Filho de Luiz Gushiken delata o PT, conta detalhes sobre os pagamentos de propina e abastece denúncia na Greenfield

02.07.20 17:51

Guilherme Gushiken, filho de Luiz Gushiken, um dos fundadores do PT e ex-ministro de Lula, firmou delação premiada no âmbito da Operação Greenfield, que mira fraudes nos fundos de pensão. Seus depoimentos narram, em detalhes, reuniões sobre pagamentos de propinas ao PT e já abasteceram uma denúncia oferecida pelo Ministério Público Federal em Brasília que envolve esquemas no fundo de pensão Petros — dos servidores da Petrobras.

Gushiken morreu em setembro de 2013, um ano depois de ser absolvido da acusação de peculato no processo do Mensalão, julgado pelo Supremo Tribunal Federal. Antigo quadro do PT, ele foi coordenador de campanhas do ex-presidente Lula nos anos 80 e 90, e chegou a ser Secretário de Comunicação da Presidência da República. O ex-deputado federal sempre negou as acusações.

Seu filho, no entanto, confessou crimes e relatou o papel do pai em esquemas de propinas em fundos de pensão. O acordo firmado em agosto de 2019 e homologado pela Justiça no mês seguinte, até então, era mantido em sigilo. Os anexos de delação premiada de Guilherme alimentam uma denúncia da Greenfield contra o empreiteiro Luiz Roberto Ortiz Nascimento, da construtora Camargo Corrêa. Num dos anexos, ele faz um relato detalhado sobre o pagamento de propinas da empreiteira ao PT.

A denúncia narra que a Camargo queria se desfazer de ações da Itaú S.A., para levantar recursos e obter lucro o mais rápido possível. No entanto, o número de ações que a empreiteira detinha era grande demais para vendê-las no mercado aberto. A estratégia teria envolvido o pagamento de 1,9 milhão de reais para dirigentes da Petros para que o fundo adquirisse as ações acima do preço do mercado. A negociação teria passado pelas mãos de Luiz Gushiken. Os procuradores cobram 1,26 bilhão dos envolvidos.

Em sua delação, Guilherme Gushiken relatou o pagamento de propinas a Wagner Pinheiro e Luís Carlos Afonso, então gestores do fundo de pensão. Ele afirma que os pagamentos foram feitos no exterior no ano de 2012. Segundo o filho de Gushiken, após o acerto, o empreiteiro teria lhe avisado que fez repasses também a uma conta indicada pela JBS em benefício do PT.

Ele conta ainda que seu pai o chamou para uma reunião com Vaccari, em 2012, e que durante o encontro Luiz Gushiken informou a “existência de um valor a ser recebido do grupo Camargo Corrêa, o qual teria como responsável e ponto de
contato o acionista Luis Nascimento”.

“Meu pai me informou que a Camargo Corrêa afirmava que apenas poderia pagar tais valores no exterior e que estava tendo dificuldades em receber os recursos devidos. Por tal razão, ele havia chamado João Vaccari para que encontrasse uma alternativa de recebimento”, relata.

Segundo o delator, “João Vaccari, por sua vez, sugeriu” ao seu pai a “possibilidade de recebimento de tais valores pelo grupo JBS, com o qual ele parecia já ter uma relação que possibilitava aquela operação”: “Meu pai pediu, nesta reunião, que João Vaccari procurasse Joesley Batista e que eu fosse junto no encontro, a fim de averiguar a possibilidade de recebimento dos valores acima mencionados, uma vez que meu pai já não se encontrava em possibilidades de locomoção sem acarretar problemas de saúde”.

“Eu aceitei, então, o pedido do meu pai para acompanhar João Vaccari na reunião com Joesley Batista e de, posteriormente, confirmar e acompanhar os recebimentos dos valores oriundos da Camargo Corrêa. Meu pai me informou, posteriormente a esta reunião, que os valores girariam em torno de três a quatro milhões de dólares, destinados ao PT, ao meu pai, a Wagner Pinheiro e a Luiz Carlos Afonso. A divisão de tais valores já havia sido acertada pelo meu pai, o qual me informou na época, porém, atualmente, não me recordo das respectivas divisões”, disse.

Guilherme Gushiken ainda diz que os encontros com João Vaccari para informar sobre os recebimentos dos valores geralmente ocorriam na sede do PT, em São Paulo.

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