Foto: Caio Mattos/ CrusoéKiosko na cidade de Buenos Aires, Argentina. Foto: Caio Mattos/ Crusoé

Inflação da Argentina desacelera a ritmo mais lento, e chega a 11%

12.04.24 16:01

O Instituto Nacional de Estadística y Censos (INDEC), da Argentina, anunciou nesta sexta-feira, 12 de abril, que a inflação mensal foi de 11% em março.

Assim, o índice desacelerou 2,2 pontos percentuais em relação a fevereiro, quando se registrou 13,2%.

Segundo os dados desta sexta, a inflação acumulada dos últimos 12 meses chegou a 287,9%, novamente batendo recorde do período pós-hiperinflação da virada de 1980 a 1990.

Entretanto, é importante lembrar que esse acumulado decorre de uma espiral inflacionária em que se encontra a Argentina desde o segundo semestre de 2022 — em quase todos os meses de 2023, a inflação acumulada passou dos 100%.

Este é o terceiro mês seguido em que o INDEC registra a inflação desacelerando.

Depois de um pico mensal em dezembro, com cerca de 25,5%, a inflação cresceu apenas 20,6% em janeiro e os 13,2% em fevereiro.

A expectativa do governo é que a inflação mensal chegue a dígito único em meados deste 2024.

Desacelerar é mais difícil com uma inflação na casa dos 10% ao mês do que com uma acima dos 25%. Reajustes importantes em tarifas de luz e de transporte devem pesar cada vez mais na inflação argentina.

Por que a inflação da Argentina desacelera?

 

A desaceleração da inflação se deve, dentre outros fatores da política econômica de Milei, ao controle dos gastos públicos.

O mantra da política de Milei e sua principal conquista até o momento é o controle do déficit fiscal, ou seja, garantir que o Estado gaste menos do que arrecada.

Por dois meses seguidos, o governo conseguiu superávits financeiros, que incluem pagamentos de dívidas e juros.

Em fevereiro, o saldo das contas do governo foi de 338 bilhões de pesos e, em janeiro, de 518 bilhões de pesos.

A Argentina não tinha nenhum superávit financeiro ao mês havia mais de uma década.

Reprodução/ Televisão Pública ArgentinaReprodução/ Televisão Pública ArgentinaJavier Milei discursa no plenário da Câmara dos Deputados em 1º de março, na abertura do ano legislativo. Reprodução/ Televisão Pública Argentina
 

Como o governo Milei registra superávits?

 

A forma como o governo mantém esse superávit, entretanto, não é sustentável ao longo prazo.

O principal dos pilares do ajuste econômico de Milei, por aparente ironia, depende da própria inflação e gera desgaste social.

Trata-se dos cortes nos gastos do governo que não são reajustados pela inflação, o maior dos quais é o pagamento das aposentadorias.

Esse fenômeno é chamado de licuadora, “liquidificador” em espanhol, porque a inflação desvaloriza a moeda e, logo, liquida os gastos não reajustados.

Outro pilar do ajuste econômico é o corte de repasses às províncias, o que gera instabilidade política e inviabiliza a agenda de governo no Congresso. Nesta semana, conheceu-se o novo pacotão de reformas ómnibus.

Um terceiro é o não pagamento de subsídios às empresas do setor energético — uma herança do intervencionismo de Néstor Kirchner. Isso é uma dívida contraída por Milei. Ele deverá pagá-la no futuro.

Há previsão de mais desvalorização do peso?

 

Além do ajuste nas contas do governo, um ponto importante da política econômica de Milei para conter a inflação é o aspecto monetário.

Em dezembro, houve a desvalorização de 50% do peso no câmbio oficial do peso, anunciada pelo ministro da Economia, Luis Caputo, em 12 de dezembro — uma medida para reduzir o intervencionismo e desmaquiar a economia argentina.

ReproduçãoReproduçãoMinistro da Economia da Argentina, Luis Caputo, anuncia desvalorização de 50% no câmbio oficial do peso – 12/12/23. Reprodução
Desde então, o governo tem desvalorizado o câmbio oficial do peso a conta gotas, a 2% ao mês. Logo, bem abaixo da inflação, o que volta a maquiar a economia.

Alguns economistas acreditam na possibilidade de uma nova desvalorização do peso, o que pode fazer a inflação voltar a acelerar em um primeiro momento, como em dezembro.

“Não se pode seguir mais seis meses com esta inflação, mas os ajustes poderiam vir posteriormente”, disse o economista Juan Luis Bour a Crusoé em fevereiro.

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