Igor GadelhaA movimentação de apoiadores na frente do condomínio de Bolsonaro

Na “República da Barra”, tensão e romaria

A casa do presidente eleito virou, nos últimos dias, o quartel-general da campanha. Jair Bolsonaro deve viajar a Brasília até o fim da próxima semana para se reunir com Michel Temer e Dias Toffoli
28.10.18

Jair Bolsonaro acompanhou de casa, na Barra da Tijuca, Zona Oeste do Rio, a apuração dos votos. Recebeu a notícia de que estava matematicamente eleito presidente do Brasil ao lado da mulher, Michelle, dos filhos Carlos, Flávio, Eduardo, Renan e Laura e de alguns poucos aliados. Havia alguma tensão no ar, embora as últimas pesquisas indicassem uma vantagem razoável do militar da reserva sobre seu oponente, o petista Fernando Haddad. Os dias que antecederam a eleição também foram tensos. Nada, porém, que impedisse Bolsonaro de montar uma espécie de governo provisório antes da confirmação da eleição no segundo turno. A casa de Bolsonaro transformou-se na sede da “República da Barra”, como alguns aliados passaram a chamar o grupo que, diariamente, se reunia com o candidato que neste domingo se sagraria presidente eleito.

O condomínio Vivendas da Barra viveu dias atípicos. Além da presença diária de um batalhão de jornalistas, passaram por ali curiosos, simpatizantes, políticos e gente com causas alheias ao processo eleitoral. Como um grupo de ex-funcionários da Varig, a falida companhia aérea, que no sábado foi ao local fazer uma manifestação pedindo o pagamento de direitos trabalhistas. Disputando o segundo turno da eleição para o governo do Rio, Eduardo Paes, do DEM, e Wilson Witzel, do PSC, mandaram cabos eleitorais para a porta do condomínio. Queriam aproveitar o burburinho.

No prédio do lado do condomínio de Bolsonaro, pelo menos três moradores estenderam bandeiras do Brasil na janela. Senhoras iam passear com cachorrinhos vestindo bandanas e outros adereços em verde-amarelo. Ao menos ali, protestos contra o candidato foram raros. Um deles, solitário, foi na tarde de sábado: uma jovem saiu do condomínio com um adesivo de Haddad colado na parte de trás da calça. Quase passou despercebida.

Dentro de casa, Bolsonaro teve uma rotina puxada de visitas. Passou os dias dando orientações a assessores e aliados por telefone e recebendo apoiadores e representantes de grupos da sociedade civil, entre eles empresários, lideranças evangélicas e parlamentares das bancadas evangélicas e da segurança pública. Ele reclamou. “Se eu atender mais gente, vou baixar no hospital.” Queria que os assessores diminuíssem o ritmo das visitas.

A romaria incomodava também os mais próximos. Lutador de jiu-jitsu, o presidente do PSL e coordenador da campanha, Gustavo Bebianno, brincou. Disse que estava com vontade de esmurrar apoiadores que insistiam em visitar Bolsonaro apenas para tentar surfar na popularidade dele ou garantir um espaço no futuro governo. Michelle, mulher do presidente eleito, baixou uma ordem. Determinou que os apoiadores fossem recebidos na varanda. Ela não queria tumulto dentro de casa.

Neste domingo, já perto do fechamento das urnas e do início da apuração, a futura primeira-dama limitou ainda mais o acesso. Apenas integrantes do círculo mais próximo de Bolsonaro foram autorizados a entrar. Alguns aliados que esperavam assistir à apuração ao lado dele tiveram de dar meia volta e acompanhar o resultado do hotel onde estavam hospedados, algumas centenas de metros adiante. Na seleta lista dos que podiam entrar estavam os filhos e auxiliares como o próprio Bebianno, o general Augusto Heleno Ribeiro, deputado Onyx Lorenzoni, do DEM, anunciado como futuro ministro da Casa Civil, e o senador Magno Malta.

Ao longo da semana, as reuniões eram expressas. Quando o grupo era pequeno, Bolsonaro conversava sentado em uma mesa de madeira redonda. Quando passava de dez pessoas, como aconteceu com lideranças do agronegócio, recebia os convidados em pé mesmo. Na véspera da eleição, quando uma parte significativa da tropa de apoiadores já havia voltado para seus estados para votar, Bolsonaro recebeu apenas o amigo Silas Malafaia, pastor da Assembleia de Deus Vitória em Cristo, e o deputado reeleito Bacelar, do PR da Bahia, à tarde. O baiano é um dos mais parlamentares mais próximos do presidente eleito, a despeito de encarnar o que ele combate – é alvo de denúncias de corrupção e votou contra o impeachment da presidente Dilma Rousseff.

Com Bacelar, Bolsonaro assistiu ao vídeo da transmissão feita via Facebook por Ciro Gomes, do PDT, em que o ex-presidenciável disse que não tomaria lado no segundo turno. O militar reformado comemorou a “neutralidade” do pedetista. Por outro lado, avaliou que, pelo discurso, Ciro já tentava se colocar como principal voz da oposição ao futuro governo.

Assessores de Bolsonaro se aboletaram nos últimos dias em hotéis e flats próximos à casa dele. O hotel Windsor Barra, localizado na vizinhança, foi o lugar escolhido pela maioria e virou o quartel general para reuniões de integrantes da campanha. Lá, jornalistas e políticos que queriam ter acesso aos principais assessores de Bolsonaro davam plantão durante toda a semana que antecedeu o segundo turno. O bar e os restaurantes do hotel funcionaram como um gabinete informal de Lorenzoni. O futuro ministro recebia por ali parlamentares e também políticos que nem sequer conhecia e que davam as caras em busca de espaço no futuro governo. Gente como o procurador federal Marcelo Bittencourt, que não conseguiu se eleger deputado federal pelo PSL no Rio. Ele passou a sexta-feira de plantão no hotel à espera de Onyx. No início da noite, finalmente conseguiu se apresentar e entregar seu currículo ao futuro ministro.

Do Rio, Onyx também manteve contato com assessores de Michel Temer para alinhavar o processo de transição – da parte de Bolsonaro, é ele que vai coordenar os trabalhos. O futuro ministro deve viajar a Brasília até a próxima quarta-feira para acertar os últimos detalhes e preparar o terreno para Bolsonaro. O presidente eleito também deve ir à capital federal ainda nesta semana, para encontrar Temer e o presidente do Supremo Tribunal Federal, Dias Toffoli.

Jair Bolsonaro chegou ao Rio no dia 29 de setembro, após uma temporada de 23 dias internado no hospital Albert Einstein, em São Paulo, recuperando-se do atentado a faca que sofreu em Juiz de Fora (MG) no dia 6 de setembro. Na capital fluminense, saiu poucas vezes de casa. Na última semana, apenas quatro vezes: uma para votar, no domingo, e outras três para a casa do empresário Paulo Marinho, no bairro do Jardim Botânico, a cerca de 20 quilômetros de carro da residência do agora presidente eleito.

Nas vezes em que saiu de casa, Bolsonaro teve de se submeter a um forte esquema de segurança. Andou escoltado por três carros da Polícia Federal e pelo menos doze batedores do Batalhão de Choque do Estado do Rio. Até mesmo durante as entrevistas com a imprensa a segurança foi reforçada. Repórteres tiveram de passar por revista pessoal. Bolsonaro, por sua vez vestia um colete à prova de balas, escondido sob uma jaqueta azul.

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  1. Estou muito impressionado com a qualidade das reportagens dessa revista. Certamente está valendo o investimento. Parabéns pelo bom trabalho!

  2. Trabalho Maravilhoso de Vocês , sempre atualizado e muito bem explicado! Adorei!! Vocês ajudaram a entendermos melhor o Capitão, e aos poucos fomos conhecendo seu caráter e aceitando o seu jeito de ser! Grata por tudo !

  3. Na verdade, o novo presidente ficou internado no Hospital Israelita Albert Einstein e não no hospital Sírio-Libanês. Mais atenção! 🤨

    1. Se fosse no Sírio ele não sairia vivo, podes crer.

    2. Albert Einstein que o capitão insiste em chamar de "Alberto"... kkkk

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