Flickr/Tribes of the WorldMulheres fotografam seus filhos na Arábia Saudita

Um novo olhar para o Oriente Médio 

Desde que comecei a trabalhar no mercado, em 1958, já acompanhei diversas guerras entre israelenses e seus vizinhos árabes
30.11.23

Como todo mundo sabe, nas primeiras horas do sábado dia 7 de outubro, o grupo palestino Hamas atacou o sul de Israel, matando mais de mil pessoas.

Além disso, os terroristas levaram para a faixa de Gaza, território que dominam, 239 reféns, incluindo mulheres, crianças e idosos.

De uma coisa, os líderes do Hamas tinham certeza: Israel iria retaliar. E eles costumam fazer isso na proporção de um israelense para dez palestinos.

Suponho… suponho, não, tenho quase absoluta certeza de que eles pensavam que os irmãos islâmicos viriam em socorro do Hamas quando as FDI (sigla para Forças de Defesa de Israel) iniciassem a incursão em Gaza.

Comecemos pelo Irã, que nutre profundo ódio por israelenses.

O país dos aiatolás poderia ajudar o Hezbollah, grupo terrorista baseado no Líbano, fornecendo armas, munições e até mesmo voluntários.

Talvez os iranianos até tivessem feito isso. Só que o Hezbollah, que é muito mais poderoso que o Hamas, não tomou nenhuma atitude de monta contra Israel, com exceção de umas pequenas escaramuças de fronteira.

Caso tivessem atacado os israelenses, estes passariam a ter uma guerra em duas frentes e teriam de deslocar parte de sua força militar para a fronteira com o Líbano.

Com o Egito, o Hamas não poderia contar. Há anos que os diferentes governos do Cairo mantêm relações amistosas com Israel, política iniciada em 19 de novembro de 1977, quando o presidente egípcio Anwar Sadat fez uma visita histórica ao Estado judeu, tendo feito um discurso no Knesset, o Parlamento israelense.

A Jordânia desistiu de combater Israel desde sua derrota na Guerra dos Seis Dias, ocasião em que perdeu para os israelenses a Cisjordânia.

A Síria, que atacou, com o Egito, Israel na Guerra do Yom Kippur, em outubro de 1973, está totalmente imersa em sua guerra civil, que já dura doze anos, e não tem o menor interesse em lutar contra os israelenses para defender o Hamas.

Sobra a grande potência econômica (e crescente potência militar) da região. É evidente que estou me referindo à Arábia Saudita.

Antes de bombardear e invadir Israel, em 1973, egípcios e sírios pediram autorização ao rei Faisal, monarca da península, cujo papel na guerra foi o de embargar petróleo ao Ocidente.

Ou seja, tudo indica que o Hamas entrou nessa guerra sem medir as consequências. Sua única vitória, se é que podemos classificá-la assim, é o crescimento de um sentimento antissemita em diversos países, provocado principalmente pelo bombardeio na faixa de Gaza e pelo morte de civis inocentes, também eles dominados pelos Hamas.

Desde que comecei a trabalhar no mercado, em 1958, já acompanhei diversas guerras entre israelenses e seus vizinhos árabes.

Em algumas delas, as bolsas de valores sofreram fortes quedas e o preço do barril de petróleo disparou.

Desta vez, o mercado petrolífero apresentou ligeira alta, no início do conflito, mas logo depois se acomodou.

No mundo dos sonhos, e apenas no mundo dos sonhos, o melhor que poderia acontecer seria Israel obedecer a resolução 242 do Conselho de Segurança da ONU, que determinou que os limites do Estado judeu retroagissem às fronteiras anteriores à Guerra do Seis Dias (1967).

Em contrapartida, os países árabes reconheceriam o estado judeu e selariam um acordo de paz definitivo.

Só que Israel jamais devolverá aos árabes a parte leste da cidade de Jerusalém, pois é lá que fica o Muro das Lamentações, um dos locais mais sagrados da religião judaica.

Na fronteira com a Síria, ficam as colinas de Golan, também subtraídas dos sírios na Guerra dos Seis Dias.

As colinas têm uma importância estratégica tão grande que são chamadas de “Os olhos de Israel”.

Voltando a falar da Arábia Saudita, o país é o mais influente da região e experimenta grandes avanços conduzidos pelo príncipe herdeiro, Mohamed bin Salman, que é quem manda no país.

Salman é sempre lembrado como sendo o monarca absolutista que ordenou o assassinato e posterior esquartejamento do jornalista saudi-americano Jamal Khashoggi, do Washington Post, no consulado saudita em Istambul.

Mas há outras coisas no príncipe que precisam ser levadas em conta.

Ele está promovendo diversas medidas modernizadoras na Península, entre elas a permissão para que mulheres possam dirigir automóveis e a visita de turistas ao país (antes só podiam entrar muçulmanos que iriam fazer peregrinação a  Meca e profissionais contratados por empresas sauditas).

Já existem na Arábia Saudita condomínios fechados (exclusivos de estrangeiros) nos quais as mulheres nadam e tomam sol de biquíni.

Agora, em dezembro, o país promoverá o Campeonato Mundial de Clubes da FIFA.

Como se não bastasse, é lá que será realizada a Copa do Mundo de 2034.

Tenho a impressão de que Mohamed bin Salman está querendo se tornar o novo Mustafa Kemal Ataturk, o estadista que fundou o Estado Turco Moderno.

Por essas e outras razões, os diversos mercados relegaram a guerra Israel-Hamas a um segundo plano.

 

Ivan Sant’Anna

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  1. Os países árabes rejeitam a existência de Israel, qualquer que seja o território designado para ele, seja o de 48, 67 ou o atual.

  2. Só fico abismada é em saber que toda essa desgraçada guerra vem de fundamentos religiosos. Como ver religiosidade nisso? Só achei ótimo é saber que os vizinhos de Israel e Palestina não estão preocupados em colocar mais lenha naquela fogueira. Porém, não significa que essa Guerra acabou.

  3. É muita ingenuidade (do articulista) acreditar que Israel devolvendo os territórios conquistados na guerra dos seis dias geraria o reconhecimento dos países árabes. Só em sonho mesmo!

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