João Fragoso: “Não somos vítimas, a desigualdade foi uma escolha nossa como sociedade”

O historiador veterano afirma que a ideia de que a desigualdade é natural foi trazida ao Brasil pelos portugueses, mas atualizada pelas gerações ao longo dos séculos
16.05.24

Uma das citações mais repetidas do escritor americano William Faulkner diz que “o passado nunca está morto; nem mesmo é passado“. A ideia condiz com o  novo livro do historiador João Fragoso, A Sociedade Perfeita (Editora Contexto; 349 páginas), que vai buscar as origens da desigualdade social no Brasil em uma ideia trazida da Europa pelos portugueses, no início da colonização: a de que as estruturas de mando e obediência são divinamente ordenadas, implícitas na natureza. Pode-se, aliás, ir um pouco mais longe e afirmar que para aqueles primeiros enviados da Coroa, “a sociedade perfeita era naturalmente desigual” –  o que explica o título da obra.

A escravidão foi o produto mais evidente dessa ideia, mas não o único. Ela ajudou a moldar padrões econômicos, instituições políticas e um sem fim de práticas cotidianas cujos vestígios, segundo o autor, são visíveis até hoje, embora pudessem ter sido descartos no curso da história. “Não somos vítimas do passado ou de exploradores externos”, declarou Fragoso a Crusoé Entrevistas. “A desigualdade foi uma escolha nossa como sociedade, ela foi sendo recriada ao longo das gerações.” 

Professor de titular de História da Universidade Federal Fluminense há quase quatro décadas, Fragoso é um dos principais pesquisadores do passado colonial brasileiro e destilou, em A Sociedade Perfeita, essa carreira de estudos. Ele também é autor de um clássico sobre os comerciantes de escravos no Rio de Janeiro, Homens de Grossa Aventura (Civilização Brasileira) e de inúmeros artigos especializados, além de ter organizado com Maria de Fátima Gouvêa os três volumes de O Brasil Colonial (Civilização Brasileira), que reúne a melhor produção recente sobre esse período histórico.

Assista abaixo à íntegra da entrevista:

 

 

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  1. O título é um pouco chocante, mas depois de ouvir a entrevista entendi o ponto do professor. E porque ainda há correntes em pleno século XXI que consideram a desigualdade como algo natural e humano. Não é. E enquanto os pensadores ditos progressistas e conservadores não chegarem a um consenso de como esse mal da humanidade pode ser reduzido, se/quando eliminado, seguiremos nessa luta de valores e ideias. Que tal começar com ações compensatórias à diáspora africana? Para quem ainda vive lá.

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