Exército Brasileiro/Flickr

Militares citam ‘risco de desestabilização’ para justificar decisão que livrou Pazuello

03.06.21 17:42

Após a decisão do comandante do Exército, Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira, de não punir o general Eduardo Pazuello por sua participação em uma manifestação política, militares aliados do número 1 da força saíram em defesa de seu posicionamento.

Generais próximos a Oliveira minimizaram o risco de que a decisão de livrar Pazuello possa gerar anarquia militar. O entendimento, entretanto, não é dominante: boa parte das Forças Armadas teme que o aval dado ao ex-ministro da Saúde para subir em um palanque com claros interesses eleitorais possa estimular episódios semelhantes, especialmente às vésperas de ano eleitoral.

“O comandante está plenamente correto”, avalia o general da reserva Maynard Santa Rosa. Antigo integrante do Alto Comando do Exército e ex-secretário Especial de Assuntos Estratégicos da Presidência da República, na gestão de Jair Bolsonaro, o general analisa que a participação de Pazuello no evento com o presidente da República “tem um significado que transcende a disciplina militar”.

“Qual seria a melhor solução? Qual seria o mal menor, a decisão que causaria menos problema? É não intervir. E eu concordo plenamente com essa solução adotada pelo comandante”, afirma o general. “(Uma punição) poderia criar um impasse político-institucional, com benefício somente daqueles com interesse em desestabilizar o país”, acrescenta o general Santa Rosa. Para o ex-secretário de Bolsonaro, não há riscos de que o episódio estimule ocorrências de transgressões disciplinares. “Cada caso é um caso, e é preciso sempre considerar as circunstâncias que envolvem o fato”.

O entendimento, entretanto, não é unânime nas Forças Armadas. O general reformado Paulo Chagas, ex-comandante do Regimento Dragões da Independência, teme que a decisão de Paulo Sérgio Oliveira traga repercussões negativas para o Exército e comprometa a imagem da força.

“Isso abre um precedente muito perigoso”, avalia o militar. “Eu acho que vale aquela máxima da mulher de César: não basta ser honesta, tem que parecer honesta. E o que vai ficar parecendo? Que o Pazuello cometeu uma transgressão, como avalia a maioria dos militares, mas não foi punido porque o presidente da República intimidou e ameaçou o comandante. Todas essas ilações serão feitas e vão obrigar o comandante a fazer algo impensável, que é se justificar aos seus subordinados”.

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