Daniel Martins de Barros: “Não há pódio para todo mundo”

O psiquiatra e professor da USP afirma que é possível ser feliz na média, sem tentar ser sempre o melhor
02.02.24

O psiquiatra Daniel Martins de Barros lançou no final do ano passado um livro com uma abordagem provocadora, a de que as pessoas não devem sacrificar todo o resto para serem as melhores em suas áreas.

Autor do livro Viver é melhor sem ter que ser o melhor: E outros princípios do Arcadismo para os dias de hoje, Barros argumenta que as pessoas podem ser felizes buscando ficar na média, ou na mediocridade.

Buscar sempre o primeiro lugar, além de ser um objetivo impossível para todo mundo, pode trazer consequências negativas, como o abandono de outras áreas da vida pessoal. “Não há pódio para todo mundo“, diz Barros em conversa para o Crusoé Entrevistas.

A gente esquece que, para alcançar uma coisa, tem um caminho árduo, que envolve muitos sacrifícios. Normalmente, é preciso fazer escolhas que envolvem muito sacrifício. E as pessoas só medem o sucesso pelo que a pessoa conquistou, esquecendo de olhar o sacrifício. Minha proposta é que a gente também meça o sucesso pelo que a pessoa não sacrificou“, diz Barros.

Tomar decisão para ficar mais tempo com filhos, com marido, com amigos, para continuar assistindo a seriados ou não ter de mudar de cidade pode ser visto como algo positivo, ainda que tenha impedido uma promoção no trabalho. “Foi um fracasso? Foi um fracasso em termos de conseguir a promoção. Mas foi um sucesso em termos de preservar coisas que a pessoa não queria abrir mão“, diz o autor.

Essa ideia remonta a um dos lemas do Arcadismo, expressão literária do Neoclassicismo, que promovia a aurea mediocritas — a mediocridade de ouro. Nesse contexto, a palavra estava ligada à busca do equilíbrio e da moderação, sem carregar todo o peso negativo que tem hoje.

Entre os outros princípios do Arcadismo que Barros explora em seu livro está o carpe diem, que ficou famoso com o filme Sociedade dos Poetas Mortos, o inutilia truncat, que aconselha a cortar o supérfluo, e o fugere urbem, que sugere uma vida longe da cidade.

Nesse último, Barros faz uma interpretação do lema. “Os próprios poetas árcades que falavam do bucolismo, do pastorzinho, moravam nas cidades”, diz o psiquiatra. “A cidade tem também benefícios. Ela traz facilidades, acesso, velocidade, possibilidade de enriquecimento.

A solução, segundo ele, é buscar viver na cidade da maneira mais tranquila possível, ampliando o contato com a natureza. “Lembre que a cidade cobra um preço. Lembre que esse barulho constante não faz bem. Lembre que os passarinhos estão voando ao seu redor e você não está prestando atenção. Lembre que você pode ter mais verde na sua casa. A ideia então é fugir da cidade dentro da cidade“, diz o autor.

Assista à entrevista abaixo:

 

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  1. Parte da minha família sempre foi de buscar a perfeição ou, no mínimo, sair do lugar comum. É ruim pois percebemos a cobrança silenciosa que passa a existir mesmo depois que crescemos e nos tornamos independentes. A cobrança nos acompanha e não é fácil se livrar desse fantasma. Por isso decidi comprar o livro desse psiquiatra. Talvez ele possa me ajudar.

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