Daniel Carvalho: “Napoleão ditou para a posteridade a sua própria visão”

O historiador brasileiro fala sobre as imprecisões do novo filme sobre o imperador francês, que, assinado por Ridley Scott, é impecável esteticamente
01.12.23

Napoleão Bonaparte está agora nas telas de cinema com o novo longa de Ridley Scott. O diretor — que é inglês — escalou o americano Joaquin Phoenix (que interpretou a mais recente encarnação de “Coringa“) para uma obra orçada em 200 milhões de dólares (cerca de 1 bilhão de reais). A mistura não agradou os franceses, que dizem ver um líder fraco e raso retratado nas telas.

E isso entra em conflito não apenas com a história, mas com a figura engrandecedora que ele próprio desenhou.

Napoleão ditou para a posteridade a própria visão de suas conquistas e guerras“, diz o professor da Universidade de Brasília Daniel Gomes de Carvalho nesta edição do Crusoé Entrevistas. “Por isso, cria-se no século 19 e 20 um mito napoleônico, de alguém que saiu do nada e conquistou o maior império desde Carlos Magno.”

O filme, esteticamente impecável, passa de maneira apressada sobre aspectos históricos importantes, quando não erra em fatos reconhecidos. “O próprio diretor assumiu que o filme não é exatamente como nos livros de história“, diz Carvalho. “Mas, mesmo que o diretor não se predisponha a fazer um filme com base nos fatos, é importante que os historiadores digam que Napoleão não bombardeou as pirâmides como mostra o filme, não presenciou a morte de Maria Antonieta e nem saiu da campanha do Egito porque estava sendo traído por Josephine.”

A lista de imprecisões e omissões que ele aponta é extensa, e o professor de história contemporânea não está sozinho nessa. Andrew Roberts, pesquisador inglês da vida do imperador, estimou que, das 2 horas e 38 minutos de filme, apenas 38 minutos seriam de fato fiéis. “No filme, Napoleão era essencialmente um protótipo para Adolf Hitler”, ele escreveu.

Na França, os críticos foram ainda mais ácidos— Joaquin Phoenix é “um pouco vulgar, um pouco rude, com uma voz de algum outro mundo que não se encaixa em nada”, escreveu Thierry Lentz, presidente da Fundação Napoleão ao jornal Le Figaro. Pesou também o fato de que tudo no filme está em inglês, até as cartas escritas pelo imperador.

As incríveis cenas de guerra de Scott, como as de Austerlitz e Waterloo, eclipsam uma figura muito mais complexa que até hoje, 202 anos após sua morte, numa isolada ilha inglesa no meio do Atlântico, molda a psique francesa.

Assista à integra da entrevista:

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