O ministro enriqueceu
Em 2013, Ricardo Salles, ministro do Meio Ambiente do governo Bolsonaro, era figura do segundo escalão na política de São Paulo quando foi à Justiça para reclamar do valor da pensão que deveria pagar aos dois filhos pequenos. Seu patrimônio, no ano anterior, era de 1,4 milhão de reais. Ele usou dois argumentos para convencer o juiz. O primeiro, que seus honorários como advogado estavam em franca decadência. O outro era que, naquele ano, seu salário no cargo de secretário particular do então governador Geraldo Alckmin era de parcos 12 mil reais. Salles explicou que, assim, não conseguiria pagar 8,5 mil reais de pensão. Nos anos seguintes, porém, ele avançou em três frentes. De pai com dificuldades financeiras, ascendeu na política, acumulou suspeitas (e uma condenação) e fez fortuna. Seu patrimônio chegou a 8,8 milhões de reais no ano passado – mil vezes o valor da pensão. Na ponta do lápis, o ministro de Bolsonaro enriqueceu mais de um milhão por ano. Em cinco anos, o político e advogado que não podia pagar 8 mil reais de pensão ficou rico.
A ficha de processos de Ricardo Salles é extensa, e não é preciso ir longe para descobrir seu tamanho – em sua própria defesa, ele diz que os processos decorrem da perseguição de um velho inimigo. Candidato derrotado a deputado federal em 2018 pelo Partido Novo, o ministro teve que apresentar uma certidão repleta de ações. Como não foi condenado em segunda instância, ele não é ficha-suja, mas o extrato entregue à Justiça Eleitoral lista onze procedimentos abertos desde 2017. Há, no rol, acusações das mais diversas: advocacia administrativa (por essa razão eram seis processos, depois reunidos em um), crimes contra o patrimônio, coação, formação de quadrilha e falsidade ideológica. Como as ações tramitam em segredo, não é possível saber seu atual estágio.
Dentro e fora de órgãos públicos, o atual ministro acumulou polêmicas com a esquerda – algo que o torna especialmente valioso para Bolsonaro. Fundador do movimento “Endireita Brasil”, ele defende que guerrilhas comunistas, e não só os militares, cometeram crimes durante a ditadura. Depois da tentativa de obter uma cadeira de deputado federal, ele foi acusado de abuso de poder econômico e de fazer propaganda antecipada. Apareceu em propagandas publicadas em jornais antes do período eleitoral que mais pareciam peças de campanha. Por isso, a Procuradoria Eleitoral quer que ele fique inelegível por oito anos. Na área ambiental, minimizou a discussão sobre aquecimento global e, já como ministro, defendeu a construção de ferrovias em áreas de preservação ambiental.
Salles foi o último ministro a ser indicado por Jair Bolsonaro, em dezembro de 2018. Menos de 30 dias desde que ele foi anunciado como integrante do primeiro escalão do novo governo, já protagonizou duas situações que geraram desgastes para o presidente. A primeira foi a própria sentença no processo de improbidade, que deixou para Bolsonaro, a duas semanas da posse, a carga de manter em sua equipe um ministro condenado, a despeito de seu discurso em favor da ética. Já com seis dias no ministério, Salles foi ao Twitter para criticar um contrato do Ibama de 28 milhões de reais. Virou mais uma dor de cabeça para o presidente, que chegou a replicar a mensagem do ministro, concluindo que se tratava de um negócio suspeito. Pouco depois, quando vieram as explicações (e elas não permitiam concluir cabalmente sobre a existência de irregularidades), Bolsonaro apagou a postagem.
Em 2014, por exemplo, Ricardo Salles chegou a ser ameaçado de prisão porque devia 28 mil reais de pensão alimentícia. De lá para cá, além do cargo novo, houve outras boas novidades na vida pessoal do ministro. De seu patrimônio declarado de 8,8 milhões de reais, 500 mil reais vêm de uma embarcação. Houve ainda o acréscimo de dois apartamentos que, juntos, ele diz valerem 6 milhões de reais. O restante se divide entre dinheiro vivo e aplicações financeiras. Procurado, o ministro afirmou que todo o seu patrimônio é declarado e resultado de seu trabalho como advogado.
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