Sergio Moro no plenário do SenadoFoto Lula Marques/ Agência Brasil

Como será possível cassar Sergio Moro?

Após maioria do TRE-PR absolver o ex-juiz contra os votos dos indicados por Lula, ministros do TSE terão de fazer um contorcionismo ainda maior do que fizeram para cassar Deltan Dallagnol
12.04.24

O Tribunal Regional Eleitoral (TRE-PR) decidiu não cassar o mandato de senador de Sergio Moro (União-PR), acusado por PT e PL de abuso de poder econômico pelo dinheiro gasto em suas pré-campanhas ao Palácio do Planalto e ao Senado por São Paulo. Mas a expectativa geral, inclusive do próprio Moro, é de que o ex-juiz da Lava Jato será cassado no Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Como?

As denúncias apresentadas por petistas e liberais foram desmontadas logo no primeiro voto, pelo relator Luciano Carrasco Falavinha Souza. Ele expôs como não faz sentido somar os gastos de pré-campanha para punir uma eleição que só ocorreu ao Senado pelo Paraná porque o candidato não conseguiu viabilizar suas outras duas tentativas — uma delas, em São Paulo, não vingou exatamente porque o PT questionou sua mudança de domicílio eleitoral.

A desembargadora eleitoral Claudia Cristina Cristofani destacou em seu voto outro argumento usado por Falavinha para rechaçar a tese da acusação: PT e PL nem sequer se deram ao trabalho de discriminar os gastos de pré-campanha dos adversários de Moro. Como, então, definir se houve abuso de poder econômico do ex-juiz?

Já Anderson Ricardo Fogaça se prestou a contar os gastos de Moro nas pré-campanhas, e chegou a 1,2 milhão de reais, metade dos 2 milhões de reais considerados pelo MInistério Público Eleitoral (MPE) para endossar o pedido de cassação. Some-se a isso o fato de que apenas os dois desembargadores indicado por Lula para participar desse julgamento votaram por cassar Moro e o quadro estará pintado de forma límpida.

Transmissão

Após as quatro sessões do julgamento de Moro no TRE-PR terem sido transmitidas na íntegra — e tudo o que foi relatado nesta reportagem ter sido exposto para a posteridade —, os ministros do TSE terão de fazer um contorcionismo muito maior para cassar Moro do que aquele que fizeram para tomar o mandato de deputado de Deltan Dallagnol em 2023. O caso do ex-coordenador da força-tarefa da Lava Jato não teve a mesma exposição que o de Moro antes de chegar ao TSE.

Na sessão do TSE de 16 de maio do ano passado, o ministro Benedito Gonçalves considerou denúncias apresentadas contra Dallagnol no Ministério Público como se fossem processos administrativos abertos — poderiam vir a ser, mas ainda não eram — e interpretou que, ao deixar a carreira de procurador, ele tentava escapar desses processos. Ao fazê-lo, o ex-procurador teria violado a Lei da Ficha Limpa, por não poder ser considerado suficientemente probo.

Essa interpretação não havia sido feita por nenhum desembargador eleitoral do TRE-PR, onde ele foi absolvido por unanimidade, nem pelos procuradores eleitorais, que recomendavam sua absolvição, mas todos os ministro do TSE acompanharam o voto de Benedito, sem qualquer ponderação ou argumento em contrário. É nessa liberdade de interpretação que está traçada uma cassação de Moro no TSE.

Sem lei

No julgamento desta semana no Paraná, todos os desembargadores, inclusive o presidente do TRE-PR, Sigurd Roberto Bengtsson, reconheceram que não há parâmetros na lei para definir o que é abuso de poder econômico numa pré-campanha. “Não se pode exigir que Sergio Moro computasse de forma cumulativa todos os gastos de pré-campanha à Presidência da República e a cargos legislativos em São Paulo e no Paraná sem que houvesse lei para tanto”, disse Bengtsson.

É exatamente graças a esse vácuo numa legislação eleitoral elástica que os ministros do TSE poderão fazer o que quiserem — ou, num verbo mais brando, interpretarem. O advogado eleitoral Renato Ribeiro de Almeida, por exemplo, considera que, hoje, o período de pré-campanha se inicia no dia seguinte ao fim de uma eleição, apesar de as possíveis sanções legais tenderam a considerar apenas o ano eleitoral.

Campanha eterna

A interpretação do advogado é endossada pela conduta do ministro Alexandre de Moraes na presidência do TSE, que era uma corte sazonal e se tornou permanente, inclusive no trato com os discursos e as redes sociais, como exposto mais uma vez pelos questionamentos do bilionário Elon Musk ao longo desta semana, pelo “Twitter Files”.

Almeida conta que tramitam ainda hoje no TSE pedidos de cassação da eleição municipal de 2020, a poucos meses de um novo pleito. São casos que podem ter impacto nas disputas deste ano, e o aumento na quantidade de questionamentos e julgamentos sobre campanhas é outro elemento de preocupação para Moro — e para qualquer outro candidato atualmente.

“As coisas têm mudado bastante”, diz o advogado, lembrando a condenação a oito anos de inelegibilidade do ex-presidente Jair Bolsonaro. O TSE o puniu pela reunião promovida com embaixadores para colocar o sistema eleitoral brasileiro em dúvida. O evento, destaque-se, foi promovido fora do período de campanha eleitoral.

O senador Jorge Seif (PL-SC) também está na mira do tribunal, sob a acusação de ter se beneficiado da estrutura das Lojas Havan, de Luciano Hang, na campanha de 2022. Hang não é uma boa companhia no TSE. O empresário está inelegível desde março de 2023, quando foi condenado em uma ação parecida com a de Seif. Na ocasião, o tribunal cassou o mandato de Ari Vequi (MDB), até então prefeito de Brusque (SC), por abuso de poder econômico.

Política

O voluntarismo do TSE é evidente e fica difícil imaginar que seus ministros, todos indicados politicamente, pegarão leve com um senador odiado pelo mundo político por seu passado como juiz. Quando Dallagnol foi cassado, o relator de seu caso era cotado para ser indicado por Lula para o Supremo Tribunal Federal (STF). Qual será o contexto e o que estará em jogo no caso de Moro para seus julgadores?

Lula prometeu vingança após ser preso por condenações na Lava Jato, e os votos divergentes no TRE-PR deram um aperitivo do que espera Moro no TSE. Os desembargadores José Rodrigo Sade e Lucio Jacob Junior fizeram questão de considerar os gastos das pré-campanhas de do senador com segurança como parte do que classificaram como abuso de poder econômico. É cruel.

Especula-se que o PL não recorrerá ao TSE pela cassação de Moro, já que Bolsonaro não enxerga mais o senador como adversário, mas a deputada federal Gleisi Hoffmann (PR), presidente nacional do PT, deu entrevista recente se apresentando para concorrer à cadeira do ex-juiz, que virou fruto de cobiça antes mesmo de ficar vaga. Isso confirma a pretensão dos petistas de questionar a eleição de Moro na última instância eleitoral.

Desta vez, contudo, todo o Brasil estará avaliando o desempenho dos ministros à luz do que se discutiu e ocorreu no TRE-PR. E Moro não será o único condenado em um julgamento que forçar a barra para cassá-lo, pelo menos no que diz respeito à opinião pública.

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  1. A corrupção e os corruptos tomaram conta de todos os poderes, e o Brasil só conseguirá exterminar o mal, quando o povo parar de votar nessa velharia apodrecida e pertencente ao SISTEMA, e passar a eleger candidatos jovens e efetivamente reconhecidos como sérios, honestos e idealistas, com projetos de Brasil novo e grande para toda a população

  2. Parabéns Sérgio Moro! A grande maioria dos brasileiros que não são petistas nem aliados bajuladores do Lula, estão com você, Deltan Dallagnol, e demais próceres contra a corrupção. Jamais os abandonaremos. O bem vencerá o mal!

  3. Os nossos juízes de cortes superiores são tremendamente políticos . Nada de isenção e tudo de insegurança jurídica

  4. É o maldito ""mecanismo"" se contorcendo e esperneando na perseguição implacável contra OS HERÓIS DA LAVAJATO!!!! Motivos: 1) os condenados e descondenados são marginais selvagens, sem caráter, bandidos vocacionados, sanguessugas contumazes e parasitas oportunistas; 2) carregam nas costas as respectivas capivaras kilométricas de crimes c/ tramitação ainda Ñ finalizada e estão moooorrrrtoooossss de medo do *revertério* que fatal e indubitavelmente virá como punição de suas condutas criminosas!!!!

  5. Essa pergunta é absurda! Só mesmo num país extremamente corrupto como o Brasil, tal hipótese pode vir à tona. Entretanto, por ironia do destino e devido à extrema corrupção aqui grassante, um dos maiores corruptos do planetea Terra, saiu da prisão, teve seus direitos políticos rehabilitados e está na Presidência da República! Com os bilhões de reais roubados comprou todos os corruptos, pagou advogados caríssimos e conseguiu sair da merecida jaula. O grande Sérgio Moro é herói nacional!

  6. Lula jamais aceitará a absolvição de Moro. Isso seria a maior derrota para sua vida. Mas, para quem sonha com a venezuelização do Brasil ele está no caminho certo. E o povo que fez o L está com seu Lulapai e estará ao seu lado. Basta ver que ainda tem temos a picanha e a cervejinha mas os pobres diabos continuam confiando nele.

  7. O povo brasileiro sabe bem quem é Lula, sabe bem o que é mensalão, o que é petrolão, o que é Dilma, Dirceu e roubalheiras na Petrobrás. O povo brasileiro sabe também quem é Sérgio Moro que, antes de ser candidato a Presidência da República, já tinha uns 10% de aprovação. O mundo dá muitas voltas e as coisas podem mudar, então toda ajuda é bem vinda. Se forem inteligentes, Os que atuam contra Sérgio Moro deveriam pensar melhor e não esticar tanto a corda!

  8. Se o TSE fosse composto de criaturas decentes deveriam declarar inconstitucional o item "divulgação da atividade parlamentar" que é uma das despesas possíveis que podem ser pagas com a Cota Parlamentar. Isto dá vantagem desleal para os que disputam a reeleição.

  9. Os poderes constituídos não podem atuar em uníssono contra o povo brasileiro. Mais dia, menos dia, a casa cai e os erros serão questionados e então os que erram e erraram, poderão ter que pagar por isso!

  10. Graças à Musk, a opinião de líderes mundiais começa a aparecer e aí, as consequências serão muito danosas para o Brasil.

  11. Se o amigodoamigodomeupai pai cuja mulher é advogada,do julgado pelo próprio,não é questionado ,que raios de justiça é essa?

  12. O bando no poder quer vingança e sangue ... os tribunais superiores totalmente aparelhados não tem condições de julgar Moro com a devida isenção, mas aguardemos.

  13. Moro será condenado. Ponto pacífico. Mas não será por vingança, como muitos pensam. Será para demonstrar a quem interessar possa que o sistema está cada vez mais forte e estabelecido. Para manter os privilégios, a corrupção e o poder como os pilares dessa república. É uma medida de prevenção contra a ética e a honestidade.

  14. Os FDP querem cassar Moro usando as diferentes fases da Lua como argumehnto. Olhemos as coisas como de fato são: Lula junto com Dilma, Dirceu, a petralhada toda, mancumunados com as construtoras corruptas, comprovadamente, irrefutavelmente, roubaram bilhões e bilhões de reais do nosso povo. Roubaram em todas as estatais, órgãos públicos, BNDES, bancos, Petrobrás, Pasadena, obras no Brasil e no exterior , etc. Bolsonaro, burro, ajudou a soltar Lula, junto c advogados, Prerrogativas, etc.

    1. É isso mesmo. Assim como o STF e toda a corja que está no poder atualmente.

    2. EXATAMENTE!!! E não há nenhum setor ou instituição nesse país que dê um jeito nessa safadeza desmesurada. E cadê o povo que não vai pra rua rodar a baiana? Quando acordar já será tarde.

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