Adriano Machado/CrusoéAndré Mendonça: entorno de Bolsonaro já começa a jogar a toalha

Com pressão súbita de Bolsonaro e barganhas, Mendonça volta a ganhar força

01.09.21 07:36

Apesar da resistência do presidente da Comissão e Constituição e Justiça do Senado, Davi Alcolumbre, a possibilidade de aprovação do ministro André Mendonça para o Supremo Tribunal Federal voltou a ganhar força. Vários fatores contribuem para o bom momento do ex-ministro da Justiça. O presidente Jair Bolsonaro, que havia deixado de lado a candidatura de Mendonça, passou a articular a votação nos últimos dias. A pressão surtiu efeito: líderes de bancadas governistas, como Carlos Portinho, do PL, e Telmário Mota, do Pros, saíram de cima do muro e passaram a defender publicamente a definição da data da sabatina de Mendonça.

Alcolumbre, antes decidido a travar a tramitação da indicação na CCJ até a troca por outro nome, agora já admite que será difícil emperrar o debate por muito tempo. O ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira, estava entre os que sonhavam com um ministro do Supremo Tribunal Federal de perfil mais garantista, como o procurador-geral da República, Augusto Aras, ou o presidente do Superior Tribunal de Justiça, Humberto Martins.

Mas um eventual fracasso do candidato do presidente da República poderia desgastar a imagem de bom articulador político do cacique do Centrão – Ciro Nogueira teve derrotas rumorosas recentemente, como no caso da reforma tributária. Depois de receber críticas por estar “com um pé em cada barco”, o ministro da Casa Civil teve longas reuniões noturnas com Davi Alcolumbre para tentar convencê-lo a destravar a votação. Mesmo a contragosto, Ciro passou a trabalhar efetivamente pela aprovação. Após ser visto trabalhando contra Mendonça, o ministro “levou uma chamada” de Bolsonaro, segundo relatos ouvidos por Crusoé.

Outro fator contribuiu para o súbito empenho de Bolsonaro em prol da candidatura de André Mendonça: a dificuldade em escolher outro nome com chances no Senado e que agrade à sua militância mais radical. A promessa de indicar um ministro “terrivelmente evangélico” estava posta desde o ano passado e o presidente teria dificuldade em justificar o descumprimento desse pacto. Humberto Martins é evangélico, mas não encarna o perfil desejado pelos bolsonaristas. Tem mais: sua proximidade com o relator da CPI da Covid, Renan Calheiros, é vista hoje como uma barreira quase intransponível.

Se Bolsonaro ceder e retirar a indicação de André Mendonça, ele sabe que haverá forte pressão para que o próprio Senado influencie na escolha do futuro ministro, e nesse caso provavelmente a casa trabalharia para emplacar entre os seus. Os senadores Antônio Anastasia, do PSD, e Rodrigo Pacheco, presidente da casa, chegaram a ser sondados como possibilidades, mas nenhum conta com a confiança do presidente da República. A conjuntura de fatores pode ser decisiva para que a nomeação de André Mendonça avance após o feriado. A radicalização extrema de bolsonaristas no Sete de Setembro e a repercussão de eventuais atos de violência de apoiadores radicais do presidente, entretanto, podem embaralhar novamente o cenário.

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