Companheiro Mantega precisa de recolocação

Desde o ressurgimento do governo Lula, o presidente tenta emplacar uma “boquinha” para um dos mais fiéis dos companheiros petistas. O ex-ministro da Fazenda Guido Mantega, condenado pelas pedaladas fiscais da Era Dilma, espera pacientemente por uma nova chance para mostrar seu valor à sociedade brasileira.

Na tentativa mais recente, o governo teria buscado impor o nome de Mantega à mineradora Vale, no cargo de presidente e ou como conselheiro da empresa. O expediente seria deixar clara a indisposição do Palácio do Planalto com qualquer outro indicado.

Os acionistas da empresa receberam a notícia com espanto. As ações da mineradora responderam negativamente assim que os rumores sobre o assunto se espalharam. O governo, por óbvio, negou a ingerência e, pouco depois, Guido Mantega fez saber que “abriria mão” da posição.

A desistência do ex-ministro teve efeito positivo para a empresa, que agendou uma reunião do Conselho de Administração sobre a recondução ou troca do atual CEO, Eduardo Bartolomeu, para esta sexta-feira, 2.

No entanto, a decisão de Mantega de abrir espaço para outra pessoa em uma vaga que ninguém fora do Palácio do Planalto gostaria de vê-lo, é o equivalente a uma abdicação à posição de piloto principal da Ferrari na próxima temporada de Fórmula 1.

Mineradora à parte, a saga de Lula para agraciar o fiel companheiro nasceu com o retorno do petista à Brasília. Em novembro de 2022, apenas dias após a eleição presidencial, Mantega tentou impedir a candidatura de Ilan Goldfajn para a presidência do BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento).

O ex-ministro enviou cartas a representações de governos com assento no banco por um adiamento da eleição fosse adiada a fim de que um novo nome (o dele) pudesse ser indicado. Nas comunicações, Mantega falava em nome da equipe de Lula, de acordo com informações colhidas pela CNN, e com autorização do presidente eleito. Não houve alteração no calendário, e Goldfajn ocupa a presidência da instituição financeira desde então.

Poucos dias depois, o, à época, coordenador da equipe de transição e vice-presidente eleito, Geraldo Alckmin, convidou Mantega para integrar o grupo que trabalhava para arquitetar aquilo que se transformou no maior déficit primário do governo central nos últimos 30 anos, excetuando-se o primeiro ano de pandemia.

O ex-ministro, mais uma vez, “declinou” do convite como colaborador voluntário após a lembrança de que poderia ser afastado pelo TCU (Tribunal de Contas da União), que o inabilitou assumir cargos na administração pública até 2030 em função das pedaladas fiscais.

Engana-se, porém, que entre essas aparições efêmeras e constrangedoras, Mantega estaria em estado dormente e afastado de Lula. O ex-ministro é fonte de consulta do presidente e, inclusive, emprestou o “prestígio” que goza junto ao petista para defender a manutenção da meta de déficit zero neste ano.

Mantega esteve entre os que advogaram favoravelmente à manutenção do objetivo fiscal do atual ministro da Fazenda, Fernando Hadddad, junto a Lula.

Entre idas e vindas, não deve demorar até que surja uma nova oportunidade. O importante, para os petistas, é manter a roda partidária sempre girando.