Ricardo Stuckert / PR via FlickrA polarização está mantida, oba! A vitória não é garantida, que pena!

Lula, meio mandão com o atraso à mão

Certo de que governar é só mandar sem saber por que nem para quê, o sócio do centrão no bananão produz a própria queda nas pesquisas de opinião
15.03.24

Não existe rima mais pobre do que o facilitário do ão de meio chefão com mania de mandar sem saber para quem. Na sociedade igualitária com o centrão de direita (é isso mesmo) tem atirado sem direção e colhido quedas na popularidade. No começo do ano ele anunciou o concurso do Enem para preencher milhares de vagas que o antecessor lunático deixou vazias. Sem provas do português, que o parnasiano Bilac chamou de “última flor do Lácio, inculta e bela” talvez por não alcançar as origens latinas de Caio Júnio César, o general escriba, tão legítimas quanto as dos clássicos castelhano e florentino e mais nobres do que eslavas, celtas ou germânicas. Desprezada por um pretenso estadista, que cospe na língua materna por saber muito pouco de suas manhas e mumunhas, cai na lorota fácil da farsa da tal diversidade, que reduz a herança histórica a povos originários que não se originaram aqui, onde chegaram, parece, pelo estreito de Behring. Incapaz de discorrer também em tupi ou em quimbundo, atribui a Juruna e a Zumbi a sapiência iletrada que não leu em Camões, Eça e Saramago. Ignorante do fato histórico de que os africanos foram vendidos como escravos por outros africanos, vencedores de guerras primitivas, atribui ao racismo estrutural movimento unilateral, jamais recíproco. Depreciar jóias da cultura e do esplendor da lusofonia, como faz para agradar novos amigos mais preconceituosos do que os denunciados, caindo no papo fiado da malandragem só por preguiça de pensar.

Sem entender que no conflito de Gaza importa mais quem matou antes do que quem mata mais, entrega-se à volúpia do amor ao terror por seu parco entendimento não discernir as profecias de Camus relatando a barbárie de quem só possa reiterar nela ao próprio lado. Na cartilha esfarrapada de seus mestres Amorim e Janja não encontra a previsão inevitável do mundo insuportável que se tornará qualquer obrigação ao fundamentalismo que só enxerga santos ao lado na cama e demônios em quem, ao contrário da grei, distingue farrapo de migalha e pedra de pau.

O professor de economia e jornalista de escol Rolf Kuntz, editorialista do Estadão, escreveu no dito jornal que “Lula é mais mandão que governante e ainda sacode bandeiras dos tempos da Vila Euclides.” E mais: “Também é intervencionista, como dizem alguns… Sua fala desastrada sobre a Petrobras, manchete dos grandes jornais, expressou essa formação. Em seu terceiro mandato, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva ainda sacode, e com maior vigor que nos governos anteriores, bandeiras dos tempos de Vila Euclides. Essas bandeiras foram carregadas mais discretamente no primeiro mandato, quando ele ouvia companheiros prudentes e mais familiarizados com administração.” Agora prefere cochichos ao tálamo, futricas de botequim e sofismas de piquetes.

A ascensão de locatário de vila operária a usuário de mansão fê-lo invadir propriedades alheias como se caíssem da atraente goiabeira do vizinho. Proibir a distribuição de dividendos extraordinários a seus legítimos proprietários equivale à ambição de tomar a bola do colega de pelada para ditar as regras do jogo. Especificamente é calote de escroque.

Elio Gaspari, em sua coluna semanal no Globo e na Folha, avisou que Sua Insolência “reativa um pesadelo”. Ou seja: “Depois de uma desastrada carga de cavalaria em cima da Vale, Lula avançou sobre a Petrobras e derrubou seu valor de mercado em R$ 55 bilhões. Diante das más notícias, a repórter Malu Gaspar revelou que o presidente da Petrobras, Jean Paul Prates, mostra uma carta na manga: o anúncio de um ‘Mar de Oportunidades’, com um programa de investimentos de até R$ 80 bilhões em plataformas, navios-sonda e barcos de apoio”. Mais do mesmo, a multiplicar o que já não deu certo antes.

William Waack escreveu no Estadão: “Operação Lava Jato foi declarada morta e enterrada, mas seu fenômeno político persiste. Combustível é o descontentamento de vastas camadas da sociedade frente a um sistema predatório para o empreendedor, injusto para o contribuinte e perverso para quem depende de serviços públicos”.

O publicitário Jorge Decol apontou no “Fórum dos Leitores” do mesmo jornal o óbvio ululante definido por Nelson Rodrigues, gênio do teatro em português castiço, mas iletrado em ninam ou banto: “O petróleo da Petrobras e o minério da Vale são coisas nossas, do povo brasileiro, não do desgoverno do PT”. Não ter aprendido o elementar tem levado o presidente da republiqueta das refinarias enferrujadas à queda livre nas pesquisas que só surpreendem o próprio protagonista, ninguém mais, nem os áulicos que calam por vassalagem, não por sabedoria. O tombo se repete em todas. Uma delas, a do Ipec, questionou os pesquisados sobre a aprovação ao governo de Lula e cruzou os dados em relação aos diferentes eleitorados. Entre eleitores do presidente, 84% aprovam a gestão federal. Entre os que votaram em Bolsonaro, a desaprovação é de 83%. Ou seja, pode ser que a polarização não seja uma saída. Pois os índices apontam que o dono de meia bola no campo não consegue influenciar a opinião de quem não votou nele em 2022, o que cria um teto estreito para o petista aumentar sua aprovação. A polarização está mantida, oba! A vitória não é garantida, que pena! A morte da Lava Jato foi providenciada pelo aliado e oposto Bolsonaro. Convém, portanto, não vacilar. Amém.

 

José Nêumanne Pinto é jornalista, poeta e escritor

 

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