Foto: Ricardo Stuckert / PR

Há razões estruturais para a perda de popularidade de Lula?

O PT simplesmente não tem candidaturas competitivas na quase totalidade das capitais
05.04.24

Nova pesquisa do Instituto Paraná publicada em março reforçou a tendência de queda da popularidade do presidente Lula: 48,8% desaprovam sua gestão enquanto 46,6% se sentem satisfeitos. Entre agosto de 2023 e março de 2024, quem classifica o governo como ruim ou péssimo subiu 10 pontos, e quem o entende como ótimo ou bom caiu os mesmos 10 pontos.

O espanto demonstrado pela maior parte dos analistas foi no sentido de tentar explicar como houve queda face os bons números da economia, em especial do emprego. De fato, nesta semana, dados do Ministério do Trabalho mostraram que foram criadas 306 mil novas vagas formais neste mês, especialmente no setor de serviços, o que mais emprega no país.

Em uma primeira análise, publicada aqui mesmo na Crusoé, alertei para a hipótese de que os dados econômicos, embora pareçam bons no agregado, podem esconder realidades mais difíceis. Por exemplo, embora o PIB do ano passado tenha sido forte, ele foi concentrado no primeiro semestre, e a última parte do ano foi de estagnação. Essa avaliação continua valendo.

Entretanto, é preciso agregar uma outra camada de análise neste problema que está ligado à fragilidade do PT e seus significados. Para isso, é necessário olhar o cenário da eleição de prefeitos nas 26 capitais.

O partido sofre crise de popularidade desde 2013. No ano anterior, o PT atingiu o melhor desempenho de sua história com 632 cidades governadas. No ciclo seguinte, em 2016, o número caiu para 254 e em 2020 chegou a 183. Além disso, a agremiação não governa capitais desde 2016.

Em uma primeira olhada nas pesquisas disponíveis, pode ser que esse cenário não mude em 2024. O PT simplesmente não tem candidaturas competitivas na quase totalidade das capitais. As exceções são Goiânia, Porto Alegre, Teresina e Natal, mas sempre em segundo lugar ou empatado na primeira posição com outra candidatura conservadora. Os partidos que mais lideram pesquisas são os conservadores PSD, União Brasil e PL, do ex-presidente Jair Bolsonaro.

Outros partidos de esquerda também performam mal. O PSB é favorito apenas no Recife, com João Campos, o PSOL corre risco de perder Belém para o PL e está empatado em primeiro lugar com o MDB em São Paulo. O PDT está em desvantagem em Fortaleza.

Há pelo menos duas leituras que esses dados podem sugerir.  A primeira é a de que Lula seria como uma árvore enorme com raízes frágeis. Traduzindo para a política, a falta de capilaridade do PT deixa Lula desprotegido, sem ter quem o defenda, obrigando-o a terceirizar esse trabalho para outros partidos com os quais possui uma relação de desconfiança.

A segunda leitura vem da pergunta: como é possível que Lula tenha vencido uma eleição presidencial e o PT continue frágil? Ao exigir solidariedade e fidelidade máxima do PT enquanto esteve na cadeia, Lula pode ter bloqueado a renovação do partido. Talvez isso possa até ter começado antes, quando o partido resolveu assumir todo o ônus do mensalão para proteger a cadeira presidencial, permitindo que Lula seguisse no mandato e virasse o fenômeno de popularidade que virou enquanto lideranças como José Dirceu e José Genuíno foram para o ostracismo.

Ou seja, embora Lula tenha voltado, nem ele e nem o PT se renovaram, tendo dificuldade de se encaixar no momento político atual do país. Por exemplo, é interessante observar a resistência de trabalhadores de aplicativos contra a legislação proposta pelo governo que, em tese, tenta garantir-lhes direitos. Ao amarrar esse novo mercado à velha rede da CLT, Lula conseguiu gerar revolta entre aqueles que ele buscava atrair, mostrando o quão complexo é esse mundo, ainda mais na discussão das relações trabalhistas, que foi a escola do petista.

Nesse sentido, a fraqueza do governo pode ser mais profunda e mais estrutural do que pensam seus estrategistas. Pode não ter tanta relação com o desempenho da inflação, embora essa seja uma variável importante, e ter como pano de fundo uma força política datada e com muita dificuldade de se modernizar.

 

Leonardo Barreto é cientista político e diretor da VectorRelgov.com.br

 

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  1. Os números econômicos são melhores que os esperados ou estimados pelos economistas, o que é muito bom. Porém se avançarmos um pouco na análise, não houve uma medida/ação na área econômica deste governo que justifique estes bons números, Tudo continua como se não houvesse mudança de governo. Reforma tributária, nada andou. Política industrial, ninguém sabe o que é. Novo PAC, repeteco de algum que nunca funcionou. Mas o Brasil é grande e temos o agro. mas

  2. No passado distante, por ocasião do impeachment do Fernando Collor de Melo, certa vez Lula afirmou que o que Collor fez não dava para acreditar, pois um cidadão conquistou o poder e desperdiçou a oportunidade de fazer um bom governo, gerar trabalho e riqueza, trazer melhorias na educação, na segurança e na saúde e, no entanto, se dispos a roubar e trazer a desgraça para o povo. Agora, com o poder nas mãos, 3º mandato, (sem contar Dilma), Lula faz o mesmo que Collor fez! Impeachment já!

  3. O PT com sua ideologia retrógrada, compra apoio distribuindo verbas à torto e à direito, sem critérios de meritocracia, então, na hora de votar, mesmo os que usufruem de sua corrupção, muitos já percebem que esse caminho das esquerdas só levam à ditadura e não trazem o progresso e desenvolvimento. Os quadros petistas, só têm incompetentes e ladrões como Palloci, José Dirceu, Dilma e o próprio Lula. Lula está mais preocupado com vingancinhas e perseguições. É ridículo!

  4. O problema do Brasil é Lula. Um velho que se apoderou do poder comprando apoio com dinheiro literalmente roubado do Tesouro Nacional. Não tem cultura, nem formação mínima para presidir nosso país. Além disso é um tanto burro pois, teimoso, quer remar contra a maré. Seu mau caráter ele divulga aos quatro cantos mostrando para o povo brasileiro e o mundo como ele cultua os maus: Putin, Nicolás Maduro, Miguel Diaz-Canel, Noriega, Xi Jinping, Kim Jong Un, ayatolah do Irã, etc...

  5. As pressões sobre a Petrobras, pra investir localmente em negócios diversos, me faz lembrar a época do Petrolão, reforçando políticas intervencionistas no mercado e casos de corrupção

  6. O PT não acompanhou as mudanças do mundo. Mas, acho óbvio . Eles só tem Lula como referência. Um velho quenao tem cultura e inteligência para buscar/oferecer soluções novas para velhos problemas. Sem contar que ele está abusando nos apoios aos ditadores e terroristas.

  7. A questão é a farsa que é o PT e o Lula. Aqui defendemm democracia, mas apoiam terroristas e ditadores mundo a fora. E mais, o governo é o rosto do atraso, da corrupção e da gastanca sem fim.

  8. Simples e compreensível a queda da popularidade do ditador ... prometeu picanha e entregou sambiquira (khu dê frango) à manezada.

  9. Desde quando ditadores ligam para a opinião de suas vítimas? O Brasil sob a capatazia de Lula se tornou o ridículo do mundo a apoiar ditadores e a sob deslumbre beijar o rabo infecto do Macron ... é a glória !!!

    1. Até agora quem governou foi o ódio. Descondenam criminosos condenados em 3a Instância e condenam manifestantes a até 17 anos por discordarem do resultado das urnas

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