IRNAO líder supremo Ali Khamenei vela os corpos dos mortos em acidente de helicóptero no Irã

O Oriente Médio em dois fronts

Morte de presidente do Irã e pedido de prisão do primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, deixam os dois países mais preocupados com seus próprios problemas
23.05.24

O Oriente Médio tem passado por acontecimentos raros ou inéditos nos últimos meses. Um acidente de helicóptero matou o presidente do Irã, Ebrahim Raisi, e afetou o processo de sucessão do líder supremo — será a segunda transição desde a Revolução Islâmica, de 1979. Em Haia, na Holanda, o procurador Karim Khan do Tribunal Penal Internacional, TPI, pediu a prisão do primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu. Esses fatos trazem consequências imprevistas, mas, ao desviar a atenção desses dois governos para outras questões, eles ao menos têm o efeito de reduzir as chances de um conflito entre eles.

Em abril, Israel e Irã estiveram muito perto de uma guerra aberta. No dia 13, os iranianos dispararam centenas de drones, mísseis balísticos e de cruzeiro contra Israel. Quase todos foram interceptados. A resposta israelense demorou seis dias e veio na forma de um bombardeio a um sistema de defesa antiaérea, no centro do Irã. Foi uma maneira de mostrar para a teocracia xiita que Israel tem a capacidade de acertar alvos no território inimigo. As tensões não escalaram e a chance de isso ocorrer agora são ainda menores.

No Irã, as energias agora estão todas voltadas a garantir uma transição de poder sem surpresas no cargo de líder supremo. É esse o posto que importa, pois comanda a linha de produção da bomba atômica e a Guarda Revolucionária, a tropa de elite responsável pelo financiamento e treinamento de grupos terroristas no Oriente Médio. O atual líder supremo, Ali Khamenei, assumiu em 1989. Ele está com 85 anos e já teve vários problemas de saúde, como câncer de próstata. Raisi, que morreu em um acidente de helicóptero no domingo, 19, era a pessoa que tinha sido escolhida para substituir Khamenei. Esta semana, o vice de Raisi, Mohammad Mokhber, assumiu interinamente, enquanto um novo presidente deverá ser eleito até o início de julho.

O regime então precisa encontrar outro presidente, tão fiel quanto Raisi, que possa em breve assumir o posto de líder supremo. Além de ser um seyed, religioso considerado descendente de Maomé que usa o turbante preto, Raisi tinha muito trânsito na Guarda Revolucionária e entre os militares. Era ainda um linha dura, que mandou milhares de prisioneiros para a forca, supervisionou torturas e a repressão a mulheres. “Acredito que Khamenei queira que a presidência continue com alguém similar a Raisi”, diz Arash Aziz, historiador da Universidade Clemson, nos Estados Unidos.

As candidaturas à presidência no Irã precisam ser aprovadas por um conselho de clérigos nomeados pelo líder supremo. Na prática, Khamenei escolhe quem pode concorrer. Nas eleições de 2021, vencidas por Raisi, todos os outros homens que tinham alguma popularidade foram barrados. O caminho, assim, tinha sido deixado livre para Raisi, o indicado por Khamenei. Por ser um jogo de cartas marcadas, a participação foi de apenas 49% em 2021, ante 73% no pleito anterior. A eleição municipal em Teerã, que ocorreu uma semana antes do acidente aéreo, chegou a incríveis 8% de participação.

Israel, por outro lado, segue imerso em uma guerra que parece infindável contra o grupo terrorista Hamas, na Faixa de Gaza. Além disso, está em uma batalha diplomática para manter o apoio externo, principalmente dos Estados Unidos.

Menos de 24 horas após a morte de Raisi, no Irã, o procurador-chefe do Tribunal Penal Internacional protocolou um pedido para um mandado de prisão contra o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, pelas operações militares na Faixa de Gaza, no âmbito da guerra ao Hamas. Um painel de juízes ainda avaliará o caso. Netanyahu, seu ministro da Defesa, Yoav Gallant, e três chefões do Hamas são acusados de crimes de guerra e de crimes contra a humanidade.

Se o mandado for de fato emitido — a decisão deve levar cerca de dois meses — Netanyahu não poderá pisar em qualquer um dos 124 Estados signatários do Estatuto de Roma, que criou o TPI. Caso faça isso, poderá ser extraditado para Haia para se defender da acusação. Na terça, 21, o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, fez uma declaração dos jardins da Casa Branca de apoio a Netanyahu. O americano descreveu o pedido de Khan como “ultrajante” e afirmou que não há “nenhuma equivalência entre Israel e Hamas”. Os Estados Unidos não são signatários do Estatuto de Roma.

Mesmo assim, um mandado de prisão pode enfraquecer o chefe de governo em Israel. Nesta semana, Espanha, Noruega e Irlanda anunciaram que vão reconhecer o Estado palestino, o que é uma forma de pressionar diplomaticamente Netanyahu a pensar num plano para o pós-guerra na Faixa de Gaza. O Hamas, que matou 1.200 israelenses no dia 7 de outubro, comemorou o anúncio.

As perturbações às lideranças de Irã e Israel nesta semana, contudo, não sinalizam para alterações importantes nas hostilidades entre os dois maiores rivais geopolíticos do Oriente Médio. Enquanto as lideranças e as disputas pelo poder se embaralham um pouco, nada de novo no front.

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  1. Estado Palestino tem que ter, é uma reivindicação 100% legítima. Terrorismo e destruição de Israel é que não. Pau no Hamas!

  2. Irã irá selecionar e dar ao povo para eleger o próximo carniceiro revelado no período de purga pós revolução. Nada mudará naquele país com ou sei Raisi

  3. Ótimo artigo! Algum novo "malvadão e intolerante" será escolhido para o cargo! Não tá fácil para o povo iraniano...

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