Lula cumprimenta Cristiano Zanin em sua posse no STFLula e Cristiano Zanin no STF: "escolhas de foro íntimo" - Foto: Valter Campanato/Agência Brasil

As boquinhas pós-Lava Jato 

Personagens que ajudaram a desmontar a operação foram beneficiados com cargos e benesses no governo Lula 3
14.03.24

Ao longo de dez anos, a Lava Jato foi atacada em várias frentes. Jornalistas, influenciadores digitais, juízes e até ministros do STF trabalharam diuturnamente para reduzir a pó o legado da maior operação anticorrupção do país. Curiosamente, vários desses personagens ganharam boquinhas no governo Lula. Crusoé conta a seguir algumas dessas histórias. E lembra uma das frases de Millôr Fernandes: desconfie de um idealista que lucra com seu ideal. 

 

Cristiano Zanin: Como advogado, ele esteve à frente da defesa de Lula. Depois de apresentar mais de 400 recursos em cerca de dois anos, conseguiu emplacar a tese de que Sergio Moro não tinha competência para julgar o petista e, além disso, era parcial. Os processos foram anulados. Encaminhados à Justiça Federal de Brasília, acabaram sendo extintos por prescrição. Zanin também difundiu a narrativa de que Lula foi vítima de “lawfare”, ou seja, da manipulação dos procedimentos judiciais com finalidades políticas ou ilegítimas.  

O pós-Lava Jato: Quando o ministro Ricardo Lewandowski se aposentou no STF, Zanin foi indicado por Lula para a sua vaga. O presidente não fez segredo de que o principal critério na escolha foi a certeza de poder contar com novo integrante da corte. Zanin tem 48 anos. Como os ministros do STF têm de se aposentar aos 75, poderá vestir a toga pelos próximos 27 anos. Na função, recebe o salário mais alto do serviço público brasileiro — atualmente, de 44 mil reais. Mas nada se compara ao poder e à influência trazidos pelo cargo.

 

Ricardo Lewandowski: Ao contrário de indicados que acabaram decepcionando Lula e o PT no STF, como Joaquim Barbosa e Luiz Fux, Lewandowski defendeu seus padrinhos políticos nos momentos mais difíceis. Como revisor do processo do mensalão, foi voto vencido em diversas condenações que atingiram figurões petistas como José Dirceu. Ao presidir o processo de impeachment de Dilma Rousseff, articulou a solução jurídico-política que permitiu à ex-presidente manter os direitos políticos depois de perder o cargo. No petrolão, foi o principal legitimador do uso das mensagens hackeadas da Vaza Jato como provas. Isso foi fundamental para que a condenações de Lula fossem anuladas, com base na tese de conluio entre Sergio Moro e os procuradores da Lava Jato. 

O pós-Lava Jato: Lula, que criticou Sergio Moro duramente por ter assumido o ministério da Justiça no governo de Jair Bolsonaro, não hesitou em nomear Lewandowski para o mesmo ministério pouco depois de ele deixar o STF. Moro deixou o governo Bolsonaro acusando o ex-presidente de tentar interferir na autonomia da Polícia Federal. É difícil acreditar que conflitos desse tipo venham a surgir entre Lula e Lewandowski.

 

Flávio Dino: Ex-juiz federal assim como Sergio Moro, ele foi um crítico acerbo da Lava Jato desde o seu início. Mesmo como governador do Maranhão, disparava com frequência contra a operação.  

O pós-Lava Jato: Dino foi nomeado por Lula para o Ministério da Justiça. Foi o mais combativo defensor do governo depois do 8 de Janeiro, enfrentando várias vezes a oposição bolsonarista no Congresso e na imprensa. Quando a ministra Rosa Weber se aposentou do STF, Lula o indicou para a vaga, dizendo que sempre havia sonhado em alojar um político no tribunal.

 

Jorge Messias: Era subchefe para Assuntos Jurídicos (SAJ) da Presidência da República durante o governo Dilma Rousseff. Ganhou notoriedade quando a ex-presidente, resfriada, disse a Lula em uma ligação telefônica que “Bessias” lhe entregaria um termo de posse como ministro da Casa Civil, para ele assinar em caso de emergência. O cargo no governo daria a Lula proteção caso a PF aparecesse para prendê-lo. O ministro Gilmar Mendes impediu a posse de Lula como ministro, afirmando que havia desvio de finalidade na nomeação, ou seja, que ela era um artifício para protegê-lo.  

O pós-Lava Jato: Messias é o atual Advogado Geral da União (AGU). Nesse cargo, anunciou a criação de uma força-tarefa para “apurar desvios de agentes públicos e promover a reparação de danos causados” pelos integrantes da Lava Jato. O órgão que ele comanda também participa da renegociação dos acordos de leniência firmados por empresas corruptas durante a operação. Caso apareça outra vaga para o STF, “Bessias” está na parada.  

 

Wadih Damous: Deputado federal pelo PT do Rio de Janeiro entre os anos de 2015 e 2019 (primeiro como suplente, depois como titular do cargo), compôs a “bancada anti-Lava Jato” no Congresso Nacional. Advogado, usou a tribuna com frequência para falar contra a operação.  

O pós-Lava Jato: Nas eleições de 2022, teve 27 mil votos, insuficientes até mesmo para uma suplência. Foi então nomeado para a Secretaria de Defesa do Consumidor do Ministério da Justiça. Quando Ricardo Lewandowski assumiu a pasta no lugar de Flávio Dino, Lula lhe pediu para deixar Damous onde estava. 

 

Augusto de Arruda Botelho: advogado da Odebrecht na Lava Jato, ganhou projeção pública como comentarista de um canal de televisão. Em seguida, candidatou-se a deputado federal pelo PSB, o partido de Flávio Dino, com apoio do grupo Prerrogativas — uma confraria de advogados milionários “de esquerda”. Assim como Wadih Damous, não se elegeu.  

O pós-Lava Jato: Flavio Dino o nomeou secretário de Justiça de sua pasta. Lula não pediu que fosse mantido no cargo e, com a chegada de Ricardo Lewandowski ao ministério, ele voltou à iniciativa privada e ao Prerrogativas.

 

Leandro Demori: Como editor do site The Intercept Brasil, ele esteve à frente da divulgação do conteúdo hackeado que compõe a Vaza Jato.  

O pós-Lava Jato: Foi contratado em 2023 para comandar um talk show no canal estatal EBC, chamado Dando a Real com Demori. Recebe 36 mil reais por mês para produzir e apresentar o programa.   

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  1. Cruzcredo!!!!.... Assunto relevante à parte, olhando essa foto é inevitável pensar em como pode a "primeira magda" acordar, dar de cara com um ""tribufú"" horroroso desses e sobreviver, ainda que ela seja apenas uma magda!!!!

    1. E o pior é que, em acréscimo, é moralmente ""tribufú"" ao cubo""!!!!

    1. Pois é Sérgio vá ver por isto o cheque caiu em desuso.

  2. Gilmar Mendes poderia descrever esses personagens deprimentes, usando a mesma "régua" que utilizou para se referir aos participantes da Lava Jato. Seria engraçado de ver as manobras verbais que ele precisaria usar pra defender o indefensável.

  3. Um padre professor de filosofia judeu e sobrevivente de Auschwitz há 50 anos atrás definiu bem este país ... O BRASIL É UM PAIS PARA CANALHAS ... acrescento hoje QUE FICOU BEM PIOR pois o pior ainda está por vir e não demora.

  4. Esses são alguns dos casos conhecidos mais palatáveis e publicáveis de remuneração por serviços e coberturas prestados à Lava Lula, mas o quantum da operação pela quantidade e categoria dos cúmplices, é incalculável.

  5. O p das trapalhas voltou. E agora, a quem recorrer? Tudo dominado. A ladroagem, benesses, empregos de 20 mil pra analfabeto. Isso nao é partido político. É um amontoado de criminosos.

  6. Pobre Brasil com esses pseudos idealistas no Poder. O PT cada vez mais mostra ser uma Máfia e não um Partido Político.

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