Ricardo Stuckert/PRLula com Jean Paul Prates: futuro dos dividendos extraordinários da Petrobras foi a gota d'água

Ruim com Prates, pior sem ele

Nova presidente da estatal, indicada por Dilma, deverá ampliar investimentos em negócios e regiões de interesse do Planalto
16.05.24

O mercado de óleo e gás brasileiro foi chacoalhado na noite de terça, 14, com a notícia da demissão do presidente da Petrobras, Jean Paul Prates. As ADRs (Recibos de Depósito de Ações, na sigla em inglês) americanas despencaram mais de 8% durante a madrugada em Wall Street, e os dois dias seguintes eliminaram cerca de 50 bilhões de reais de valor de mercado da petroleira na bolsa brasileira.

Prates anunciou a própria saída após uma conversa em que o presidente Lula pediu para que abandonasse o cargo sem muitas explicações. O ex-senador então encaminhou a colegas de trabalho e amigos uma mensagem feita para vazar à imprensa.

Minha missão foi precocemente abreviada na presença regozijada de Alexandre Silveira e Rui Costa. Não creio que haja chance de reconsideração”, dizia o comunicado do presidente da Petrobras, apontando os responsáveis pela sua saída.

A demissão realmente foi a coroação do processo de desentendimento entre os três atores. Na configuração inicial da partilha promovida por Lula na Petrobras, Prates ficaria com a diretoria da petroleira, enquanto os ministros Alexandre Silveira (Minas e Energia) e Rui Costa (Casa Civil) seriam responsáveis pela composição do conselho de administração da companhia.

O presidente da estatal tentou influir nos nomes para o colegiado e acabou envolvido em uma das primeiras quedas de braço públicas com Silveira. Em maio do ano passado, o ministro de Minas e Energia convocou os integrantes do conselho para uma reunião sem a presença ou o conhecimento de Prates.

Em seguida, Silveira cobrou a Petrobras pelo aumento de produção de gás natural, que vinha pressionando os custos de fábricas de fertilizantes, como a antiga Fafen Bahia – em Camaçari – área de influência do ministro da Casa Civil. Rui Costa. À época, Prates apareceu ao lado de Aloizio Mercadante (presidente do BNDES) e rebateu as críticas. “Não adianta só berrar pelo jornal nem achar que um está rindo demais e outro está fazendo careta. Não adianta nem careta nem sorriso. Adianta trabalhar junto e convergir”, provocou.

O problema se agravou e, em novembro do ano passado, a Unigel arrendatária da unidade em Camaçari ameaçou fechar as portas e demitir todos os empregados citando o alto custo do gás como motivo. A querela só se resolveu em janeiro, com um acordo entre as empresas que acabou por beneficiar as unidades na Bahia e em Pernambuco. Acordo esse que foi contestado pela área técnica do Tribunal de Contas da União (TCU) que avaliou o contrato como antieconômico, com prejuízos estimados em quase 500 milhões de reais.

Ainda pesou sobre Prates uma possível preferência pelo Rio Grande do Norte, reduto eleitoral do ex-senador, na escolha da localização das plantas eólicas offshore incluídas nos projetos de transição energéticas com custo estimado de mais de 25 bilhões de reais para a estatal.

A gota d’água, porém, foi a abstenção do presidente da petroleira quando da definição sobre o futuro dos dividendos extraordinários da Petrobras em março deste ano. Fiel ao estilo um pouco mais petulante, Prates ainda utilizou as redes sociais para defender que a posição era a do governo, o que colocou Lula em saia justa frente à militância. Afinal, como justificar a distribuição voluntária de dividendos bilionários para uma plateia que acreditou que Lula não deixaria a Petrobrás “ao invés de investir, agraciar acionistas minoritários”?

Silveira aproveitou a chance e fustigou Prates em uma entrevista à Folha de S. Paulo em que descreveu as características de um bom presidente para a estatal e admitiu o conflito. “Se você me fizer uma pergunta: é possível o presidente de empresa, igual à Petrobras, convergir o interesse do acionista com o do controlador? Plenamente possível. Requer humildade, discrição e competência”, disparou.

O conjunto da obra culminou na demissão na noite de terça-feira,14, após cerca de vinte minutos de conversa com Lula, acompanhada presencialmente por Silveira e Costa, como destacou Prates na mensagem a colegas.

Agora, Magda Chambriard, ex-diretora da Agência Nacional do Petróleo (ANP) indicada por Dilma Rousseff, assume a função com uma missão apenas. Ela terá de atender aos anseios da Esplanada dos Ministérios, ampliando os investimentos em negócios e regiões de interesse do Planalto.

No mercado de óleo e gás nacional, analistas e especialistas do setor não esperam uma guinada na gestão, mas um aprofundamento nas questões em que Prates falhou, como a retomada de obras em refinarias, reativação da indústria naval, ressuscitação da produção de fertilizantes e transição energética. Para isso, Magda tem à disposição mais de meio trilhão de reais previstos no Plano Estratégico da Petrobras para o quinquênio 2024-2028.

A estratégia é desconfortavelmente semelhante à adotada pela estatal durante o governo Dilma e que levou a empresa a prejuízos e alto endividamento. Não à toa, muitos investidores abandonaram a petroleira após o anúncio.

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  1. E o pior é que a madame está apadrinhada pelo tesoureiro condenado por corrupção e conhecido como “MOC”, o joão vacari neto, descondenado e perdoado pelo stf. Nem as putts da petr valerão mais

  2. Petrobras é uma arma bilionária para atender a interesses políticos. Depois do petrolão é uma loucura permitir uma empresa dessa dimensão seguir neste modelo público com capitalização em bolsa

  3. O gás tem seu preço definido regionalmente e de acordo com o que o possa substituir, como o diesel para as termeletricas. Assim fica caro até pra Petrobras seu uso para fertilizantes

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