ReproduçãoSoldados das Forças de Defesa de Israel na Faixa de Gaza: impasse no campo de batalha

Seis meses depois

Na guerra entre Israel e o Hamas, vale o bordão de Dilma: nem quem ganhar nem perder, vai ganhar ou perder, vai todo mundo perder
12.04.24

Passaram-se seis meses desde o ataque terrorista do Hamas de 7 de outubro, que resultou em 1.200 mortos e cerca de 250 reféns. A guerra entre Israel e esse grupo terrorista, decorrente do atentado, alterou a política israelense e a palestina, além de mudar o cenário geopolítico do Oriente Médio. De uma maneira geral, todos os que se envolveram no conflito estão mais fracos agora do que há seis meses. Além disso, aqueles que poderiam tirar algum proveito da guerra, como a oposição israelense ou a Autoridade Palestina, não tiveram a oportunidade de executar seus planos.

Israel estima que mais de 250 soldados israelenses foram mortos em combate e que 130 reféns continuam em Gaza. Não é possível afirmar quantos deles ainda estão vivos. Nem o Hamas sabe. Nesta semana, os terroristas afirmaram não serem capazes de dar prova de vida de 40 reféns para iniciar um processo de cessar-fogo, que envolveria a libertação de 900 palestinos presos em Israel.

Do lado palestino, não há dados consolidados e críveis sobre mortes, menos ainda sobre feridos ou desalojados. Um relatório do think tank americano The Washington Institute for Near East Policy estima que o número de mortes possa ser superior aos 30 mil que o Hamas usa em sua propaganda. Mas, segundo esse centro, a maioria dos mortos seria de homens, incluindo muitos terroristas, e não mulheres e crianças, como tenta emplacar os terroristas.

Todas as forças políticas envolvidas na guerra em Israel e Gaza têm algo em comum ao final do primeiro semestre do conflito. Nenhuma está melhor hoje do que estava antes de 7 de outubro. Algumas registraram perdas humanas, outras também tiveram prejuízos materiais ou desgaste político.

Abaixo, uma recapitulação dos principais envolvidos no conflito e um resumo sobre como a situação deles se alterou:

 

Governo de Benjamin Netanyahu
Antes do ataque terrorista de 7 de outubro, o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu enfrentava manifestações massivas por causa das reformas que estava impulsionando, como a de reduzir a independência da Suprema Corte. Nessa época, pesquisas apontavam que 70% dos israelenses queriam a renúncia do primeiro-ministro, que conseguia se manter no poder graças ao apoio de partidos religiosos e de direita radical. Os atentados e a falha dos serviços de inteligência quebraram a propaganda de Netanyahu de que ele seria a melhor pessoa para proteger a população. A quantidade de pessoas que acham que ele deveria renunciar não se alterou tanto: 71%. A diferença é que, se novas eleições ocorrerem, o partido de Netanyahu, o Likud, estaria longe de alcançar a maioria para formar um governo. Nas atuais pesquisas, a coalizão de Netanyahu teria apenas de 47 das 120 cadeiras do Parlamento, o Knesset. A oposição, por outro lado, poderia ter 67 cadeiras.

 

Oposição israelense
Ao se ver em apuros, Netanyahu se aproximou da oposição. O governo montou um gabinete de guerra com quase todos os líderes rivais. Seus principais líderes, como Benny Gantz, têm insistido para que eleições parlamentares sejam convocadas. Contudo, para isso acontecer, seria necessário que os partidos que dão apoio a Netanyahu o abandonassem. Apesar de desavenças entre Netanyahu e os líderes religiosos e da direita radical que integram a sua coalizão — por causa de novas regras sobre o recrutamento de ultraortodoxos para servir às Forças Armadas — o apoio ao primeiro-ministro em sua base parlamentar permanece.

 

Hamas
Quando desferiu o ataque a Israel, o Hamas controlava a Faixa de Gaza e contava com 30 mil membros. Desde o início da guerra, os terroristas perderam efetivo, armas e território. Segundo Israel, 13 mil terroristas foram mortos entre 7 de outubro e o início de março. Pesquisadores israelenses estimam que até 80% do arsenal do Hamas foi destruído nos seis primeiros meses, incluindo quase todo o estoque de foguetes. Quanto ao território, os terroristas perderam o controle da capital e de toda região norte da Faixa de Gaza. Também perderam lideranças. Em janeiro, um ataque israelense matou Saleh al-Arouri, então vice-líder do escritório político do Hamas e fundador do braço militar dos terroristas, as Brigadas Al Qassam. Quando um novo governo for estabelecido na Faixa de Gaza, o Hamas estará fora do jogo.

 

Autoridade Palestina, AP
A entidade criada pelos Acordos de Oslo para governar a Cisjordânia e a Faixa de Gaza continua sendo tão rejeitada pelos palestinos como antes. Mas, na falta de outra organização que se voluntarie para assumir o território em ruínas da Faixa de Gaza, a AP voltou a ganhar alguma proeminência. Estados Unidos e União Europeia precisam que a AP exerça o seu papel. Aproveitando essa fase, a AP tem voltado a pedir uma promoção na ONU de “Entidade não membro observadora” para “Estado não membro observador“. Ao mesmo tempo, aumentaram as pressões para que a AP faça uma eleição. Mahmoud Abbas, o atual presidente, está no cargo desde 2005. Seu mandato deveria expirar em 2009.

 

Joe Biden
O presidente americano deu total apoio a Israel no início da guerra. A aproximação das eleições deste ano levou Biden a dar declarações para apaziguar o eleitorado democrata, que critica a guerra de Israel na Faixa de Gaza. O conflito vem desgastando o presidente com o eleitorado jovem americano, alguns dos quais começaram a fazer campanha pelo voto nulo. Com aprovação abaixo dos 40% e o favoritismo de Donald Trump nas pesquisas, Biden passou a pressionar Netanyahu, em especial após a morte de sete ativistas da ONG World Central Kitchen, WCK. Um dos mortos era americano. Apesar disso, no Conselho de Segurança da ONU, os americanos vetaram três resoluções por cessar-fogo. O apoio militar e a troca de informações de inteligência não cessaram.

 

Irã
Foi o regime teocrático do Irã que incentivou o Hamas a conduzir o ataque contra Israel. Quando a guerra começou, os aiatolás iranianos ordenaram que os grupos terroristas treinados e financiados por eles (Hezbollah e Houthis) atacassem alvos israelenses e americanos. Em contrapartida, ofensivas israelenses na a Síria resultaram na morte de duas autoridades da Guarda Revolucionária Iraniana: Mohamad Reza Zahedi, em abril, e Seyyed Razi Mousavi, em dezembro. Com o Hamas destruído na Faixa de Gaza, o Irã está buscando criar problemas para Israel na Cisjordânia, contrabandeando armas para grupos palestinos nessa região. O país, contudo, evita um confronto direto com Israel, pois uma guerra maior poderia levar à queda do regime islâmico.

 

Hezbollah
O grupo terrorista libanês Hezbollah ajudou na preparação do Hamas para cometer o atentado de 7 de outubro. Em solidariedade aos terroristas palestinos, o Hezbollah já lançou mais de 4 mil mísseis contra o norte de Israel. O arsenal, contudo, continua gigantesco: mais de 150 mil foguetes. Os terroristas também não tiveram muitas perdas humanas. Menos de 300 membros do Hezbollah morreram nesta guerra.

 

Houthis
A milícia xiita iemenita chamava pouca atenção do Ocidente até outubro do ano passado. Estava mais envolvida no conflito interno do país e em ataques contra a Arábia Saudita. Estimulados pelo Irã, os Houthis entraram na guerra oficialmente em 31 de dezembro, quando reivindicaram um ataque a drones e mísseis contra Israel. Eles também passaram a realizar ataques quase diários a navios cargueiros, atrapalhando o fluxo comercial no Mar Vermelho. Em janeiro, os Estados Unidos designaram os Houthis como organização terrorista.

 

ONU
Assim como a invasão russa da Ucrânia, a guerra entre Israel e o Hamas expôs a incapacidade da Organização das Nações Unidas de agir em conflitos militares. As quatro primeiras resoluções de cessar-fogo votadas no Conselho de Segurança foram derrubadas por vetos de membros permanentes. A quinta, que foi aprovada e teria tido efeito na virada de março e abril, foi ignorada pelo Hamas. A ONU também perdeu credibilidade após a revelação de laços entre o grupo terrorista e diversos funcionários da Agência para os Refugiados Palestinos, a UNRWA, que participaram do atentado do 7 de outubro.

 

Brasil
O maior impacto da guerra sobre o Brasil, nos primeiros seis meses, se deu na imagem internacional de Lula. O maniqueísmo lulista entrou em cena em fevereiro, quando o presidente comparou as operações israelenses em Gaza pós-7 de outubro ao Holocausto de judeus na Segunda Guerra Mundial. A declaração rendeu semanas de crise diplomática com Israel e críticas de autoridades de outros países, como Estados Unidos e Alemanha. Após algumas semanas baixando a poeira, Lula voltou a provocar repúdio no início de abril. Desta vez, ele afirmou que mais de 12 milhões de crianças palestinas teriam morrido durante a guerra. A população da Faixa de Gaza é em torno de 2 milhões.

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  1. Gostei muito desse seu artigo. Ajudou-me entender melhor cada um dos lados, especialmente alguns que não aparecem com destaque na mídia. E o que se vê é, com certeza, todos perdendo.

  2. O Hamas terá amplo manancial humano para voltar a recrutar de futuro. Esse ciclo de violência ininterrupta tem o condão de perpetuar os desejos de vingança e, consequentemente,o conflito. Além disso ele conseguiu abalar muito a imagem de Israel no cenário internacional. O financiamento não vai parar e seus líderes políticos seguem confortáveis no Qatar, tendo a medalha de honra do ataque para se vangloriar para sempre. O Hamas não está no prejuízo, infelizmente

  3. À morte de mais de 30.000, a grande maioria não pertencente ao Hamas, soma-se os danos materiais. Em torno de 98.000 edifícios podem ter sofrido danos, conforme análise de dados de satélite feito por universidades americanas

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