram até, alegadamente, corroboradas pelo autor da Lei de Godwin (que pode ser resumida em “à medida que uma discussão online se estende, todo mundo de que não gosto se transforma em Hitler”).

Não pareceu suficiente: no Twitter, Paulo Pimenta chamou Bolsonaro de “Anticristo”, e Fernando Haddad, o petista bonzinho, disse que seu rival no segundo turno é “anti-ser humano” e “tudo o que precisa ser varrido da face da Terra”. Vai ser uma decepção se o cara não incorporar Belzebu e trocar o hino nacional por “Sympathy for the Devil” no dia da posse –mais ou menos como abrir um livro de poesias de Michel Temer esperando ler Aleister Crowley e só encontrar J.G. de Araújo Jorge. O Brasil desmoraliza até o satanismo.

Minha intenção aqui não é minimizar ameaças reais: quem é jornalista sabe como bolsominions têm se mobilizado para atacar a categoria, à maneira de petistas com o sinal invertido. É apenas dizer que a “histeria como expectativa” favorece Bolsonaro. Se ele for eleito e fizer apenas um governo normal de merda (por exemplo, uma espécie de Collor reloaded), já terá se saído melhor que as “previsões” –basta não ser Hitler nem o Anticristo. O segredo do sucesso, já disse alguém, é a redução brutal de expectativas.

Aliás, espero até agora pelo apocalipse que sobreviria à eleição de Donald Trump nos EUA. O Twitter ainda existe, o bilionário alaranjado segue escrevendo besteira nele e nada de o tal meteoro dar as caras.

***

E, no fim, a “suruba do Doria” não aconteceu –quer dizer, aconteceu, mas asseguram os homens de ciência que não foi com ele (nem comigo, infelizmente). Claro que divulgar o vídeo como se fosse dele é uma sacanagem maior que a sacanagem que as imagens mostram.

Mas pelo menos rendeu piadas excelentes. Um amigo disse que a investigação da autenticidade do vídeo mereceria a vinheta “falo ou fake?”; outro, que era uma missão para a Agência Lupa (como diria Ataulfo Alves, a maldade dessa gente é uma arte). E Márcio França, o rival do tucano no segundo turno em São Paulo, tuitou que ele não deveria “medir os outros pela sua régua”.

Está comprovado: política é a continuação do campeonato de tamanho de pinto da quinta série por outros meios.

Divulgação/Governo de São PauloO embate França x Doria é uma questão de régua (Divulgação/Governo de SP)

***

A GOIABICE DA SEMANA

Esta não é apenas “da semana”, mas da última década, pelo menos. Domingo também pode ser o dia do enterro de “Lula como gênio político”, essa lenda do folclore brasileiro mais inverossímil que a mula-sem-cabeça: o sujeito que fez de tudo para polarizar o pleito e transformá-lo num plebiscito sobre sua prisão deve não só perder como entregar o país à “extrema direita”. É o Lula-sem-cabeça.

(Se bem que os petistas continuaram insistindo na lenda depois de Haddad ser tratorado na eleição de 2016 e até mesmo depois do governo Dilma –ela está mais para o Jason de “Sexta-Feira 13”. Quem sabe um dia o país finalmente consiga chegar ao sábado 14.)

Os comentários não representam a opinião do site. A responsabilidade é do autor da mensagem. Em respeito a todos os leitores, não são publicados comentários que contenham palavras ou conteúdos ofensivos.

500
Mais notícias
Assine agora
TOPO