Prédio tombado após forte terremoto em Taiwan.Terremoto em Taiwan: infraestrutura evitou catástrofe - Foto: Shufu Liu/Via fotos Públicas

As virtudes de Taiwan

O país produziu uma sociedade virtuosa, aberta e moderna em pouco tempo, mesmo com a sombra das ameaças da China, que insiste em desafiar sua soberania
04.04.24

Taiwan voltou ao noticiário nos últimos dias por ter sido vítima de um terrível terremoto que tirou a vida de ao menos oito pessoas, ferindo 800 e deixando ao menos 120 presas. O sismo de magnitude de 7,2 abalou a cidade de Hualieng, no nordeste do país. O número reduzido de vítimas fatais, entretanto, mostra a excelente estrutura na capital e principais cidades, baseada em tecnologia de ponta, protegendo a população de um abalo que poderia ter produzido um enorme desastre.

Esse evento mostra como o país produziu uma sociedade virtuosa, aberta e moderna em pouco tempo, capaz de proteger-se de catástrofes naturais, mesmo com a sombra das ameaças de um vizinho continental que insiste em desafiar sua soberania. Estamos falando de um país que optou por criar um modelo de sociedade baseado nos pilares da democracia, produtividade, inovação, educação universal de ponta e amplo comércio exterior sem restrições ou amarras, servindo como poderoso motor para impulsionar a economia.  

As lições trazidas por este modelo são diversas e deveriam ser observadas pelo Brasil. Taiwan, que possui um território menor que o estado do Rio de Janeiro, possui crescimento de país emergente e produtividade de país desenvolvido,  sobressaindo no campo econômico. Nos últimos 30 anos, o PIB per capita, em dólares, cresceu 220% (4% ao ano), comparado a 2,5% ao ano da Europa. Em valores absolutos, a produtividade é quase três vezes maior que a da China continental e aproxima-se de patamares europeus. Além disso, a ilha ocupa altas colocações em diversos rankings internacionais:

  • 12º lugar no ranking de competitividade do World Economic Forum 2019.
  • 11º lugar no Índice de Liberdade Econômica da Heritage, à frente dos EUA (17º), Japão (30º), França (64º) e Brasil (143º).
  • 3º melhor destino para investimentos, de acordo com o Business Enviroment Risk Intelligence 2020, atrás da Suíça e da Noruega.
  • 15º melhor país para se fazer negócios, no ranking do Banco Mundial.
  • 18º melhor ambiente empresarial, segundo a The Economist.

A proporção de empresas de tecnologia na bolsa é de quase 60%, batendo com facilidade o Brasil, com a apenas 1%, Europa, com tímidos 7%, e até os EUA com 37%. A alta representatividade é impulsionada pela TSMC, maior empresa de semicondutores do mundo, avaliada em mais de 400 bilhões de dólares. Para se ter uma ideia, a empresa produz 54% dos semicondutores do planeta, seguida pela Samsung, com 17% de fatia de mercado. A tecnologia taiwanesa está presente em nossos smartphones, televisores, videogames e computadores, o que significa que todos carregamos um pouco de Taiwan todos os dias.

Taiwan possui alta conectividade. De seus mais de 23 milhões de habitantes, 86% possuem acesso móvel (celulares e tablets) à internet, ficando em 3º lugar no ranking asiático, atrás apenas de Japão e Coréia do Sul. Além disso, o número de páginas acessadas per capita é o maior da região, ou seja, sua população é altamente engajada no consumo de conteúdo online. Um total de 90% dos lares possui conexão web e 99% da população é alfabetizada.

O país asiático é o 5º do mundo em volume de reservas de moeda estrangeira, com mais de 4 trilhões de dólares. Taiwan é também altamente desalavancada, com um índice dívida/PIB de 32% (contra 135% dos EUA e 240% do Japão), assegurando o cumprimento de suas dívidas e plena estabilidade fiscal.

E tudo isso é feito dentro de um regime democrático. Taiwan é uma democracia semipresidencialista com sufrágio universal. O presidente atua como Chefe de Estado e a Assembleia Nacional serve como órgão legislativo. A 16ª eleição presidencial e vice-presidencial foi realizada em janeiro de 2024, com uma taxa de participação de 71,35%. William Lai, do Partido Democrático Progressista, foi eleito presidente com 40% dos votos.

O Brasil possui relações comerciais relevantes com Taiwan, sendo o seu maior parceiro comercial na América Latina e Taiwan é um dos principais parceiros econômicos do Brasil na Ásia. Nossos principais produtos de exportação para a ilha são minério, soja, milho, madeira, aço, algodão, couro e granito. De lá chegam equipamentos elétricos, equipamentos de registro, LCD, produtos siderúrgicos e produtos de plástico.  O Brasil é o décimo oitavo maior parceiro comercial de Taiwan. Há um mundo ainda inexplorado para muitas parcerias avançarem. 

Por exemplo, Taiwan é um grande mercado consumidor de café, que movimenta cerca de  2,5 bilhões de dólares e possui aproximadamente 4.500 cafeterias. Esse é só um exemplo do potencial de parceria em um setor. Durante minha gestão como Diretor da Apex-Brasil, sempre enxerguei Taiwan como um excelente parceiro comercial. Como sempre digo, democracias gostam de democracias. 

Aqui um tema importante. Taiwan é um país que realiza investimento direto estrangeiro não predatório e sem contrapartidas políticas escondidas, ao contrário de outros parceiros comerciais altamente badalados em nosso país. O resultado foi o aporte de recursos de qualidade, aqueles necessários para nosso país, que geram inovação, empregos e recursos no longo prazo. Excelentes exemplos foram a chegada de empresas do porte da Foxconn, ASUS, Compal, Acer, AOC International, Gigabyte Technology, D-Link, Micro-Star International entre tantas outras.

O sistema de proteção desenhado e implementado por Taiwan diante de possíveis catástrofes naturais foi responsável por salvar milhares de vidas e preservar de forma segura a infraestrutura do país, mantendo sua economia e fluxos comerciais intactos. Taiwan e Brasil devem estreitar ainda mais os laços e aprofundar a cooperação bilateral, principalmente nos segmentos de economia, cultura e tecnologia, aprofundando o relacionamento entre os dois países. Estamos diante de uma ilha de prosperidade e oportunidades que deveria ocupar posição de destaque no radar comercial de nosso país.

 

Márcio Coimbra é CEO do Instituto Monitor da Democracia e ex-diretor da Apex.

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  1. Lula não quer ser feliz. Prefere ir contra todas as formas de progresso: liberdade, imprensa livre sem censura, judiciário independente e não politizado, desestatização, livre iniciativa, não interferência na economia, corte de gastos, transparência. Lula adora falar em público, pena que só fala bobagens. Lula, pense: Por que a Tesla e a Nvidia surgiram e se desenvolveram tanto nos Estados Unidos? E antes, a Ford, a GM, a Chrysler, a Apple, a Microsoft, a IBM, a Intel, o Google, Facebook, etc...

  2. Está aí o caminho das pedras! Infelizmente as esquerdas, os imbecís, Lula e petistas são contra ótimas escolas, trabalho duro, ciência e ficam aí no nhenhenhém. Lula dá o exemplo, não é sério, viaja muito e não sabe onde gastar seu tempo pelo qual pagamos regiamente, à toa. o imenso Brasil tem riqueza mineral, população maravilhosa, locais lindos, beleza natural, flora e fauna. Mas não, após 4 mandatos no poder, Lula insiste em andar para trás, sem saber o caminho das pedras como mostra Taiwan.

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