UNRWAPhilippe Lazzarini, comissário-geral da UNRWA, em Gaza: um terço das doações foram suspensas

A ONU é um terror

Funcionários de agência criada para atender aos refugiados palestinos participaram do ataque do Hamas em Israel. Já passou da hora de fechá-la
02.02.24

Criada em 1949 para dar assistência a 750 mil pessoas deslocadas pela guerra que se seguiu à criação de Israel, a Agência da ONU para os Refugiados Palestinos (UNRWA, na sigla em inglês), enfrenta a sua maior crise de legitimidade. Embora tenha sido pensada com fins humanitários, diversas provas demonstraram nos últimos dias que a organização é uma das principais estimuladoras do ódio contra judeus e do terrorismo no Oriente Médio. São tantas as evidências que agora há sérias dúvidas se a organização terá alguma participação na reconstrução da Faixa de Gaza, quando a guerra terminar.

Pelo menos doze funcionários da UNRWA participaram dos ataques terroristas em Israel em 7 de outubro, como demonstrou, para além de dúvidas, um relatório de inteligência israelense. Dez deles pertenciam ao Hamas. Um era da Jihad Islâmica. Seis deles entraram nesse dia em Israel com outros terroristas, como prova a geolocalização de seus celulares. Os que não participaram diretamente da ação compraram munições, guardaram lançadores de granadas ou ajudaram na logística. Sete eram professores de escolas da UNRWA, ministrando disciplinas como matemática e árabe. Dois tinham outras funções, também em colégios. Um deles, da cidade de Khan Younis, sequestrou uma mulher israelense com seu filho.

Mas esses doze são uma amostra ínfima do vínculo entre a agência e os terroristas. A UNRWA está apinhada deles. Uma reportagem do jornal americano Wall Street Journal publicada na segunda, 29, mostrou que 23% de todos os funcionários homens da agência têm conexão com o terror. No total, cerca de 1.200 dos empregados fazem parte do Hamas ou da Jihad Islâmica. Eles representam um em cada dez assalariados da UNRWA.

Ao longo desta semana, dezesseis países cancelaram temporariamente a ajuda financeira à UNRWA. O baque é forte, pois a agência vive essencialmente de doações voluntárias. Na quinta, 1º de fevereiro, a entidade divulgou uma nota dizendo que poderia paralisar suas atividades no fim deste mês.

Cortar a verba da UNRWA não é algo totalmente novo. Em 2018, o então presidente americano Donald Trump já tinha feito esse gesto, alegando que os Estados Unidos davam centenas de milhões de dólares para os palestinos, sem ganhar respeito em troca. “Eles nem querem negociar um tratado de paz duradouro com Israel”, tuitou Trump.

A acusação desta vez é muito mais grave. A suspeita em todos esses países é de que, ao enviar milhões de dólares para a UNRWA, eles teriam financiado, indiretamente e contra a própria vontade, os terroristas que mataram 1.200 israelenses, feriram 3 mil e sequestraram 239.

As primeiras denúncias começaram a ser feitas há nove anos pela ONG UN Watch, comandada por Hillel Neuer. Aos seus relatórios se somaram outras acusações de outra entidade, a Impact-se. Os documentos de ambas mostram que as crianças palestinas, desde a 5ª série, são doutrinadas com lições enaltecendo como “mártires” terroristas que mataram judeus e conclamando uma jihad contra a “ocupação sionista”.

Como quase todos os 30 mil professores da UNRWA são palestinos que cresceram aprendendo essas lições, eles não veem problema em transmitir os mesmos ensinamentos para as gerações seguintes. Por 75 anos, isso tem ocorrido sem controle algum.  A presença de membros da ONU originários de outros países, principalmente na Faixa de Gaza, é muito limitada. E o comissário-geral (atualmente, Philippe Lazzarini) só consegue se manter no cargo se não desagradar ao Hamas, que comanda o território (UNRWA e Hamas dividem as tarefas no território: um cuida das escolas e dos hospitais, outro fica com a repressão e o terrorismo). Dentro da agência, não há nenhuma instância que possa fazer uma avaliação dos conteúdos doutrinários nos colégios e ordenar a sua exclusão. Mesmo quando ONGs de outros países apontaram que os materiais iam contra os princípios da ONU — como os de promover a tolerância, a paz e o respeito aos direitos humanos —, as aulas continuaram sendo dadas como antes.

Com livros escolares tão incendiários, é fácil concluir que a UNRWA nunca colaborou para a paz, mas o contrário. Seu legado mais trágico foi o de convencer gerações de palestinos de que eles são refugiados que um dia viverão em Israel. Mas esse conceito normalmente só se restringe às pessoas que efetivamente foram obrigadas a deixar seus países. Para aqueles que escaparam de guerras e não são palestinos, e que normalmente ficam sob o guarda-chuva de outra agência da ONU, a Acnur, nunca se oferece o retorno para o seu local de origem, o que quase sempre é impossível, e sim a adaptação em outro país. Os filhos desses refugiados também costumam ganhar cidadania local e nunca são considerados como refugiados, como acontece na região da Palestina.

O principal argumento usado pelos que defendem a manutenção da ajuda à UNRWA é o de que a agência é essencial para cuidar dos palestinos da Faixa de Gaza que estão sem abrigo, sem comida e sem remédios por causa da guerra entre Israel e o Hamas. É verdade que a UNRWA hoje desempenha um papel crucial. Na quinta, 29, o Itamaraty divulgou uma nota afirmando que “acompanha com atenção” a investigação sobre a participação de funcionários da agência no ataque do dia 7 de outubro, mas também lembrou que “a UNRWA realiza atendimento vital a mais de 1,4 milhão de pessoas na Faixa de Gaza”. Desde 2008, o Brasil já mandou 20 milhões de dólares para a instituição. O valor é um grão de areia no orçamento anual de 1,2 bilhão de dólares da agência, mas também é o suficiente para jogar o país no meio da confusão.

Ao mesmo tempo em que é preciso se preocupar com o atendimento das vítimas inocentes da guerra, deve-se considerar que outras organizações também estariam aptas a fazer o seu trabalho, sem que seus funcionários disseminem o ódio entre as crianças palestinas, armazenem munições em suas casas ou participem de atentados terroristas. Muitas das organizações já operam dentro da Faixa de Gaza, como a agência humanitária americana Usaid; o World Food Programme; o Escritório das Nações Unidas de Serviços para Projetos, focado em infraestrutura; a Unicef, que cuida de crianças; além de agências humanitárias de vários países e da União Europeia. Há ainda a Organização Mundial de Saúde, OMS, e o Escritório da ONU para a Coordenação de Assuntos Humanitários.

Se o mundo quer ajudar os palestinos, então isso deve ser feito com outras organizações. O problema da UNRWA é que se trata de uma organização política que perpetua o problema, não é neutra e está envolvida em terrorismo”, diz o historiador e cientista político israelense Adi Schwartz, autor do livro A guerra do retorno, sobre a UNRWA.

Quando a guerra terminar, Schwartz entende que a agência da ONU não deveria ter nenhum papel. “Muitas das escolas e hospitais da UNRWA na Cisjordânia funcionam ao lado de escolas e hospitais da Autoridade Palestina, AP. Então a AP deveria assumir essas instituições. Em nenhum lugar do mundo é a ONU que se encarrega de ensinar as crianças”, diz Schwartz. O currículo, obviamente, teria de ser outro, e seria necessária alguma supervisão internacional, talvez de países árabes moderados, como a Jordânia.

Há hoje 1,4 milhão de palestinos necessitando de ajuda na Faixa de Gaza. Mas apoiá-los da forma incorreta, com a UNRWA, manteria o incitamento ao extremismo, levando a novos atentados e novas guerras. Para sair desse ciclo de violência, será indispensável que o resto do mundo tenha coragem para mudar a forma de agir.

 

Assista à entrevista com Adi Schwartz, dada em dezembro:

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  1. Já tive oportunidade de ver vídeos de algumas salas de aula desses palestinos. É terrível ver crianças de 6 ou 7 anos já sonhando em matar um judeu. Elas gritam histéricas pela hora de se tornarem mártires e alcançarem seu lugar no "céu" que eles acreditam. Não será fácil, mas hoje os pobres palestinos já sofrem com falta de assistência como já vimos como o Hamas se apropria das doações. Tem que haver dentro da própria Palestina pessoas comprometidas com uma vida melhor para seu país.

  2. Pagam os justos pelos pecadores. A UNRWA tem que acabar e o que surgir novo não pode ter qualquer conexão com ela. Nesse interim certamente que parte das funções asseguradas pela UNRWA, de vital importância, ficará afetada ou cessará de se realizar. Enfim, não há solução perfeita.

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