Cláudio Kbene/divulgação/PRJanja adota cachorra em Canoas: esforço para ganhar visibilidade e engajamento

A mãe dos bichinhos pobres

O janjismo é o futuro do lulismo, ou o seu crepúsculo
24.05.24

O presidente Lula adotou a ideia de “pai dos pobres” ao tentar sua reeleição em 2006. A intenção era recuperar apoio entre os mais carentes, a classe média e o funcionalismo público, após ter sua imagem arranhada no maior escândalo de compra de votos no Congresso, o mensalão. Deu certo, e Lula conseguiu seu segundo mandato. Agora, na primeira metade do terceiro mandato, o petista investe tempo e recursos para transferir seu capital político para a primeira-dama Janja. A ânsia dela em se promover ficou evidente na tragédia provocada pelas chuvas no Rio Grande do Sul, ao inserir na propaganda estatal o cuidado com os animais. Se Lula era o pai dos pobres, Janja se projeta como a mãe dos cachorros desamparados. Os resultados são incertos. Há quem acredite que o janjismo poderá ser uma alternativa ao lulismo no futuro. Mas, se der errado, também poderá ser o seu crepúsculo.

A operação para promover Janja envolve Lula, os ministros Paulo Pimenta e Waldez Góes, e as Forças Armadas. Desde que mais de 400 cidades foram inundadas no Rio Grande do Sul, Janja já esteve quatro vezes no estado. Nos vídeos publicados nas redes sociais, quase sempre ao som das teclas de piano, ela adota uma cachorra em Canoas, sobrevoa a cidade de helicóptero, carrega pacotes de ração animal, testa purificadores de água e monitora uma fila de dezenas de homens descarregando roupas e cobertores de um helicóptero militar. Em uma foto tirada de dentro do avião presidencial, Janja posa com cestas de doações, organizadas uma em cada assento, com cinto de segurança. Janja chama a cachorra adotada, batizada de Esperança, de “bebê” e de “filha”. Os animais são tratados como “bichinhos”, no diminutivo.

No sábado, 18, Janja compartilhou um vídeo feito pelos ministros Pimenta e Góes — respectivamente, da recém-criada Secretaria Extraordinária da Presidência da República para Apoio à Reconstrução do Rio Grande do Sul e do Ministério do Desenvolvimento Regional. Os dois aparecem com casacos de cor laranja e falam de verbas para os municípios gaúchos garantirem abrigo e alimento para os animais resgatados pelas forças públicas. Em uma declaração ensaiada, Góes agradece, em primeiro lugar, a Janja, mesclando na frase uma menção a Lula. “A nossa querida primeira-dama e o presidente Lula nos determinou (sic) buscarmos uma solução legal, porque cuidar dos animais é cuidar da família”, diz o ministro.

 

Claudio KbeneClaudio Kbene“Hoje, a maioria dos passageiros do avião presidencial tinham um só nome: Solidariedade”, escreveu Janja
 

O estrelismo em meio a uma tragédia natural sem precedentes foi aplaudido pelos seus seguidores nas redes e abominado por todos os demais. De qualquer forma, as publicações descortinaram o tamanho do esforço que há por trás dela. “Essas ações não me parecem ser fruto de uma decisão de governo, que não precisa dela, e sim do presidente. Lula quer dar uma sobrevida ao lulismo, que por ora não tem possíveis sucessores. Então ele promove a Janja, que sempre aparece ao seu lado, em pé de igualdade e com pompa, viajando para vários lugares”, diz o cientista político Bruno Soller.

Para Soller, Janja é a esperança para muitos de renovar os assuntos da pauta de Lula, mantendo o elo que o liga aos seus eleitores mais fiéis. A primeira-dama, assim, poderia trazer uma lufada de ar fresco para um presidente que não consegue se livrar das ideias ultrapassadas baseadas no sindicalismo, no antiamericanismo e no machismo. Durante as enchentes no Rio Grande do Sul, Lula disse que a “máquina de lavar roupa é importante para as mulheres que estão sobrevivendo a um verdadeiro sofrimento e martírio com essa chuva”. Nem passou pela sua cabeça que homens também usam esse utensílio doméstico. “Janja poderia ser um Lula 2.0, ao trazer temas como meio ambiente, saúde animal e respeito às mulheres”, diz Soller.

A execução dessa estratégia tem gerado críticas. O excesso de publicidade individual de Janja nas enchentes foi interpretado como vaidade fora de controle e descaso pela penúria dos gaúchos. Uma pesquisa feita pela AtlasIntel divulgada nesta quinta, 23, mostra que a primeira-dama é a pessoa que mais teria buscado “se aproveitar ou capitalizar politicamente em cima da crise causada pelas enchentes no Rio Grande do Sul“. Quase 50% dos gaúchos concorda que isso ocorreu, enquanto 26% acreditam que ela não tentou.

Um vídeo que não foi gravado pelos assessores da Secom mostra uma cena lamentável. Janja está com uma cachorra nos braços e a entrega para um homem com uniforme verde, que está na rampa de um avião. Ele se afasta, caminhando de costas. Ela então, dando pulinhos e com os braços erguidos, implora pelo animal de volta. O objetivo, segundo os comentários nas redes, seria gravar uma cena dramática para ganhar curtidas. O sofrimento dos demais, assim, não seria mais do que um trampolim para ela ganhar aprovação na internet.

 

Foto: Cláudio Kbene/ Rede Social/ janjalulaFoto: Cláudio Kbene/ Rede Social/ janjalulaA primeira-dama em seu gabinete: necessidade de mostrar influência
 

O cálculo por trás dessas encenações é de que, apesar das críticas feitas por aqueles que não gostam da primeira-dama, toda oportunidade de ganhar visibilidade deve ser aproveitada, porque o retorno será no longo prazo. “O protagonismo de Janja até agora já a colocou como uma das possíveis sucessoras do Lula. Muitos brasileiros a conhecem, mais até do que outros políticos que disputaram eleições. Em engajamento nas redes sociais, ela ganha de Fernando Haddad e de Geraldo Alckmin”, diz o cientista político Leonardo Barreto, sócio da I3P Risco Político e colunista de Crusoé. “Ela faz todo o possível para ser percebida como alguém que tem poder e que influencia nas decisões do governo”, diz Barreto.

No ano passado, Janja já posou para foto despachando em seu gabinete, montado no Palácio do Planalto. Se, no futuro, este governo vier a colher os frutos de uma boa gestão (nada é impossível), ela quer ser lembrada como uma das responsáveis pelo sucesso e, assim, colher votos. “O que importa é que, lá na frente, Janja estará incluída nas pesquisas eleitorais. Quando se notar que ela é mais conhecida e tem mais engajamento que os ministros e os políticos do PT, é claro que ela terá legitimidade para se oferecer como candidata”, diz Barreto. “E, convenhamos, o sucessor de Lula não irá passar por nenhuma plenária. Será alguém escolhido por ele.”

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  1. Só ingênuos não percebem que esta mulher faz tudo para aparecer, passa por cima de ministros e não tem limites !

  2. Está senhora presidente? Está certo que vivemos um caos político, por uma série de problemas (caudilhos que não deixam aparecer lideranças, corrupção desenfreada e garantidamente impune, partidos políticos mortos vivos, imprensa dominada e militante), mas acho que não chegaríamos a tal extremo. .. O povo não é bobo...

  3. Fracassará. A falsidade das sua ações e a caridade em benefício próprio são cristalinas e o povo vê.

  4. Desconheço qualquer iniciativa de Janja para com cuidados aos animais, senão nesta tragédia no RS. Para mim, é óbvio que esse encanto e preocupação com os animais são uma farsa. Mas esperar o que dessa deslumbrada com a vida de estrela?

  5. Tudo pode piorar. Essa senhora é um horror de banal. Será a zdilma 2? Tomara. Aí será o fim dessa erva daninha chamado PT.

  6. A ascensão de marmita de presidiário a primeira dama já foi um horror. A possibilidade de presidir o Brasil? Já não bastou a experiência tenebrosa com a anta? Pobre Brasil, parece que fomos amaldiçoados com os piores políticos do planeta

    1. Quem é Lula para ter uma Michele na vida. Um sujeito grosseiro como ele merece é uma Janja mesmo e olhe lá!!!… Lula é uma besta!!!!

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