Arte: Crusoé

Carlos Pereira: a baixa governabilidade de Lula 3

Professor da FGV afirma que Lula errou ao montar uma coalizão sem levar em conta as forças dos partidos no Congresso, o que o obrigará a gastar mais
29.09.23

Professor da Fundação Getúlio Vargas no Rio de Janeiro e um dos criadores do Índice de Custo de Governo (ICG), o cientista político Carlos Pereira acredita que Lula errou nos cálculos em seu terceiro mandato ao montar uma supercoalizão de governo com 16 partidos. É a maior coalizão desde a redemocratização.

O engano do presidente foi não considerar a força que os partidos têm no Parlamento, diz Pereira. Isso obriga o governo a gastar mais para aprovar suas propostas no Congresso. É o que Pereira chama de um governo ineficiente do ponto de vista da governabilidade. “Os governos de Fernando Henrique e Michel Temer foram muito mais eficientes porque eles conseguiram aprovar medidas gastando relativamente muito pouco.”

Pereira não acredita que a nomeação de André Fufuca, do PP, e Silvio Costa Filho, do Republicanos, para os ministérios do Esporte e Portos e Aeroportos, respectivamente, melhores a situação do governo no longo prazo. Sem resolver esse problema, o risco de novas Comissões Parlamentares de Inquérito, as CPIs, aumenta.  “A gente vai ver alguns fios desencapados nessa coalizão, e os atores políticos vão se utilizar desses fios desencapados para tentar reequilibrar o jogo. Então vai ser uma crise aqui, uma crise acolá, e esse equilíbrio vai ser instável. Talvez até, em algum momento, como aconteceu no governo da ex-presidente Dilma, a coalizão venha a se quebrar. O impeachment foi fruto de uma quebra da coalizão.”

As diferenças ideológicas no interior da coalizão também representam um problema, segundo o pesquisador. “Essa coalizão do presidente Lula tem  partidos da extrema-esquerda, como Psol e  PCdoB, do centro, como PSD e MDB, da direita, como o União Brasil, e alguns que até são considerados de extrema-direita, como o Republicanos e o PP”, diz Pereira. “Formou-se uma verdadeira salada de fruta partidária.”

Segundo o analista, o lado bom de um sistema multipartidário e fragmentado é que será mais difícil desfazer leis que foram aprovadas pelo Parlamento, como a reforma trabalhista, a lei das estatais, o novo ensino médio ou o marco do saneamento.

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